INSANIDADE MENTAL

Acusado de matar sargento Dias será avaliado pelo mesmo psiquiatra de Adélio, que esfaqueou Bolsonaro 

Perícia será feita para determinar a saúde mental do réu à época do assassinato, que gerou comoção nacional

Por Gabriel Rezende
Publicado em 21 de maio de 2024 | 22:09
 
 
 

Um dos exames de insanidade mental do homem de 26 anos acusado de matar o sargento Roger Dias, da Polícia Militar, será conduzido pelo mesmo psiquiatra responsável pelo laudo de Adélio Bispo, que esfaqueou o ex-presidente Jair Bolsonaro em setembro de 2018, durante a campanha eleitoral, em Juiz de Fora, na Zona da Mata, em Minas Gerais.

O advogado Bruno Torres, responsável pela defesa do réu pelo assassinato do sargento Dias, protocolou, nesta terça-feira (21 de maio), o pedido de assistente técnico, indicando o médico psiquiatria forense Hewdy Lobo Ribeiro. Também foram indicadas outras duas psicólogas. A equipe conduzirá exames e avaliações do acusado na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. 

O psiquiatria forense Hewdy Lobo Ribeiro foi responsável pelo laudo que identificou transtorno delirante persistente em Adélio Bispo. Com a avaliação, a Justiça Federal considerou Adélio inimputável por esfaquear o ex-presidente.  

Insanidade mental

Segundo o advogado Bruno Torres, o acusado tem reportado episódios de confusão mental. "Relata que ouve vozes, escuta espíritos", conta o representante. A suspeita sobre a sanidade mental do homem ocorreu em meio às investigações do Estado para apurar supostas torturas que ele alegava ter sofrido.

"No âmbito desse inquérito, surgiram esses problemas mentais. Ele está tomando medicações muito pesadas. No próprio relatório psiquiátrico, há relato de quadro paranoico e possível esquizofrenia", detalha. A defesa também apurou que, antes do crime, ele já fazia tratamento no Centro de Referência em Saúde Mental (Cersam) de Belo Horizonte.

A perícia independente pode mudar os rumos do processo criminal envolvendo o acusado, caso a insanidade mental seja reconhecida pela Justiça. Estava prevista, para o fim do mês, a audiência de instrução. O artigo 26 do Código Penal brasileiro trata da inimputabilidade em caso de insanidade mental.

"É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento", diz trecho do artigo.

Também há previsão para redução de um a dois terços da pena se o acusado não for inteiramente capaz de compreender os males que causou. Caso seja reconhecida a insanidade mental, o acusado não poderia cumprir pena na cadeia e deve ser internado para tratamento.

Suposta retaliação dentro da cela

As denúncias de suposta tortura vivida no cárcere pelo suspeito de matar o militar são acompanhadas pela Justiça desde, pelo menos, o dia 8 de março, quando foi deferido o exame de corpo de delito do detento. A defesa do suspeito alega que o cliente teria sofrido retaliações no presídio por parte de policiais penais, o que justificou uma transferência de penitenciária.

Ainda segundo o advogado, policiais militares teriam acessado, durante a madrugada, o presídio Inspetor José Martinho Drumond, em Ribeirão das Neves, onde o suspeito estava detido, e supostamente cometido agressões.Depois, ele foi transferido para a Penitenciária Nelson Hungria. 

"Pegavam o meu cliente, arrastavam ele de madrugada para uma cela isolada, e os outros presos escutavam os gritos de socorro. Fiquei sabendo das agressões por outro preso, que pediu a família dele para entrar em contato comigo”, relatou o advogado Bruno Torres. 

Relembre o caso

O sargento da Polícia Militar Roger Dias da Cunha, de 29 anos, foi baleado durante uma perseguição a dois suspeitos, na noite de uma sexta-feira (5 de janeiro), no bairro Novo Aarão Reis, na região Norte de Belo Horizonte. Ele foi atingido por três disparos. Vídeo de câmeras de segurança flagraram o momento em que o agente é atingido na cabeça. 

Segundo informações da PM, guarnições do 13º Batalhão perseguiam um carro na Avenida Risoleta Neves, quando o motorista teria perdido o controle da direção e batido contra um poste. Após o acidente, os suspeitos desceram do carro e continuaram a fuga a pé.

Um deles foi alcançado pelo sargento. Imagens de câmeras de segurança mostram o momento em que o militar se aproxima do suspeito e dá ordem de parada, mas é surpreendido pelo criminoso, que saca uma arma e atira à queima-roupa contra o policial. Ele estava foragido da prisão, após saidinha de Natal, o que motivou uma discussão sobre o benefício em nível nacional.

O vídeo mostra que o agente cai na sequência. Em seguida, militares chegam ao local e socorrem o colega, que chegou a ser socorrida até o Hospital João XXIII, na região Centro-Sul da capital. Mas, dias depois, teve a morte cerebral confirmada. O militar doou os órgãos.

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