A biomédica de 35 anos presa após a morte de uma paciente, de 46, durante uma lipoaspiração em Divinópolis, na região Centro-Oeste do Estado, em maio de 2023, foi condenada em outro caso. Agora, a Justiça sentenciou a profissional a quatro anos e seis meses de prisão em regime semiaberto e a pagar R$ 50 mil de indenização para um homem de Belo Horizonte, que teve a boca deformada durante um procedimento em Divinópolis, em julho de 2022. Segundo os autos, ela não possuía habilitação técnica e utilizou uma substância inadequada nos lábios da vítima.
Na decisão judicial, publicada no dia 31 de janeiro de 2025, a juíza Marcilene da Conceição Miranda, da 3ª Vara Criminal da Comarca de Divinópolis, pontuou que a biomédica "ofendeu a integridade corporal da vítima e causou lesões corporais de natureza grave, conforme exame corporal complementar".
Conforme a sentença, o pagamento da indenização de R$ 50 mil é para ressarcir os danos financeiros e em função do grau da lesão e do sofrimento físico, além do desgaste emocional enfrentados pelo homem. Ele permaneceu afastado do trabalho por mais de 30 dias, o que gerou "sentimento de angústia, aflição e incerteza, sofrimentos que vão além da dor física."
Entenda o caso
Segundo o processo, no qual O TEMPO teve acesso, em 2022 a vítima foi até Divinópolis para realizar um procedimento estético com a mulher, que se apresentou como biomédica e especialista em harmonização facial. Ela iria realizar um procedimento estético nas mandíbulas e no queixo, utilizando a substância ‘metil metacrilato’, com promessa de longa duração.
De acordo com o depoimento do rapaz, a biomédica teria aplicado anestesia com uma agulha e introduzido a substância nos lábios e no queixo por meio de uma cânula - processo que durou cerca de uma hora. No final da aplicação, a profissional receitou alguns medicamentos.
Ele relatou que a suspeita não solicitou exames prévios para o procedimento nem mencionou a necessidade de autorização profissional para realizá-lo. Após o término do procedimento, a vítima começou a sentir dores intensas no lábio inferior e notou inchaço e roxidão.
A biomédica disse que os sintomas eram normais e relacionados à melanina da pele, orientando apenas que fossem realizadas compressas de água morna, o que, de acordo com a vítima, não amenizou a dor. Devido à intensificação dos problemas, a vítima procurou atendimento em um hospital de Divinópolis, onde foi diagnosticado com edema e cianose (coloração) no lábio inferior, conforme relatório médico, sendo medicado antes da alta.
O paciente retornou para Belo Horizonte após o atendimento e começou a notar sinais de necrose no lábio inferior e no queixo, além de dores persistentes e falta de circulação sanguínea nas áreas afetadas. O rapaz entrou em contato com a suspeita novamente, e ela disse para que ele “fosse embora”, que “não estava aguentando mais” e que estava se sentindo “sufocada”.
Ele buscou atendimento no Hospital João XXIII, onde foi informado de que seria necessária a remoção completa do lábio inferior e do queixo devido à necrose. Porém, comovidos com a situação da vítima, os funcionários do João XXIII providenciaram um tratamento junto ao Instituto Thoppi, que é especializado em intercorrências estéticas. Desde então, o rapaz vem passando por diversas sessões de terapias e procedimentos.
Biomédica foi indiciada por morte de paciente durante procedimento em 2023
Em outubro de 2023, a profissional e mais três funcionários de uma clínica foram indiciados pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) após a morte de uma paciente de 46 anos.
De acordo com informações da PCMG, o marido da vítima contou que a mulher foi informada que o procedimento de lipoaspiração custava R$ 18 mil. No entanto, a cirurgia acabou saindo pelo valor promocional de R$ 12 mil, com encaixe rápido e sem avaliação de risco cirúrgico.
A mulher foi submetida à cirurgia, mas, durante o procedimento, sofreu uma parada cardiorrespiratória. Ela foi socorrida pelo Serviço Móvel de Urgência (SAMU) e levada para o hospital, mas não resistiu. Após a morte da paciente, investigadores e peritos compareceram à clínica e constataram irregularidades, autuando a biomédica e uma técnica de enfermagem em flagrante.
Ao longo do processo investigativo, a PCMG ouviu mais de 20 pessoas e arrecadou provas para o inquérito de mais de 700 páginas. As apurações apontaram irregularidades na clínica, como falta de equipamentos de suporte e ocultação de itens usados nos procedimentos. Foi concluído que a morte da mulher aconteceu por intoxicação devido ao excesso de anestésicos, hemorragia, parada cardiorrespiratória e aspiração que resultou em lesão pulmonar.
Com base nas provas, foi concluído que a biomédica assumiu o risco de matar a vítima, por realizar o procedimento sem habilitação e em local inapropriado. Segundo a Polícia Civil, a clínica não tinha autorização para realizar cirurgias e não possuía estrutura física adequada para atendimento emergencial. Ainda conforme a instituição, o estabelecimento tinha autorização para operar apenas como clínica estética.
No dia 22 de março de 2024, ela foi presa após descumprir uma medida cautelar. Porém, dias depois, ela foi solta sob a alegação de que o "tempo de prisão, de cerca de um mês, foi suficiente para demonstrar que o Poder Judiciário está atento ao cumprimento de suas ordens e exige o respeito às suas decisões".