“Dos tantos que me preferem calado, poucos deles falam em meu favor”. Com esse trecho da música “Ok Ok Ok”, de Gilberto Gil, artista homenageado do ano, a Juventude Bronzeada iniciou seu sétimo desfile no Carnaval de Belo Horizonte, destacando a resistência e a persistência necessárias para colocar o bloco na rua em 2020.

O grupo chegou a anunciar o cancelamento do cortejo após ter o carro de som apreendido pelas forças de segurança do Estado, mas, na véspera da festa, que acontece sempre às terças-feiras de Carnaval, conseguiu um novo veículo. “O erro dessas pessoas e desses órgãos é achar que colocar obstáculos no caminho vai nos silenciar. A prova disso é que nunca esse bloco teve tanta voz no Carnaval”, disse o discurso de abertura da Juve.

Para garantir o desfile, o bloco alugou um trio, que tinha a capacidade menor do que a ideal para o tamanho da bateria, composta de 360 pessoas, e do público, fiel e sempre caracterizado com as tradicionais fitas coloridas da Juventude Bronzeada. 

“Colocamos o bloco na rua para, justamente, mostrar que somos resistência. Vamos sempre colocar a voz da Juventude Bronzeada na rua e defender nossas bandeiras”, disse o produtor do bloco, Igor Silva. Na Juve, mulheres, gays e trans ganham força. É “todo mundo junto pelas ruas da cidade, todo mundo junto num só canto de liberdade”, como canta o hino do grupo.

O gerente Lucas Coelho, 38, e o supervisor de suprimentos Márcio Henrique, 30, dizem que gostam de blocos que dão visibilidade às minorias, como o Juventude Bronzeada. Juntos há três anos, eles estão noivos e vão se casar no final de 2020. “A gente tem a liberdade de ser o que é”, disse Márcio.

A fotógrafa Laryssa Mariano, 32, mora em Londres e aproveitou a visita ao Brasil para curtir o Carnaval na capital e apresentar a festa para a filha, a pequena Lily, de 5 meses. “Estou curtindo todo dia, principalmente de manhã, que é mais tranquilo, e não está tão calor. Ela está gostando muito”, contou.