O Hospital das Clínicas da UFMG, administrado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), enfrenta superlotação no seu pronto-socorro. A instituição confirmou que o pronto-socorro tem operado acima da capacidade instalada, com ocupação de todos os leitos, incluindo o uso provisório de macas nos corredores, até que haja liberação em unidades de internação ou transferência para outros hospitais. 

“A sobrecarga no pronto-socorro reflete um desafio que envolve toda a rede pública de saúde, já que a unidade recebe pacientes com quadros graves e complexos encaminhados por diferentes serviços”, afirmou o hospital em nota. O HC-UFMG destacou ainda que tem atuado em conjunto com a rede de regulação municipal para mitigar os impactos da superlotação e garantir assistência qualificada à população. 

Segundo a instituição, o pronto-socorro é voltado para atendimentos imediatos e de urgência e emergência. Por isso, mesmo quando não há leitos disponíveis, os pacientes são acolhidos e recebem assistência conforme protocolos de segurança assistencial. O hospital ressaltou que nenhum paciente fica sem atendimento e que todos recebem acompanhamento das equipes de saúde. 

Na manhã desta quarta-feira (20/8), a reportagem visitou o Hospital das Clínicas da UFMG, onde pacientes relataram demora no atendimento. A aposentada Rafaela Pacheco Campos, de 27 anos, contou ter saído de Rio Manso, na Grande BH, e já aguardava havia duas horas. “Estou com o pé quebrado e muito inchado, e já tenho problema de locomoção. Ainda não fui atendida, me disseram que não tem médico na ortopedia”, relatou. 

Rafaela também disse ter passado por constrangimento na recepção. “Recentemente fiz uma cirurgia na bexiga e meus pontos abriram. Falei com eles sobre isso também. Pediram para eu levantar a blusa ali mesmo, com as pessoas passando e olhando. Podiam ter me levado a um consultório”, afirmou. 

A auxiliar administrativa Fernanda Silva, de 45 anos, relatou que levou o pai, José Fernando de Paula, de 66, para atendimento devido a fortes dores na perna. O idoso é paciente do setor de transplante, de oncologia e passou por uma cirurgia bariátrica há dois meses. Segundo ela, o médico informou que não havia atendimento de ortopedia disponível e orientou a procurar uma UPA ou outro hospital. “Ele não deixou nem fazer a ficha do meu pai. Eu expliquei que sabia que a ortopedia é convocada do ambulatório e que, quando pode, atende aqui. Como meu pai já havia sido atendido, o hospital deveria dar continuidade. Mas o médico disse que não poderia atendê-lo”, relatou. 

Fernanda afirmou ainda que pretende registrar um boletim de ocorrência contra o profissional. “Quero confirmar oficialmente se eles não vão atender meu pai aqui. Caso realmente não atendam, vou levá-lo a outro hospital, mas deixarei o B.O., porque, se acontecer alguma coisa, infelizmente vou processar esse médico”, disse. 

O comerciante José Monteiro, de 58 anos, que trabalha há 15 anos na porta do hospital vendendo café e lanches, disse ter percebido aumento no movimento. “Nas últimas semanas está muito lotado, o dia inteiro. Chegam muitas ambulâncias, pessoas de fora... é superlotação. Mas os pacientes elogiam bastante o atendimento da enfermagem”, afirmou. 

Em nota, o hospital também se posicionou sobre as denúncias feitas pelos pacientes. A instituição informou que um dos casos correspondia a atendimento ambulatorial, e não de urgência e emergência. Além disso, ressaltou que, por não haver leitos disponíveis para internação no momento, o segundo paciente foi encaminhado a outro serviço hospitalar. 

Situação das UPAs 

Dados da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), em julho foram registrados 75.148 atendimentos nas UPAs. Já em agosto, até esta quarta-feira (20/8), foram 46.745 – o equivalente a 2.460 pessoas por dia, ou 102 atendimentos por hora. Em 2025, os principais motivos de procura têm sido problemas gastrointestinais, questões respiratórias, dor lombar e infecção do trato urinário. 

Na UPA Barreiro, uma funcionária que preferiu não se identificar contou que o atendimento estava mais ágil nesta quarta-feira, mas que, desde o início da semana, a unidade tem recebido grande fluxo. “Segunda e terça costumam ser mais cheios, mas hoje também está lotado. Temos tido muitas internações”, disse. 

Uma paciente de 70 anos, que também pediu para não ser identificada, contou que mora em outra cidade e estava em BH para visitar os filhos. “Se fosse na minha cidade, eu já teria sido atendida, pela gravidade do meu caso e pela minha idade. Aqui está muito cheio. Para quem depende de UPA é muito difícil, deveria ter mais médicos e atendentes”, lamentou a idosa, que aguardava atendimento com fortes dores nas pernas e se recupera de uma pneumonia. 

O que dizem as unidades de saúde? 

A reportagem questionou a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) sobre os dados de atendimento e as principais demandas dos pacientes. Em nota, a instituição informou: “A Fhemig atua na atenção de alta complexidade; portanto, atendimentos relacionados a viroses não são nosso perfil assistencial, e sim da atenção básica (centros de saúde e UPAs).” 

Em nota, a PBH informou que, nesta quarta-feira (20), a UPA Barreiro conta com a escala completa, em que 12 médicos estão empenhados no atendimento da população. Entre 7h e 16h, conforme o órgão, foram atendidas 237 pessoas, sendo 183 classificadas como não urgentes. O Executivo municipal enfatizou que em relação à paciente citada, por falta de identificação, não foi possível apurar o caso específico. Neste momento, o tempo de espera para casos classificados como não urgentes é de 1h30.

"As UPAs trabalham com classificação de risco de acordo com o Protocolo de Manchester, que prioriza o atendimento dos pacientes mais graves. Todos os pacientes que procuram esses equipamentos são atendidos e em nenhum momento os atendimentos são interrompidos ou negados a qualquer cidadão que procure as unidades.

Para garantir o atendimento da população e ampliar o acesso, a Prefeitura oferta, de segunda a sexta-feira, de 8h às 20h, teleconsultas para atender todo tipo de situações clínicas leves, além dos sintomas de arboviroses. Com isso, podem agendar um horário para o teleatendimento as pessoas com quadros clínicos de menor gravidade, como gripe, diarreias, vômitos, suspeita de infecção urinária ou dores articulares, por exemplo", pontuou a PBH.

Hospital das Clínicas da UFMG, confira o posicionamento na íntegra: 

“O Hospital das Clínicas da UFMG, administrado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), informa que o pronto-socorro da instituição tem operado acima da sua capacidade instalada, com ocupação de todos os leitos, incluindo as macas nos corredores, de forma provisória, até que haja a liberação de leitos hospitalares nas Unidades de Internação ou transferência para outros hospitais. 

O pronto-socorro é destinado a atendimentos imediatos e de urgência e emergência e, por isso mesmo, mesmo quando já não há leitos disponíveis, é necessário acolher os pacientes e prestar a assistência que eles necessitam naquele momento, conforme protocolos de segurança assistencial. 

Apesar das limitações estruturais, todo cuidado médico e terapêutico está sendo garantido. Reforçamos que nenhum paciente permanece sem assistência: todos os que estão em observação ou aguardando leito recebem acompanhamento contínuo das equipes de saúde, de acordo com a gravidade do quadro clínico. 

A sobrecarga no pronto-socorro reflete um desafio que envolve toda a rede pública de saúde, já que a unidade recebe pacientes com quadros graves e complexos encaminhados por diferentes serviços. O HC-UFMG tem trabalhado de forma contínua, em conjunto com a rede de regulação municipal, para mitigar os impactos e garantir assistência qualificada à população. 

Em relação aos dois pacientes citados, o caso do primeiro se encaixava em critérios para atendimento ambulatorial e não no atendimento de urgência e emergência. Já o segundo paciente foi encaminhado a outro serviço hospitalar uma vez que não havia naquele momento, leito disponível para internação”.