Um influenciador de rifa com mais de 600 mil seguidores e um motorista de Chevette turbinado, conhecido por inúmeros vídeos de manobras. Esses são os perfis dos homens, de 33 e 34 anos, presos por direção perigosa após um “rolé” na avenida Cristiano Machado, na região Nordeste de Belo Horizonte, na última quinta-feira (16 de janeiro). Horas após serem abordados pela polícia e liberados, ambos negaram agir com irresponsabilidade. “Tem vez que dá ruim. Passamos no lugar errado, na hora errada. Aí, nos ferramos”, disse o condutor do Chevette.

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O homem foi abordado por viaturas da polícia, com as sirenes desligadas, enquanto estava com o filho de 14 anos no banco do passageiro. Segundo a Polícia Militar, a operação foi motivada por várias publicações no Instagram convocando para encontros de direção perigosa na Cristiano Machado. “O policial me xingou, dizendo que não sou exemplo para o meu filho. Claro que fico triste, mas é melhor ser preso fazendo isso [racha] do que roubando, matando ou traficando droga. Ele [o filho] é meu parceiro, onde eu vou, ele está comigo”, afirmou o motorista em sua rede social. 

O condutor do Chevette turbinado negou que o “rolé” envolvesse racha, afirmando que nenhum motorista fugiu da abordagem policial. “Quando mandaram parar, eu encostei na hora. Não teve fuga. Nós ‘andamos’, fazemos manobra, mas raramente na rua. Vivendo e aprendendo. Mas tá de boa, viu? Amanhã já ‘tá na atividade’ de novo”, comentou. Porém, em stories seguintes, o homem negou que haveria “uma próxima vez”: “Não vai ter próxima, tá? Eu já não ‘andava’ na rua, agora que não ando mesmo”, concluiu.

A versão sobre as fugas foi contradita pelo influenciador de rifa, de 34 anos, que disse que muitos escaparam e ele acabou “tendo que segurar o ‘BO’”.

“Todo dia sai um otário de casa, eu fui o otário”, diz influenciador 

O outro carro apreendido na operação é um Ford Mustang sem capô, pertencente ao influenciador de 34 anos, com mais de 600 mil seguidores. Ele está rifando um caminhão e um Onix por cotas de R$ 0,15. Nas redes sociais, nessa quinta-feira, explicou que foi preso por estar no local do racha, embora não tenha colocado o carro para correr. “Resumindo: hora errada, lugar errado. Mano, saí de casa, andei 1 km, acenderam várias luzes no painel do carro e uns fios arrebentaram. Pensei em voltar, papai do céu me avisou para ir embora, mas, teimoso, falei ‘vou assim mesmo, chegando lá eu olho’. Íamos dar um rolé”, contou.

Segundo o relato do homem, ele parou o carro e ficou “olhando” a movimentação de outros veículos que também participaram do encontro. Em certo momento, as viaturas se aproximaram, e ele tentou escapar, mas o carro era “muito barulhento”, o que dificultou a fuga. “Muita gente vai criticar, mas não vai acreditar. Se eu tivesse errado, pediria desculpa, diria que ‘dei mole’. Mas eu não estava fazendo nada, estava parado. O resto [dos motoristas] conseguiu ir embora. Meu carro era o mais barulhento, e me pegaram”, afirmou.

O influenciador ficou cerca de 12 horas preso e pagou fiança para ser liberado, além de arcar com custos de advogado e multa. “O rolé ficou caro”, disse. “É bom para a gente pensar mil vezes. Comecei a empolgar com esse ‘trem’ de carro e, no começo, já deu errado. Todo dia sai um otário de casa, e hoje fui eu”, brincou.

Rachas em MG

No primeiro semestre de 2024, 127 pessoas foram parar nas delegacias em Minas Gerais suspeitas de participar de disputas de corridas não autorizadas — como a que matou Bernardo e o amigo Eduardo Marques Viana Silva, 18, em um racha na Via Expressa de Contagem, na Grande BH, no dia 27 de agosto. No mesmo período de 2023, foram 91 – alta de 40%, segundo a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais.