Grupos de proteção animal em Belo Horizonte estão preocupados com o avanço da esporotricose na capital — uma zoonose fúngica que atinge principalmente gatos e pode ser transmitida a humanos. Os casos notificados da doença em humanos cresceram 64% entre janeiro e maio deste ano, em comparação com o mesmo período de 2024, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. O tema foi discutido em audiência pública na Câmara Municipal nesta segunda-feira (7/7), quando o vereador Osvaldo Lopes (Republicanos) propôs a criação de um Comitê Interinstitucional de enfrentamento da doença.
De acordo com dados da prefeitura, 121 pessoas foram infectadas por esporotricose nos primeiros cinco meses deste ano, contra 74 diagnósticos no mesmo período de 2024. Entre os animais, a situação também se agravou: 393 casos foram registrados de janeiro a maio — um aumento de 39% em relação ao mesmo intervalo do ano passado, quando 282 animais foram diagnosticados com a doença. A infecção causa lesões graves na pele e, em pessoas imunossuprimidas, pode evoluir com complicações que atingem órgãos, como os pulmões.
A diretora técnica do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, Vânia Nunes, classifica o cenário como uma "epidemia". “Não é nem surto, é uma epidemia registrada em 26 das 27 unidades federativas do Brasil. Agora, é preciso reforço para tratamento, principalmente dos gatos de rua”, afirmou. Na audiência, os protetores dos animais defenderam que a esporotricose tem tratamento e cura, mas, sem controle epidemiológico, os gatos de rua se tornam as principais vítimas. "Quase toda semana estou internando animais com esporotricose", desabafou a especialista em medicina felina, Danielle Magalhães.
A preocupação se concentra, principalmente, nas colônias de gatos que vivem nos 81 parques de Belo Horizonte. Segundo o vereador Osvaldo Lopes, falta uma política pública de tratamento e acompanhamento periódico desses felinos, cuja saúde estaria sendo “negligenciada”. “Na capital, é uma situação muito grave. São 81 parques municipais, todos ocupados por colônias de gatos. Em cada colônia, provavelmente, há um animal com esporotricose — e isso pode estar se alastrando entre os felinos”, alertou.
O tratamento público das colônias de gatos também foi apontado como um desafio pela vice-presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária de Minas Gerais (CRMV-MG), Myrian Kátia Iser Teixeira. "A esporotricose tem cura. É um diagnóstico simples, barato e não invasivo. O desafio está nas colônias de gatos, na captura, no tratamento e na posterior devolução desses felinos ao ambiente. Trata-se de uma questão de manejo populacional. Enquanto não olharmos para os gatos e o tratamento deles, não conseguiremos controlar a doença em humanos", afirmou.
Como uma das principais estratégias de enfrentamento ao avanço da doença em Belo Horizonte, a especialista do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, Vânia Nunes, defende a castração em massa da população de gatos de rua da capital. "A falta de castração facilita a transmissão de doenças no próprio acasalamento, entre elas, a esporotricose. Além disso, o gato que é atendido para castração, ele também vai receber tratamento para a infecção, se ela for detectada. É fundamental", afirmou.
Na audiência, especialistas alertaram para a importância da informação correta, do diagnóstico precoce e do acesso a políticas públicas integradas, com ações voltadas tanto para a saúde animal quanto para a saúde humana. Por isso, o vereador Osvaldo Lopes propôs a criação de um Comitê Interinstitucional, que seria composto por representantes da prefeitura, da sociedade civil e de entidades técnicas.
O objetivo do comitê seria “construir soluções conjuntas, articular ações educativas e ampliar o acesso ao tratamento gratuito para os animais contaminados”, informou o parlamentar por meio de nota. Representantes da prefeitura participaram da audiência e receberam a solicitação.
PBH orienta sobre tratamento e prevenção de esporotricose
Tratamento em animais: em Belo Horizonte, o tratamento da esporotricose em animais é realizado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, no Complexo Público Veterinário (CPV). A prefeitura disponibiliza exames laboratoriais gratuitos para o diagnóstico da esporotricose. O tutor pode procurar o centro de saúde mais próximo para solicitar a avaliação do felino pela equipe de Zoonoses. Se a doença for confirmada, o animal pode ser tratado.
Tratamento em humanos: para os casos em humanos, após avaliação clínica, realizada nos Centros de Saúde do município, o tratamento deve ser iniciado o mais rapidamente possível e sua duração pode variar, em média, de três a seis meses até a cura completa.
Prevenção para animais, orientação aos tutores: a principal forma de prevenção entre os animais é evitar que saiam de casa livremente, evitando que contraiam esta ou outras doenças e as transmitam, tanto para humanos como para outros animais. Animais sadios devem ser castrados, o que restringe a saída para a ronda, briga por fêmeas e por território.
"Como forma de prevenção, a Prefeitura investe nas campanhas educativas, quando são repassadas aos tutores informações sobre a guarda responsável, com medidas como a castração de animais e a vacinação em dia. Durante as visitas em domicílio, os Agentes de Combate a Endemias orientam às famílias sobre as formas de prevenção e controle das doenças", informou a PBH por meio de nota.