A viagem dos sonhos, planejada por anos, se transformou em um trauma para a influencer mineira Marcela Carvalho. A jovem viveu momentos de terror em Paris ao ter o apartamento alugado pelo Airbnb invadido por criminosos. Marcela foi feita refém com outras três amigas e, além de ser roubada, foi ameaçada de morte e sofreu agressões físicas.

A influencer é conhecida como maquiadora na internet e trabalha em Contagem. Ela foi para Paris sozinha, no início de novembro, para realizar o sonho de conhecer a capital francesa. O crime aconteceu no último dia da viagem, dia 18 de novembro, quando ela já tinha a companhia de outras amigas: “Quase perdi a minha vida”, afirma a mineira.

O local em que a jovem estava hospedada foi invadido por sete homens armados e violentos. Segundo a maquiadora, o apartamento ficava no 5º andar de um prédio e tinha senhas na porta para entrar. As turistas abriram a porta porque estavam aguardando uma outra amiga, que já tinha avisado que “estava chegando”.

“Apanhamos muito, com tapas, socos, chutes e até coronhadas na cabeça. Rasgaram nossa roupa, puxaram nosso cabelo e a todo momento nos mandavam calar a boca. Riam e apontavam armas na nossa cara o tempo todo. Quando entrei em pânico um tentou atirar em mim mas a arma cuspiu uma bala no chão”, relembra Marcela em entrevista ao O TEMPO. Segundo a jovem, o fato de não entender o que os franceses estavam falando também aumentou a apreensão.

Além das agressões físicas e do trauma psicológico, Marcela ainda contabiliza o prejuízo financeiro. Ela e as amigas tiveram os celulares roubados além de dinheiro, documentos, maquiagens, roupas e bolsas de grife. Fotos mostram o apartamento totalmente revirado após a ação dos criminosos.


A falta de apoio em um país estranho

Já de volta ao Brasil, Marcela agora recebe o apoio da família e amigos, mas na França viveu momentos difíceis após o crime, ao se ver sem dinheiro e também por ter que lidar com o descaso das autoridades.

A jovem conta que a polícia francesa foi preconceituosa, e o consulado brasileiro na França também não prestou o apoio devido.

“Eu senti que na França tem muito preconceito com turista. Para eles, a mulher brasileira vai para lá ou para fazer programa ou para roubar emprego de francês. Eu tive que provar tudo, como eu cheguei lá, o meu trabalho, o trabalho dos meus pais, se eu tinha condição de me manter ali”, diz a jovem em relato publicado na internet.

No consulado brasileiro na França, Marcela também teve dificuldades de encontrar apoio. “Fui recebida por um segurança extremamente grosseiro. Disse que eu deveria enviar um e-mail. Pedi para que eu pudesse escrever uma carta de próprio punho, já que eu não teria acesso ao e-mail até minha volta pro Brasil…Depois de muito chorar, uma funcionária disse que poderia apenas me emprestar o telefone para que eu ligasse para minha família, e que no momento não tinham nenhuma verba para o meu caso. Que tudo seria retornado através do contato que eu deixei na carta. Retorno que nunca aconteceu”, denuncia a jovem.

Paulo Vitor Freire, advogado especializado em direito internacional, ouvido pela reportagem, afirma que, em casos como esse, a embaixada tem o dever de prestar apoio ao turista.

“Eles são servidores públicos que têm que prestar serviço para os brasileiros. Desde acompanhamento em delegacia até tradução. Todo esse tipo de apoio tem que ser prestado. Por exemplo, se o passaporte for furtado, ela tem direito de tirar um passaporte de emergência para retornar ao país de origem. ”.

O especialista também orienta quais são os passos que o turista deve tomar caso sofra com a violência no exterior. “Tem uma ordem de coisas que a gente deve fazer. A primeira coisa é ir até as autoridades locais.Tem também muitas delegacias destinadas ao turista. A segunda coisa é contactar a embaixada, consulado brasileiro. É também importante sempre cancelar todos os documentos de identidade e cartões para ninguém praticar crime com seu nome”, explica o advogado.

Alerta ao turista

Para Paulo Vitor, independente do país em que esteja, o turista deve sempre redobrar os cuidados com a segurança:

“Todo turista é visado. Independente se ele é brasileiro, americano ou europeu. Quando somos turistas estamos em situação de visibilidade. É irrelevante se você está indo para Paris, para Tóquio, ou pra Nova York, você tem que se preparar para isso. No sentido de pesquisar, ver onde você está ficando, ver se você está frequentando lugar seguro e sempre ficar esperto”, orienta.

Marcela ainda se recupera do susto e do trauma vivido em Paris, mas afirma que não viajaria sozinha novamente.

“Meu sonho sempre foi conhecer o mundo, então eu jamais diria para alguém não ir. Mas meu conselho para todas as pessoas, principalmente mulheres: estejam sempre acompanhadas de homens. Infelizmente, nunca teremos o privilégio de ter paz e tranquilidade. Fique em hotéis com segurança 24 horas, recepção monitorada e câmeras. Compartilhem a localização com pessoas de confiança, sejam observadores e jamais forneçam informações sobre onde estão hospedados”, desabafa.

O caso da jovem aconteceu dias antes de um fotógrafo mineiro desaparecer em Paris. Morador de Belo Horizonte, Flávio de Castro Souza foi visto pela última vez no dia 26 de novembro, dia em que tinha passagem de volta marcada para o Brasil. Autoridades locais já fizeram buscas em hospitais e necrotérios, mas o brasileiro de 37 anos segue desaparecido.

“Mulheres tem vozes quando são mortas, quando são estupradas, quando são deixadas de lado. Eu tenho certeza que se eu tivesse perdido a vida naquele momento a embaixada estaria lá e a polícia estaria procurando os culpados. E isso não aconteceu”, finaliza a jovem.

Por nota, o Airbnb informou que "leva casos como este muito a sério" e, por isso reembolsou integralmente a reserva. Além disso, frisou que ofereceu suporte à hóspede. "A Central de Ajuda do Airbnb está disponível 24 horas, 7 dias por semana, para ajudar hóspedes e anfitriões".

Já o Itamaraty enviou a seguinte resposta:

O Ministério das Relações Exteriores, por meio do Consulado-Geral do Brasil em Paris, acompanhou o caso e prestou assistência consular às nacionais brasileiras.

Informações sobre as possibilidades de prestação de assistência consular podem ser consultadas em: https://www.gov.br/mre/pt-br/assuntos/portal-consular/assistencia-consular

Em atendimento ao direito à privacidade e em observância ao disposto na Lei de Acesso à Informação e no decreto 7.724/2012, o Ministério das Relações Exteriores não fornece informações detalhadas sobre casos individuais de assistência a cidadãos brasileiros.