As férias escolares estão chegando. Se para crianças e adolescentes a hora é de descanso, para os pais, nem tanto. “Não é um período de descanso, não, é um período de desespero”, diz a administradora hospitalar Tatiana Auxiliadora, 47, mãe da Sophia, 8. A sensação é compartilhada por muitos pais que, assim como ela, não têm rede de apoio. Os problemas variam de acordo com a classe socioeconômica, mas seja ao tentar arranjar um lugar para os filhos ficarem, pensar em um passeio ou se preocupar com a alimentação, o recesso acaba gerando dor de cabeça e aumento de custos.
A duas semanas do início das férias de julho, as famílias já estão planejando suas estratégias. Tatiana vai deixar a Sophia numa colônia de férias. Ana Paula Aleixo, 44, já recorreu a essa opção em outros anos, mas, desta vez, pretende trazer a sogra, que mora em outra cidade, para ajudar a cuidar do Liam, 5. “É sempre um custo maior. Em julho ele está de férias, mas eu tenho que pagar a escola normal. Além disso, tem os custos de trazer a minha sogra e dos passeios, porque você não vai ficar o tempo todo dentro de um apartamento com uma criança de 5 anos”, explica.
A advogada Daniela Macena, 37, é mãe da Maya, 4. Para ela, férias não tem nada a ver com descanso. “Minha mãe me ajuda. Mas a sobrecarga é toda minha e, nas férias, aumenta ainda mais. Eu trabalho em home office, e ela me chama o tempo inteiro. E tenho que achar programação nas férias. É bem puxado. Em julho é ainda pior, porque, no fim do ano, pelo menos eu consigo tirar uns dias com ela”, conta Daniela.
Foi diante de angústias como essas que a educadora Sara Vitral, formada em administração pública pela Fundação João Pinheiro, teve a ideia de montar um projeto por meio do qual escolas e espaços públicos possam ser utilizados como suporte durante o recesso. “Essa é uma demanda gigantesca e complexa. Quando as escolas fecham, os pais continuam trabalhando. Conversando com muita gente nessa situação, percebi que muitos não têm rede de apoio e não têm com quem deixar as crianças. Normalmente, a responsabilidade de resolver esse problema acaba recaindo sobre as mulheres. São elas que, na maioria das vezes, arrumam um jeito de organizar uma solução”, comenta.
A educadora, que atua no Conselho Estadual de Educação (CEE) como coordenadora de ações estratégicas, quer apresentar o plano de férias à Prefeitura de Belo Horizonte. “A ideia é criar uma proposta intersetorial para adaptar os espaços para receber crianças e adolescentes durante o recesso, a fim de que eles tenham um lugar seguro onde possam vivenciar experiências lúdicas. No caso dos menores, seria interessante manter as creches abertas, porque os prédios já têm a estrutura mais adequada”, explica Sara.
Por enquanto, a proposta está apenas no campo das ideias. “É muito importante ressaltar que o objetivo não é sobrecarregar os professores nas férias, mas, sim, contratar monitores capacitados a cuidar das crianças e dos adolescentes, oferecendo atividades”, destaca.
“É uma forma, inclusive, de evitar riscos de acidentes, uma vez que, como muitos pais não têm com quem deixar os filhos, podem acabar deixando os mais velhos cuidando dos mais novos”, ressalta Sara.
De acordo com a educadora, os critérios ainda precisam ser definidos, mas a prioridade para acessar o plano de férias com suporte público deve ser dada àqueles em situação de vulnerabilidade, o que poderia ser feito com cruzamento de dados de cadastros sociais.