Relatório aponta falhas e descumprimento de normas em obra de supermercado que matou quatro em BH

O relatório de inspeção realizado pela Superintendência Regional do Trabalho no canteiro de obras do supermercado Verdemar, no bairro Belvedere, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, aponta falhas e descumprimento de normas de segurança do trabalho. O documento foi apresentado por Carlos Calazans, superintendente regional em Minas Gerais, para familiares das vítimas e representantes do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção de BH e Região (Marreta), nesta quarta-feira (8 de maio). Cinco trabalhadores foram soterrados na obra, em outubro de 2023, e desses, quatro morreram.

“O acidente poderia ter sido evitado. Várias falhas estão apontadas no relatório no decorrer de suas 44 páginas. Normas não foram respeitadas, normas de segurança foram negligenciadas. Um acidente nunca acontece de forma isolada. É uma decorrência de várias falhas. Para se ter ideia, o talude, onde houve o deslizamento de terra, não estava protegido. Sendo que isso é essencial para garantir que os trabalhadores consigam sair de forma segura", afirmou Calazans.

No relatório, conforme explicado pelo superintendente, há diversas fotos do canteiro de obras nas quais falhas são apontadas. "Desde o início das obras, até o momento do acidente várias intercorrências foram vistas pelos nossos auditores. Havia irregularidades nos andaimes, o corte do terreno sem acostamento. Se as empresas tivessem cumprido as normas, os trabalhadores teriam tido a oportunidade de evacuar a área, não teriam morrido e suas famílias não iriam chorar suas perdas", acrescentou, destacando que 70 autos de infração foram emitidos contra os responsáveis pela obra.

Calazans ressaltou, ainda, a necessidade de se lutar, cada dia mais, pela segurança no ambiente de trabalho. "No Brasil, uma pessoa morre em acidente de trabalho a cada três horas. A nossa missão é impedir que isso aconteça. Infelizmente, neste caso não conseguimos evitar o pior".

'Alertamos sobre o perigo'

O jovem Igor Alves, de 24 anos, foi a única vítima que sobreviveu ao acidente. Ele acompanhou a apresentação do relatório e se emocionou em vários momentos. "O dia de hoje é muito especial e importante para todos nós. Lembrar daquele dia dói muito. É um sentimento ruim por tudo aquilo que passamos. Eu tive que ser hospitalizado e passar por cirurgia. Minha vida não é a mesma", conta.

Alves disse que ele e os demais colegas de trabalho chegaram a procurar os responsáveis pela obra para avisá-los sobre a falta de segurança. "Tínhamos consciência que o pior podia acontecer; Pedimos para colocar escoras, porém, quando íamos conversar sempre éramos tratados com ignorância. Dava pra ter evitado o acidente, pois alertamos sobre o perigo".

Ainda em recuperação, Alves diz que "não sabe" como será a vida dele no futuro. "Estou com ferro na perna. Muita coisa não consigo fazer mais. Psicologicamente sigo abalado. Só espero por justiça", desabafa.

Relembre o caso

Quatro pessoas morreram soterradas na obra do supermercado Verdemar, no bairro Belvedere, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. As vítimas são os operários Roberto Mauro da Silva, de 55 anos, Zacarias Evangelista Fonseca, de 59, e Rafael Pereira Barbosa, de 35, além da engenheira Juliana Angélica Menezes Veloso, de 30. Um outro operário, de 23 anos, também foi soterrado, mas foi socorrido com vida para o Hospital Odilon Behrens, na capital. O estado de saúde dele não foi informado.

As vítimas ficaram soterradas após um talude (plano de terreno inclinado que serve como base de sustentação ao solo) de 3 metros de altura se desprender. A terra que desceu do barranco soterrou e encobriu as vítimas.