O surto de sarampo nos Estados Unidos alerta para o risco de propagação da doença em populações com baixa cobertura vacinal. Isso porque o vírus é de fácil transmissão, e uma pessoa doente pode contaminar até 90% do seu grupo de convívio caso este não esteja imunizado. No Brasil, conforme o Programa Nacional de Imunização (PNI), do Ministério da Saúde, a meta de vacinação para evitar surtos da doença é de 95% – índice que foi alcançado com a primeira dose no ano passado.

"Esse é um vírus transmitido por via aérea. Ou seja, tem um potencial muito grande de transmissão. Como há essa alta transmissibilidade, a cobertura vacinal é fundamental. O que vai definir se teremos um surto ou não é a quantidade de pessoas vacinadas. No Brasil, a meta é de 95%. Se estiver abaixo disso, corremos um risco, sim", destaca o médico infectologista Leandro Cury.

O alerta é semelhante ao do infectologista Argus Leão, profissional da rede Mater Dei. Segundo o especialista, o Brasil ainda se recupera de uma queda na cobertura vacinal, que se iniciou há uma década – com a pior taxa de imunização registrada em 2021, quando o índice foi de 79%, conforme o Ministério da Saúde. "Esse é um trabalho que temos feito nos últimos dez anos. Isso, de certa forma, deixa a população mais vulnerável ao risco de doenças, não só do sarampo. Por isso, é importante insistir na meta de cobertura vacinal", pontua.

Em Minas Gerais, conforme a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), a cobertura vacinal está em 101,98% do público-alvo (crianças de 1 ano de idade) para a primeira dose e 89,50% para a segunda dose. Na capital, Belo Horizonte, o percentual para a primeira dose contra o sarampo está acima de 106,5%, enquanto a segunda dose atinge 83,6%. "Precisamos melhorar essa segunda dose para ter mais tranquilidade. É importante lembrar que a imunização não só inibe a transmissão, como evita casos mais graves, incluindo mortes", afirma o infectologista Leandro Cury.

O Estado confirmou, em 2024, um caso de sarampo em um jovem de 17 anos. Ele é residente em Belo Horizonte e teria se infectado durante uma viagem para a Inglaterra. Um dia após retornar ao Brasil, o jovem apresentou sintomas característicos da doença, como tosse, dor de cabeça, dores no corpo e erupção cutânea. "Precisamos lembrar que o sarampo é totalmente evitável. Mas, para isso, devemos manter o cuidado com o calendário vacinal, ainda mais por ser uma doença perigosa", acrescenta Cury.

Vacinação

A vacina contra o sarampo faz parte do esquema vacinal da tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola. A imunização consiste em duas doses para pessoas até 29 anos, sendo a primeira aplicação aos 12 meses e a segunda aos 15 meses. Para indivíduos de 30 a 59 anos, é aplicada apenas uma dose, caso a pessoa não tenha sido vacinada anteriormente. O imunizante está disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS).

"O que aconteceu no Texas foi a circulação do vírus, certamente. Uma pessoa infectada transmitiu para um grupo que não estava protegido. Isso reflete uma população com baixa cobertura vacinal", considera Leão. Para o especialista, o cuidado precisa ser redobrado em relação às pessoas que viajaram para a África e a Europa. "São locais com pouca imunização, por isso há mais chances de contaminação", destaca.

Conforme o último balanço, nos Estados Unidos foram confirmados 198 casos no Texas e dez no Novo México. Cada Estado registrou uma morte. Nenhuma das vítimas estava vacinada contra o sarampo. A causa oficial dos óbitos ainda não foi divulgada; no entanto, os Centros para o Controle e a Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos classificaram as mortes como relacionadas ao sarampo.

Comunicação pode melhorar a cobertura vacinal

A diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai, acredita que uma das estratégias para ampliar a vacinação, alcançando melhores índice de cobertura vacinal, é a comunicação. “Hoje, por exemplo, a terceira fonte de maior confiança da população brasileira, segundo as pesquisas, é a TV aberta. A gente não tem mais comunicação da saúde pública na TV aberta, ou tem muito pouca. A gente precisa ir aonde o povo está. Os municípios têm feito a busca ativa de pessoas que não são vacinadas, o que ajuda muito a melhorar a cobertura vacinal. Só que hoje comunicar não é como era nos anos 90, nem nos anos 2000. Então a gente precisa fazer uma comunicação diferente, que chame a população de uma maneira empática e que mostre que a preocupação é com eles e não com as coberturas vacinais”, explica.

Ballalai reforça a afirmação dos especialistas sobre a imunização, e reforça que as campanhas de vacinação precisam ser prioridade diante do objetivo de garantir a proteção de toda a população. “Elas são fundamentais porque a população precisa entender a relevância da dose extra, afinal essa dose é capaz de homogeneizar a cobertura vacinal e proteger aqueles 2 a 5% da população que tomaram duas doses e não ficaram protegidos. A proteção coletiva é que protege a população do risco do sarampo. Agora, é importante para campanhas que essas pessoas sejam envolvidas, como antigamente, em que era quase um ato coletivo levar as crianças para vacinar,” finaliza.

O que é o Sarampo?

Sarampo é uma doença infecciosa grave, causada por um vírus, que pode levar à morte. Sua transmissão ocorre quando o doente tosse, fala, espirra ou respira próximo de outras pessoas. A maneira mais efetiva de evitar o sarampo é por meio da vacinação.

Sinais e Sintomas

  • Exantema (manchas vermelhas) no corpo e febre alta (acima de 38,5°) acompanhada de um ou mais dos seguintes sintomas:
  • Tosse seca;
  • Irritação nos olhos (conjuntivite);
  • Nariz escorrendo ou entupido;
  • Mal-estar intenso;

Quem deve se vacinar? 

Crianças: A vacinação contra o sarampo faz parte do Calendário Nacional de Vacinação. A administração da primeira dose deve ser aplicada aos 12 meses de idade (tríplice viral – sarampo, caxumba e rubéola) e a segunda aos 15 meses (tetra viral– sarampo, caxumba, rubéola e varicela);

Pessoas de 5 até 29 anos de idade devem ter duas doses da vacina com intervalo mínimo de 30 dias entre as doses. A pessoa que comprovar 2 doses da vacina tríplice viral será considerada vacinada;

Pessoas de 30 aos 59 anos de idade devem ter uma dose da vacina. A pessoa que comprovar 1 dose da tríplice viral será considerada vacinada;

Trabalhadores da saúde: Devem receber 2 doses de tríplice viral, a depender da situação vacinal encontrada, independentemente da idade. Considerar vacinado o trabalhador da saúde que comprovar 2 doses da tríplice viral.