Além de álcool, ecstasy e cocaína, o exame toxicológico realizado no caminhoneiro, de 49 anos, envolvido em um grave acidente na BR-116, em Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, também identificou alprazolam e venlafaxina — substâncias usadas para produção de remédios antidepressivos. O detalhamento consta na decisão da Justiça, que decretou a prisão do motorista nesta terça-feira (21 de janeiro). O suspeito foi preso hoje no Espírito Santo. O veículo conduzido por ele transportava um bloco de granito que se desprendeu e colidiu contra um ônibus, causando a morte de 39 pessoas, em dezembro de 2024.

Conforme decisão da Justiça, a qual a reportagem de O TEMPO teve acesso, o caminhoneiro assumiu, em depoimento, ter feito o uso conjugado de cocaína, bebida alcoólica, ecstasy e alprazolam, além de outras substâncias. Ele foi submetido a exame toxicológico na tarde do dia 23 de dezembro, dois dias após o acidente, quando se entregou às autoridades.  

Os resultados dos exames indicaram para a presença de substâncias encontradas na composição de cocaína e ecstasy, além de benzoilecgonina — elemento metabólico produzido pelo fígado após o consumo de cocaína. A análise também apontou o encontro dos antidepressivos alprazolam e venlafaxina.

Veja a lista de substâncias descritas no exame:

  • Cocaína 0,22ng/mL
  • Benzoilecgonina 5,29 ng/mL
  • Cocaetileno
  • 3,4-metilenodioximetanfetamina (MDMA – Ecstasy)
  • MDA 2,47ng/mL
  • Alprazolam
  • Alfahidroxialprazolam
  • Venlafaxina  
  • O-desmetilvenlafaxina.

Delegado cita ‘indiferença e frieza’ de caminhoneiro em depoimento

A decisão cita também que o delegado da Polícia Civil (PCMG) descreveu a atitude do caminhoneiro, durante depoimento, como “fria e indiferente”. Para o juiz Danilo de Mello Ferraz, da 1ª Vara Criminal da Comarca de Teófilo Otoni, que analisou a revisão da liberdade, o comportamento do investigado pode ser resultado do efeito da droga sob ele.

O magistrado ainda avalia o condutor como “inapto” para a realização do transporte de cargas pesadas. Isso porque o suspeito disse não ter costume “de verificar o peso dos blocos de granito que já transporta e que já transportou ao longo desses dez anos”.

As investigações apontaram que a carreta levava dois blocos de quartzito, com peso superior a 68 toneladas, divididos em um bloco com 30,5 toneladas e outro com 37,8 toneladas, conforme descrito nas notas fiscais da carga. A quantidade excede a capacidade máxima de  cada reboque, que é de 30 toneladas.

O documento detalha ainda que o tacógrafo do caminhão indicou velocidade acima de 90 km/h no momento do acidente. O valor é considerado 12,5% acima do permitido na via, que é de 80 km/h. A velocidade associada ao excesso de peso seriam a causa do acidente, conforme cita balanço preliminar da perícia repassado ao juiz.

“Em que pese ainda não tenha sido concluído o laudo pericial do local, em conversa informal com o perito, o mesmo adiantou que a causa do acidente foi a perda do controle da carreta, com a invasão da contramão direcional, e que o excesso de peso e de velocidade, contribuíram, decisivamente, para este evento”, afirma.

Diante das evidências, o magistrado decretou a prisão do investigado, como forma de se garantir a ordem pública. O TEMPO tentou contato por telefone com o advogado que acompanhou o motorista no dia que ele se entregou à polícia. Até o momento, ninguém foi localizado para comentar a prisão do suspeito e a divulgação do laudo. 

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O outro lado

A defesa do caminhoneiro envolvido no acidente na BR-116 que causou a morte de 39 pessoas afirmou que os exames toxicológicos não comprovam que ele estivesse sob efeito de substâncias psicoativas no momento da batida, já que as análises foram feitas dois dias depois. Além disso, garantiu que irá recorrer da prisão preventiva, para garantir o direito do motorista de responder ao processo em liberdade. Veja o posicionamento completo aqui.

Grave acidente deixa 39 mortos na BR-116 em Minas Gerais

Um ônibus de viagem interestadual com 45 passageiros pegou fogo após se envolver em um acidente com uma carreta e um carro na BR-116, em Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, em Minas Gerais, no dia 21 de dezembro. A tragédia causou a interdição da rodovia federal. Ao todo, 39 pessoas morreram e outras nove ficaram feridas.

O ônibus havia partido de São Paulo na sexta-feira (20) com destino à Bahia. Entre as vítimas, há moradores dos estados de São Paulo, Bahia, Minas Gerais e Paraíba.
 
O motorista da carreta que se envolveu no acidente se entregou dois dias após o acidente. Ele foi ouvido e liberado pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG). Segundo a PCMG, ele foi liberado após o depoimento porque já não era mais cabível a prisão em flagrante e porque a Justiça negou o pedido de prisão preventiva apresentado pela instituição.