Minas Gerais registrou aumento de mortes violentas em 2023, quando comparado a 2022. Segundo o 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta quinta-feira (18 de julho), houve alta de 3,7% em um ano. O índice vai na contramão da tendência observada no país, que registrou queda de 3,4% no período. 

Ao todo, 3.044 pessoas foram vítimas de mortes violentas intencionais no ano passado em Minas. O número é maior do que o registrado em 2022, quando 2.936 perderam a vida pela modalidade criminosa. 

Os dados fazem parte da 18ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O chamado índice de mortes violentas intencionais (MVI) inclui as vítimas de homicídio doloso, entre elas as vítimas de feminicídios; vítimas de latrocínio, ou seja, roubo seguido de morte; de lesão corporal seguida de morte; e, mortes decorrentes de intervenções policiais.

Aumento de facções 

Conforme análise do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a atual forma de enfrentamento ao crime no país pode estar diretamente ligada ao número de mortes violentas. Isso porque, segundo o levantamento, o domínio do crime organizado também cria entraves para o policiamento ostensivo e combate ao crime em locais onde as facções atuam. 

"A atual forma de enfrentamento acaba por gerar mais mortes, sobretudo de negros, jovens e por armas de fogo, enquanto o crime organizado tem comprometido várias esferas da vida pública e da economia formal não atingidos pela ação de policiamento ostensivo e de operações especiais. No foco político excessivo do policiamento ostensivo, o crime vai ocupando espaços cada vez maiores na política, na economia e no controle da vida de milhões de brasileiros e brasileiras", pontua. 

A solução para o problema, segundo a pesquisa, está justamente na "repressão eficaz das facções e milícias". Para isso, é necessário o aumento da capacidade de investigação criminal por parte das polícias judiciárias (polícias civis e Federal) e de combate à lavagem de dinheiro como estratégias de redução da impunidade e da corrupção.

Investimento em educação

Especialista em segurança pública, Arnaldo Conde afirma que as mortes relacionadas às facções, em geral, estão ligadas a disputas por pontos de drogas. Quanto mais essas organizações criminosas se expandem pelo país, maior a probabilidade do aumento da violência, segundo ele. No entanto, os atingidos, conforme ele destaca, em geral não são os grandes líderes do crime. “Normalmente as pessoas que morrem em guerras de facções são os ‘miúdos’ e mais jovens. Raramente você vê uma pessoa ‘importante’ dentro desse cenário sendo assassinada”, diz.

Segundo Conde, é preciso uma análise aprofundada de dados para entender o que pode ser o cenário daqui para a frente, pois ainda é ‘cedo’ para entender o que o futuro reserva neste cenário. “É preciso realizar estudos para entender se isso que estamos vendo agora é ou não uma tendência”, afirma.

Para o especialista, para combater esse mal, é preciso não apenas investir no combate ao crime, mas também na prevenção por meio da educação.

“Sem correr o risco de ser genérico demais: a origem de grande parte disso é a falta de educação formal. Se ela existe, há perspectiva de futuro. Quando não tem, as pessoas vão buscar alternativas, inclusive as criminosas. Com educação, vai ter trabalho, possibilidade de desenvolvimento e produção de renda, e as pessoas não vão aceitar convites para a marginalidade. Agora, isso não quer dizer que todos que não têm oportunidades vão para a criminalidade. São uma minoria, mas que cometem uma série de crimes”, afirma.