Após as rodovias estaduais fiscalizadas eletronicamente apresentarem uma redução de 77% no número de acidentes em um intervalo de 13 anos, o governo de Minas e o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-MG) anunciaram que ampliarão em 142% o número de radares nas rodovias estaduais mineiras, com a instalação de 764 novos equipamentos em 2025.

O anúncio da medida foi feito no último final de semana pelo Estado, porém, o edital que prevê o investimento de R$ 313,2 milhões em "controladores e redutores de velocidade" foi publicado ainda em dezembro de 2024, sendo que a abertura das propostas acontecerá já no próximo dia 10 de fevereiro. 

Com a aquisição dos novos radares, o número de equipamentos instalados nas rodovias estaduais de Minas passará de 536 para 1,3 mil. "Para instalar os equipamentos são realizados estudos técnicos para verificar as condições do local e se o controle de velocidade é a melhor alternativa a ser adotada", explica o diretor de Operação Viária do DER-MG, Cristiano Coelho.

Ouvido por O TEMPO, o especialista em trânsito Silvestre Andrade também defende que a implantação dos equipamentos é importante para se reduzir o número de mortes nas estradas. "A malha rodoviária de Minas é muito extensa, a maior do país. Portanto, cerca de 500 radares, em tese, eram muito pouco. Você mais que dobrar este número não é um problema, pois nós ainda temos muitos acidentes no Estado. Neste final de semana mesmo tivemos dois ou três acidentes importantes, com várias mortes", pondera o especialista.

Entre a manhã do último domingo (26 de janeiro) e a desta segunda-feira (27), pelo menos 12 pessoas morreram em acidentes em rodovias estaduais e federais que cortam Minas Gerais. No mais grave deles, na MG-436, cinco pessoas morreram após dois carros de passeio baterem de frente na altura de Barão de Cocais, na região Central do Estado. Com base no estado que os carros envolvidos ficaram e pela ausência de sobreviventes na batida, especula-se que pelo menos um dos veículos estava acima da velocidade. 

Queda significativa nos acidentes

Ainda conforme o governo de Minas, a queda de 77% nos acidentes foi identificada nos trechos de rodovias estaduais onde foram instalados equipamentos eletrônicos. Nestas estradas sob responsabilidade do DER-MG, os sinistros caíram de 22 mil, em 2011, para cerca de 5 mil em 2024. 

A gerente de Educação para o Trânsito do DER-MG, Rosely Fantoni, defende que o comportamento adequado no trânsito depende de medidas voltadas para a educação, como os radares. “Quando o DER-MG instala um controle de velocidade, é para a segurança do motorista e de quem circula na via. Nossa função é esclarecer e conscientizar do papel de cada cidadão para um trânsito mais seguro”, garante.

O especialista em trânsito Silvestre Andrade afirma que o dado estatístico apresentado pelo Estado é "absolutamente significativo" e reforça o que já era apontado por pesquisas nacionais e internacionais sobre o tema.

"Todos os estudos de segurança e trânsito mostram uma correlação muito forte entre a redução de velocidade e aumento da segurança do trânsito. Não tem nenhuma razão de se reclamar do radar por reclamar. Claro que eles devem ser instalados onde há registros de acidente ou de perigo iminente, como cruzamentos, acesso a cidades, entre outros", argumenta. 

Indústria da multa?

Questionado sobre a grande reclamação de motoristas sobre a instalação de novos radares, que, normalmente, são alvo de acusações sobre a existência de uma "indústria da multa" ou "máquina de arrecadação", o especialista em trânsito é enfático. "Os radares são uma ação fiscal permanente, 24 horas por dia, sete dias por semana, em locais críticos. Só quem anda acima da velocidade regulamentada é multado, se você obedece a legislação, não é penalizado. Portanto, só se pode falar em 'máquina de arrecadação' para quem insiste em infringir a lei, e é por causa destas pessoas que os acidentes acontecem", crava Andrade. 

A alegação também é contestada pelo diretor de Operação Viária do DER-MG, Cristiano Coelho. "Por falta de informação, é comum ouvirmos reclamações sobre excessos de aparelhos nas vias, mas os números são categóricos e demonstram que não existe fundamento para o discurso de ‘indústria da multa’. Os dados mostram que aproximadamente cerca de 0,1% dos veículos que passam pelos radares são multados", finaliza. 

Por outro lado, o especialista em trânsito dá razão ao argumento da população sobre as más condições das estradas mineiras. "Os radares são apenas uma das opções para melhorar a segurança no trânsito, mas não é a única. Fazer a manutenção do pavimento e da sinalização também é fundamental. O corte da vegetação às margens das rodovias também. Isso ocorre regularmente nas rodovias concedidas, mas nas que não foram concedidas a manutenção é falha em muitas das vezes. O que não significa que os radares não sejam importantes", garante.