Dia 3 de janeiro de 2024. Eram por volta das 22h30. Dentro de um Ônix, Bárbara Medeiros, de 28 anos, aguardava um amigo, a quem daria uma carona na porta da casa dele, no bairro Pongelupe, na região do Barreiro, em BH, quando foi surpreendida por criminosos. Em outro veículo, três homens armados a cercaram, e a assistente administrativa viveu momentos de terror.
“Um deles saiu do carro. Ele estava com um revólver na mão e pediu para eu deixar o telefone dentro do carro, senão eu tomaria um tiro. Eu consegui guardar o celular na blusa e saí. Levaram o carro, que era da minha mãe, com bolsa, documento e dinheiro. Foi tudo muito rápido”, conta Bárbara, que um ano depois ainda se sente abalada. “Aquilo mudou a minha vida. Desde então, eu só dirigi cinco vezes, e sempre por necessidade. Parei de sair, de passear. Prefiro ficar em casa”, lamenta a jovem, que teve o veículo, avaliado em R$ 50 mil, recuperado.
A violência sofrida pela mulher é um exemplo de uma estatística que preocupa. Belo Horizonte registrou aumento de 18,8% no número de roubos de carros de janeiro a novembro de 2024. Foram 1.438 registros, contra 1.210 no mesmo período de 2023. O número supera também o total de casos do ano anterior (1.322), segundo dados mais recentes da Secretaria de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp-MG).
As estatísticas apontam que o roubo de veículo foi o tipo com maior aumento em BH no ano passado, seguido de roubo a residência (17%) e a estabelecimento comercial (4,8%) – veja na arte abaixo
Para Ailton Cirilo, advogado e especialista em segurança pública, vários fatores podem justificar a alta do roubo de veículos na capital mineira. Entre eles, o fato de as ações serem mais controladas pelos bandidos e, com isso, levarem menos riscos a eles.
“Essas ações têm uma característica própria: são rápidas e organizadas. Muitas vezes, estão ligadas a organizações grandes. O criminoso consegue agir em pouquíssimos minutos e leva um bem de alto valor, que vai servir para revenda e obtenção de dinheiro ou para usar para cometer outro crime”, analisa Cirilo.
“Há uma demanda grande por tudo que envolve veículos. O crime organizado adora esse patrimônio. Existe um comércio paralelo de peças e até mesmo de veículos que são fruto de ilícitos, e ele gera lucro. Além disso, não há uma fiscalização completa desse tipo de serviço. Muitas vezes as pessoas preferem pagar mais barato, mesmo sabendo que é algo vindo de um crime”, acrescenta o advogado e criminólogo Jorge Tassi.
A Polícia Militar de MG informou que, para combater a criminalidade, realiza ações e operações policiais ininterruptamente, tanto na prevenção quanto na repressão de crimes. Segundo a corporação, entre as ações estão estratégias com a comunidade por meio das Redes de Proteção Preventiva, para facilitar a disseminação de medidas de autoproteção e o compartilhamento de informações.
É preciso inteligência para combater o crime organizado
Advogado e especialista em segurança pública, Ailton Cirilo entende que o combate ao roubo de carros passa fundamentalmente pela atuação do serviço de inteligência das forças de segurança para identificar os autores dos crimes e por um melhor aproveitamento das tecnologias para coibir as ações deles.
“É importante aumentar os recursos de tecnologia, como câmeras de monitoramento para flagrar os crimes e também software de reconhecimento de placas – assim, é possível verificar, nas ruas, se algum veículo é fruto de roubo ou furto”, exemplifica o especialista, que reconhece já existir um trabalho das forças de segurança.
Procurada, a Polícia Civil de Minas Gerais informou que atua em investigações relacionadas a furtos e roubos de veículos em todo o Estado. O delegado da Divisão Especializada em Investigação de Furtos e Roubos de Veículos Automotores José Luiz Quintão explicou que o trabalho de inteligência é realizado e integrado com forças de segurança de outros Estados.
“A gente conta com tecnologias e instrumentos que auxiliam nas investigações para desarticular essas quadrilhas. Atuamos para prender não só o autor do furto ou do roubo, mas também para chegar ao elemento final da operação, que é a pessoa que recebe o veículo para desmanchar e vender as peças ou clonar com o intuito de recolocá-lo nas ruas”, afirmou.