Belo Horizonte registrou o mês "mais sangrento" dos últimos seis anos em 2024. Ao todo, 35 pessoas foram mortas na capital mineira no mês passado. A última vez que a capital teve maio com tantas mortes foi em 2018, conforme dados da Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp). Em termos gerais, o último mês com tantos assassinatos foi dezembro de 2022. Em maio de 2018 foram 38 registros, três a mais do que neste ano. Em dezembro de 2022, o número de vítimas de homicídio em Belo Horizonte também foi 38, segundo os dados abertos da pasta de segurança do Estado.
Em Minas Gerais, os números refletem o que ocorre na capital. Foram 210 homicídios em maio de 2024, o maior índice para o mês desde 2018, quando foram registradas 262 ocorrências dessa natureza. Um dos motivos que pode explicar o aumento nas mortes é o confronto pelo tráfico de drogas, onde gangues no Estado receberam o apadrinhamento de facções nacionais, como o Comando Vermelho (CV), Primeiro Comando da Capital (PCC) e Terceiro Comando Puro (TCP). Apesar de ter se intensificado nos últimos meses, o apadrinhamento entre facções mais estruturadas e grupos menores não é algo novo ou restrito ao Estado, segundo o delegado Márcio Rocha Vianna Dias, coordenador da força-tarefa de combate ao crime organizado de Juiz de Fora e Zona da Mata, do Departamento de Operações Especiais (Deoesp) da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG).
"É um problema que começou desde a divisão do Primeiro Comando da Capital (PCC) e do Comando Vermelho (CV). Essas duas grandes organizações se alinharam com essas que são menores para ganharem ainda mais força. É um movimento que acontece em Minas e em outros Estados", disse o delegado. Recentemente, um levantamento inédito do Ministério da Justiça, divulgado pelo jornal Folha de S. Paulo, mostrou que ao menos 13 facções atuam em presídios no Estado de Minas Gerais. Além do CV e do PCC, estão na lista grupos criminosos como o Bonde dos 40, Cartel do Norte, Terceiro Comando Puro (TCP) e outros. Na capital mineira, o mês mais violento desde o início da série histórica em janeiro de 2012 foi dezembro daquele ano, quando 91 pessoas foram assassinadas no município. Já o ano mais violento foi 2013, com 872 mortes. Se levarmos em consideração apenas os registros de 2024, foi percebida uma queda nos números entre março e abril, mas o índice voltou a crescer em maio.
A professora do departamento de sociologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisadora do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp/UFMG), Ludmila Ribeiro, aponta três fatores para o aumento do número de homicídios na capital. Inicialmente, o período de pandemia foi marcado pela redução dos crimes devido à diminuição da circulação de pessoas. Passado esse período, ela atribui a violência policial e a chegada de organizações criminosas maiores, como PCC, CV e TCP, que tentam dominar o tráfico de drogas que antes não vivia em guerra. "O armamento por parte dessas organizações contribui, sem dúvida, para o aumento da mortalidade. A ideia é que quanto mais armada uma organização fica, maior a chance da facção rival ou até mesmo da polícia chegar atirando, já que sabem que estão armados", afirmou.
Para a especialista, o aumento dos assassinatos gera uma sensação de insegurança ainda maior. Por isso, segundo ela, é preciso que a Polícia Militar permaneça em locais onde ocorrem esses crimes na tentativa de se aproximar da comunidade e criar laços de confiança. "Até porque, muitas operações policiais são violentas e acabam gerando mais violência", frisou. Procurada, a Polícia Militar disse, por nota, que realiza ações preventivas e repressivas em todos os municípios do Estado "em alinhamento com os demais órgãos de segurança, com o objetivo de potencializar a segurança da população e coibir a criminalidade violenta". "Para além das estratégias de combate à criminalidade, a PMMG possui em seu portfólio as Patrulhas de Prevenção a Homicídios (PPH), em consonância com a Gestão de Desempenho Operacional (GDO), que mapeiam locais e possíveis infratores, determinando tendências do acontecimento do crime, visando a repressão qualificada de atos criminosos", argumenta a nota, sem abordar o aumento dos assassinatos.