Junto com a casa que caiu no bairro Paulo VI, região Nordeste de Belo Horizonte, deixando cinco pessoas soterradas, desabaram também os sonhos e investimentos de quatro anos da manicure Michele Rodrigues Vieira, de 37 anos. Na mesma estrutura física da casa ficava o salão de beleza que ela administrava junto com a filha, de 19 anos. No momento, a única coisa que Michele consegue fazer é comemorar porque nem ela e nem a filha estavam no local no momento da queda.
Ainda tentando assimilar o ocorrido, a mulher conversou com O TEMPO enquanto observava, mais uma vez, os escombros da casa e também do salão. A notícia de que o estabelecimento dela havia desabado com a casa chegou durante o café da manhã de Natal, na quarta-feira (25).
"A minha amiga, que também é cliente, ligou e falou que tinha caído. Eu nem acreditei, porque não tinha rachadura no nosso lado, não tinha nada. Alguns segundos depois do que aconteceu, eu vim para ver. A gente ficou bem triste, minha filha se desesperou. É um sonho de quatro anos que foi embora assim", lamenta.
Michele estima um prejuízo de ao menos R$ 50 mil, entre materiais de trabalho, cervejeira, cafeteira, móveis, sofá e esmaltes. Mas a empreendedora fica aliviada porque a filha poderia estar no local na hora da queda. Foi a própria Michele que impediu.
"Ela queria trabalhar, mas eu falei 'Você não vai, porque é Natal e a gente não trabalha Natal, a gente já trabalhou até 3h da manhã na segunda-feira e na terça-feira até 20h'. Imagina se ela tivesse aí dentro. A minha menina é meu bem mais precioso", afirma.
Michele ainda não sabe como vai fazer para recuperar tudo que perdeu. Segundo a mulher, nenhum dos itens tinha seguro. "É correr atrás para recuperar", resume.
Vizinhos relatam sinais anteriores de desabamento
Moradores da rua afirmam que a residência que desabou já vinha apresentando sinais de instabilidade na estrutura. Esses sinais teriam começado a aparecer há cerca de três meses. "O pessoal do lado estava ouvindo estalos, vendo farelo de tijolo cair. E antes da queda, eu vi tudo trincado", relata o autônomo Marcelo Guimarães, de 39 anos, que também presenciou o momento da queda e ajudou a salvar algumas vítimas. Ele descreve um cenário de desespero.
"Foi um barulho que parecia de uma bomba, uma granada, e a casa foi abaixo, com uma poeira danada. Não pensamos em mais nada, eu e mais dois colegas socorremos três vítimas, os vizinhos levaram para a UPA e para o hospital, foi adrenalina pura", relembra.
De acordo com vizinhos, as vítimas moravam na casa de aluguel, há uma semana. O TEMPO tentou contato, por ligações telefônicas e mensagem de WhatsApp, com a proprietária da casa para pedir um posicionamento sobre os supostos sinais de instabilidade que a casa estaria apresentando, mas não recebeu retorno. O espaço segue aberto para um posicionamento.