Era por volta das 19h de quinta-feira (23). Muitos familiares e amigos da auxiliar de serviços gerais Izaltina Luciana Moreira, de 43 anos, já tinham ido embora do sítio, em Ribeirão das Neves, onde era comemorado o aniversário do seu neto Heitor Felipe, de 9. A festa, planejada durante quase seis meses a pedido da criança, parecia se encaminhar para ser um dia de boas recordações da família, quando ameaças a Felipe Júnior Moreira Lima, de 26 anos, mais conhecido como “Melese”, filho de Izaltina e pai do garoto, foram cumpridas. Dois homens armados invadiram o local e abriram fogo contra quem estava na festa.

No tiroteio, a auxiliar de serviços gerais viu o neto Heitor e Layza, prima dele de 11 anos, serem covardemente assassinados, além do filho, Felipe Lima, que é apontado pelas investigações da Polícia Civil como o alvo dos atiradores. Outras três pessoas ficaram feridas.

Minutos depois do crime, ainda ao lado do corpo de uma das vítimas, o desabafo de uma testemunha já apontava para os possíveis autores da barbárie: “Berola, você acabou com a minha família”, disse a mulher enquanto gravava uma mensagem de celular que teria sido enviada para o suspeito. O momento foi registrado em um vídeo que faz parte das investigações e a que a reportagem do Super teve acesso.

Berola, conforme as primeiras apurações da Polícia Civil, e seu irmão Alemão são apontados como suspeitos de serem os mandantes da chacina. Segundo uma fonte que investiga o caso, a dupla seria comandante do tráfico de drogas no Morro Alto, maior bairro de Vespasiano, na região metropolitana de Belo Horizonte, a aproximadamente 15 km do local do crime.

Há cerca de três meses, contou a fonte da polícia, Berola e Alemão travam uma guerra pela venda de drogas no bairro com Melese, que atuava na área havia seis anos. As investigações indicam que Melese e um primo faziam parte de uma das quatro “bocas” das quais os irmãos têm controle, mas o jovem resolveu desafiar seus ex-comparsas para obter mais lucro.

“Os dois irmãos sempre compravam drogas do Comando Vermelho, no Rio de Janeiro, para distribuir nas bocas que comandam. Mas eles cobravam 50% dos lucros. O Melese não estava mais aceitando isso e teria passado a comprar diretamente com o Comando Vermelho. Desde então, passou a ser ameaçado pelos ex-sócios, dos quais se tornou inimigo”, explica o investigador.

Para “desenvolver o próprio negócio”, conforme a fonte, Melese teria se aproveitado da prisão de um negociador da organização criminosa liderada por Berola e Alemão, ido ao Rio de Janeiro e se informado sobre como funcionava o esquema para a compra de entorpecentes no atacado, o transporte e a revenda. Com a garantia dos fornecedores de que receberia a droga, ele teria passado a desafiar a “autoridade” dos irmãos para seguir na atividade sem atravessador e, assim, aumentar seus lucros, desencadeando a trágica guerra no Morro Alto.

Sem dar detalhes da investigação, a Polícia Civil informou que o suspeito de 23 anos que foi baleado e localizado no hospital é o único detido e que ele teve a prisão temporária solicitada à Justiça. “A investigação encontra-se em andamento a fim de identificar e localizar os demais suspeitos”, diz a nota.

Triste lembrança

“Foram muitos tiros, gritos e caos. Na hora, o tempo parou, e quando me assustei várias pessoas estavam baleadas no chão. Não queríamos fazer a festa porque, há três meses, meu filho estava sendo ameaçado de morte, mas resolvemos fazer a pedido das crianças. Não imaginávamos que eles poderiam ser tão audaciosos e que entrariam atirando numa festa infantil. Foi muita selvageria. De fato, o crime não compensa, dois inocentes morreram”, lamenta Izaltina, que chegou a lutar com um dos atiradores. Ele acabou baleado pelo comparsa e, depois, foi preso pela polícia. O outro atirador fugiu.

Polícia encontra vídeos com ameaças de morte a vítima

Testemunhas contaram que Berola e Alemão vinham fazendo constantes ameaças de morte a Melese, uma vez que ele não tinha “autorização” para negociar drogas por contra própria. Segundo as investigações, teriam sido pelo menos cinco as tentativas frustradas de matar a vítima, que estaria sendo monitorada 24 horas por dia por integrantes da organização. Os investigadores do crime conseguiram reunir vídeos postados em redes sociais em que Melese é jurado de morte pelos irmãos. 

“Existem vídeos que os irmãos divulgavam falando que iam matar a vítima. Os atiradores, inclusive, foram reconhecidos”, destacou a fonte das investigações. 

Outro vídeo, que teria sido gravado a minutos da chacina, mostra que os supostos atiradores passaram em frente ao sítio pouco antes da tragédia. Na gravação, um deles pede que o motorista diminua a velocidade. “Esse é o local”, diz um dos suspeitos. O outro ainda pondera, em referência às crianças que estavam no imóvel: “Cheio de menino”.