Fim dos cigarros nos presídios mineiros. Esse é o pedido do Sindicato dos Policiais Penais do Estado de Minas Gerais (Sindppen-MG) após drogas da família “K”, conhecida como droga zumbi, serem misturadas aos tabacos que entram nas cadeias do Estado.
“O sindicato está lutando pela não entrada de cigarros nos presídios, os cigarros normais mesmo e também os não regulamentos, que são aqueles que chegam pelo crime de descaminho. Isso porque o cigarro facilita e permite a entrada de outras drogas. Os criminosos usam esses cigarros para borrifar a droga K e fumam com o fumo do próprio cigarro. Eles têm feito isso”, contou Magno Soares, diretor de comunicação do Sindppen-MG. Quando o entorpecente da família K é borrifado no tabaco, ela recebe a denominação de “K4”. No papel, a alcunha é “K2”, enquanto em outras drogas o nome é ”K9”.
Em 2024, as apreensões mensais de unidades da droga K mais que dobraram em relação ao ano passado. Dados da Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) apontam que em 2023 inteiro foram apreendidas 11.730 unidades de entorpecentes da família K nos presídios, uma média de 977 unidades por mês. Já entre janeiro e abril deste ano foram 9.247 itens apreendidos, o que gera uma média de 2.311 unidades apreendidas por mês.
As mortes investigadas por overdose de droga K nos presídios mineiros permanecem em 14 desde abril. O primeiro caso foi registrado em dezembro do ano passado, mas, segundo a Polícia Civil de Minas Gerais, ainda não há conclusão do laudo seis meses depois do óbito. “A investigação segue em andamento, visando apurar as causas e as circunstâncias das mortes registradas nas unidades prisionais, em Ribeirão das Neves. Demais informações serão repassadas após a conclusão dos inquéritos”, diz nota da instituição.
O último detento suspeito de morrer por overdose de droga K foi Elias Martins da Silva, de 40 anos, em 19 de abril. Ele estava detido no presídio Antônio Dutra Ladeira, em Ribeirão das Neves, onde outras seis mortes são investigadas pelo mesmo motivo. Outros sete óbitos no Presídio Inspetor José Martinho Drumond, também em Ribeirão das Neves, são investigados pelas forças de segurança do Estado.
Magno Soares contou que apesar de as mortes suspeitas de overdose “estagnarem” nos últimos dois meses, os policiais penais continuam prestando socorro frequentes a detentos com sintomas do uso da droga. Desde abril, quando as mortes e os casos foram divulgados, o Departamento Penitenciário de Minas Gerais (Depen-MG) elaborou cartilha para presos e policiais penais com orientações sobre os efeitos da droga K e como identificar a entrada oculta do entorpecente.
“Nos últimos meses a gente percebeu uma tentativa maior da entrada dessa droga nos presídios através dos cigarros. Já estamos conseguindo identificar essa questão. Por isso o sindicato pede a retirada de todo material fumígeno nas cadeias para que as drogas serem diminuídas”, finalizou o diretor.
Droga gera agressividade
Policiais penais relatam dificuldade de controle dos pavilhões em função da maior agressividade entre os consumidores desse tipo de entorpecente altamente viciante e que assusta até mesmo traficantes pelo tamanho descontrole causado durante o uso.
Segundo Jean Otoni, presidente do Sindicato dos Policiais Penais do Estado de Minas Gerais (Sindppen-MG), o uso dessas drogas sintéticas gera um efeito dominó nos presídios que fragiliza a segurança. “Isso causa muito estresse aos policiais penais. Os detentos ficam mais agressivos, passam mal com overdose e têm que ser socorridos aos hospitais pelos policiais penais. Isso enfraquece a segurança dos presídios, já que demanda uma logística para esses presos ficarem internados. A presença de drogas causa muito transtorno aos policiais penais nessas unidades”, detalhou.
O resultado é mais violência dentro dos presídios em função do alto poder que essas drogas têm de atingir o sistema nervoso central, causando diferenças comportamentais dos detentos, que se tornam agressivos. “Isso dificulta a contenção e o Grupo de Intervenção Rápida (GIR) acaba tendo que atuar. Os detentos brigam entre eles. Houve um caso sério na semana passada, na Martinho Drummond, onde uma cela se rebelou contra a outra e houve transtorno grande no pátio. Essas drogas estão causando esses transtornos enormes nas unidades prisionais”, contou.
Droga foi barrada por traficantes de BH
As drogas de origem K causam um “efeito zumbi” nos usuários, o que foi motivo para algumas bocas de fumo em Belo Horizonte “barrarem” a venda do entorpecente após um “teste de qualidade”. A droga (originalmente líquida) chega geralmente borrifada em papéis ou em ervas para ser fumada. Trata-se de um canabinoide sintético produzido em laboratórios clandestinos dentro e fora do Brasil e que provoca severas contrações musculares, alucinações, psicose, convulsões e até a morte.
Um traficante de um aglomerado na região Oeste de BH contou à reportagem no ano passado que chefes do crime desistiram de vender a K9 após um “teste de qualidade” – realizado entre integrantes da facção – resultar em “piripaque” coletivo. “Quatro responsáveis por bocas de fumo da região usaram a droga para saber qual a ‘brisa que batia” para poderem descrever aos compradores. Só que a galera que experimentou passou muito mal: primeiro, eles ficaram paralisados e, depois, tiveram uma espécie de convulsão. Ninguém foi para o hospital, mas quase precisou. E chamar esse tipo de atenção não é bom para nenhum traficante. A boca de fumo vira alvo da polícia por nada”, revelou a fonte, sob a condição de anonimato.