Após um início de 2025 marcado por uma crise nos hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) de Belo Horizonte, com sobrecarga na fila de urgências, suspensão de cirurgias ortopédicas e, até mesmo, o fechamento do Hospital Risoleta Neves, a Prefeitura da capital (PBH) anunciou, nesta quinta-feira (20 de fevereiro), a implantação de um "Plano Municipal Assistencial em Eventos de Múltiplas Vítimas". 

Segundo o secretário municipal de Saúde, Danilo Borges, o plano tem o objetivo de "evoluir a capacidade da cidade" em dar respostas a eventos com diversas vítimas. "A gente não gosta que eles aconteçam, mas temos que estar prontos para o caso disso ocorrer. Então, a gente envolveu o Samu, todas as UPAs, todos os hospitais que têm pronto-socorro, para trabalhar na ampliação de suas capacidades, na oferta efetiva de leitos, recursos de exames e blocos cirúrgicos, entre outras coisas, para que possamos dar atendimento rápido e efetivo a todos que precisem", disse o chefe da pasta. 

Perguntado sobre a crise recente envolvendo alguns dos maiores hospitais da capital mineira, Borges confirmou o problema e reforçou a importância de se ampliar o diálogo com a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), responsável por alguns dos maiores hospitais de urgência da capital mineira, para que o Estado e o município possam responder "em conjunto" nestas situações. 

"A gente tem contratos com os hospitais da Fhemig, contratos que são assinados após anuência de ambas as partes, em que a gente (PBH) não propõe nada que não seja vocação daqueles hospitais. O Samu que leva 60% das vítimas de traumas e acidentes para as UPAs do próprio município. Não há uma pactuação, uma contratualização com com os hospitais da Fhemig, especialmente o João XXIII, para que eles tenham que atender algo que não seja da vocação daquele hospital", completou. 

Raquel Felisardo, diretora de Atenção às Urgências e Emergências da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), explica que, com 2,3 milhões de habitantes, BH conta com 3.748 leitos distribuídos em 11 hospitais da cidade e em cada uma das UPAs que estão instaladas em todas as nove regionais. 

"Quando iniciamos esse diálogo com os hospitais sobre a importância do plano integrado, descobrimos que somente 40% deles tinham seus próprios planos internos. E foi muito legal, pois eles iam apresentando como faziam e foi servindo também de aprendizado, de comunicação efetiva, na construção conjunta para que todos tivessem seu plano interno, para além do plano de ativação do Samu, que já existia. O nosso foco nessa construção vai ser sempre dar uma resposta rápida, sistematizada, organizada e efetiva para o incidente com múltiplas vítimas", detalhou Raquel. 

Cidade teve "teste" uma semana atrás

Durante a apresentação do Plano, Raquel Felisardo lembrou do grave acidente, registrado na última quinta-feira (13 de fevereiro), quando 15 pessoas ficaram feridas após um ônibus coletivo bater em uma pilastra no Complexo da Lagoinha. O episódio teria servido como um "teste" das capacidades do município neste tipo de atendimento. 

"A gente ficou muito orgulhoso, pois, na hora que o Samu disparou que tínhamos um incidente com múltiplas vítimas, a nossa preocupação era que ele ocorreu por volta de 18h30, próximo da troca de plantão, horário com muito trânsito. No primeiro momento a gente não sabia quantas vítimas teriam e, em minutos, conseguimos deslocar e, em menos de uma hora, o acidente já tinha sido encerrado e cada vítima estava em seu referido local. Foi muito legal ver que o plano funcionou na prática", celebra a diretora de Atenção às Urgências e Emergências. 

Treinamento dos trabalhadores

Questionado se os profissionais de todas as unidades de saúde envolvidas no plano passariam por treinamento sobre o "Plano Municipal Assistencial em Eventos de Múltiplas Vítimas", o secretário Danilo Borges garantiu que isso poderá ocorrer no futuro, mas que, inicialmente, cada unidade deverá promover cursos internos para seus profissionais. 

"A gente sabe que o Samu constantemente faz treinamentos para sua própria equipe e para as equipes envolvidas na Secretaria Municipal de Saúde. O que a gente está fazendo agora é estimulando e dando os recursos necessários para que a cidade treine, como um todo, e faça os seus simulados coordenados. A gente induz os hospitais que assinam o termo de compromisso desse plano a realizar os seus próprios treinamentos, mas, em determinados momentos, nós vamos os chamar para que eles componham um treinamento municipal", concluiu.