Com 22 unidades e 18 Postos Avançados de Coleta Extrema (Paces) operando em Minas Gerais em 2025, a Fundação Hemominas completou 40 anos de história neste ano com planos de expansão. A instituição — criada em janeiro de 1985 — está prevendo um investimento de mais de R$ 3 milhões na construção de sete novas unidades em Minas Gerais. Atualmente, a rede Hemominas é composta por sete Hemocentros, oito Hemonúcleos, seis Unidades de Coleta e Transfusão, 18 Postos de Coleta e o Centro de Tecidos Biológicos de Minas Gerais (Cetebio-MG).

De acordo com a médica hematologista e diretora técnico-científica do Hemominas, Fabiana Chagas, os novos postos de coleta serão montados nas cidades de: Coronel Fabriciano (Vale do Aço), Ipatinga (Vale do Aço), Caratinga (Vale do Rio Doce), Ubá (Zona da Mata), Salinas (Vale do Jequitinhonha), Capelinha (Vale do Jequitinhonha) e Pirapora (Norte).  

Fabiana ressalta que ainda não há uma previsão para a inauguração dos novos postos, já que esse processo depende de uma série de fatores como a indicação de um imóvel pelos municípios, adequação da planta, aprovação na Vigilância Sanitária e realização de obras, caso sejam necessárias. “Paralelo às inaugurações, o Hemominas ainda faz o treinamento da equipe de profissionais indicados pelas prefeituras dos municípios”, explica.

Fatores determinantes para um município receber um posto de coleta do Hemominas

Segundo a diretora, o investimento em equipamentos para funcionamento de um Pace com duas unidades de coleta é de R$ 432.584,50. Ela afirma que os postos são indicados para implantação em municípios com mais de 50 mil habitantes, sendo que o Hemominas realiza uma avaliação estratégica das regiões de abrangência. “A população flutuante (pessoas que trabalham ou estudam em um determinado município, mas não moram lá) também é considerada fator importante para implantação, além de observar se a microrregião possui hospitais com mais de 30 leitos e o potencial populacional com idade elegível para doação de sangue, que é entre 16 e 69 anos”, enfatiza.

Fabiana diz que as regiões Norte e Noroeste de Minas Gerais, bem como os vales do Jequitinhonha, Mucuri e Rio Doce são localidades em captação de municípios para implantação de Paces, já que existe uma distância entre os mesmos e as unidades de coleta disponíveis em Minas atualmente. 

Hemocentro de Belo Horizonte, no bairro Santa Efigênia, região Leste da capital mineira. Foto: Alex de Jesus / O TEMPO

O aumento no número de postos vai ampliar o estoque de sangue?

Os Paces funcionam, habitualmente, duas vezes na semana, com capacidade de atendimento de 60 candidatos à doação por dia, com uma previsão mensal de 480 candidatos, o que, para ela, representa uma estratégia mais eficiente e sustentável em termos de custo-benefício, tanto para o estado quanto para as cidades. 

“A estratégia de distribuição das coletas de sangue é importante, uma vez que oferece maior proximidade e facilidade de acesso aos candidatos à doação, garantindo aumento do estoque a um custo operacional reduzido”, reforça.

Hemonúcleos de São João del Rei e Ponte Nova serão realocados em imóveis maiores

A hematologista revela que a estrutura atual dos Hemonúcleos de São João del Rei, no Campo das Vertentes, e Ponte Nova, na Zona da Mata, está subdimensionada. Ela explica que as unidades necessitam de um imóvel mais amplo para atender às normas vigentes, especialmente da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nº 50, de 2002, que estabelece o regulamento técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde. 

“Além do novo imóvel, será realizado investimento apenas em novos mobiliários, já que os equipamentos atuais dessas duas unidades atendem à demanda e às normas vigentes para coleta e distribuição de hemocomponentes e hemoderivados e atendimento a pacientes. A nova estrutura dessas unidades atenderá a todas as normas construtivas para estabelecimentos assistenciais de saúde, cumprindo todos os requisitos mínimos de segurança, área, acabamento, fluxo de pacientes e doadores, entre outros. enfatiza.

Inativação de patógenos: Hemominas se tornou referência em método que inibe a transmissão de doenças via sangue

Implantada em dezembro de 2021 pela Hemominas, a Técnica de Inativação de Patógenos (TRP) é uma forma de anular a transmissão de doenças como dengue, Zika, Chikungunya, malária e febre amarela que, eventualmente, poderiam ser transmitidas em uma transfusão de sangue. Desde a época em que foi inserida até junho de 2025, a instituição aponta a realização de 74.365 procedimentos desse tipo, —  sendo 13.125 registrados neste ano.

De acordo com a médica hematologista da Hemominas, Júnia Cioffi, a rede mineira foi pioneira ao adotar a TRP no serviço público brasileiro. Ela explica que a metodologia consiste no tratamento das plaquetas do sangue, que são armazenadas em bolsas, recebem um produto químico e são submetidas a uma luz ultravioleta que inativa os agentes infecciosos causadores das doenças.  

Laboratório onde é realizado o procedimento de inativação de patógenos, no Hemocentro de BH. Foto: Alex de Jesus / O TEMPO

“Esse é um tratamento das plaquetas para inativar patógenos, vírus e bactérias que não são triados pelos testes que fazemos. É um método benéfico que veio proteger, principalmente, os componentes do sangue que são plasmáticos, especificamente os concentrados de plaquetas, que serão utilizados em pacientes com distúrbios de coagulação, em tratamento quimioterápico ou transplantados. Atualmente, 55% das plaquetas produzidas no estado passam pelo processo de inativação”, explica.

Júnia Cioffi acrescenta que a técnica permite, de forma potencial, aumentar a segurança durante os processos de transfusão de sangue, aumentar o prazo de validade das plaquetas — que aumenta de cinco para sete dias de vida útil —, melhorar o gerenciamento de estoque e reduzir os desperdícios do hemocomponente. Em Minas, o procedimento é realizado apenas nos Hemocentros de Belo Horizonte e no de Uberlândia, no Triângulo Mineiro.

“A Hemominas tem aumentado, anualmente, o número de plaquetas submetidas à inativação de patógenos, por meio da estratégia de regionalização da produção de hemocomponentes, o que reduz o custo do procedimento. Atualmente, mais da metade das plaquetas produzidas na rede são inativadas no Hemocentro de Belo Horizonte”, finaliza.

Número de inativações de patógenos realizadas por ano desde a implantação:

Confira o número de inativações de patógenos realizadas por ano desde a implantação do procedimento em 2021:

  • 2021: 1.790
  • 2022: 16.141
  • 2023: 18.653
  • 2024: 24.656
  • 2025 (até junho): 13.125