“Vim descalço porque é uma tradição muito antiga. Eu sigo os passos da minha mãe, que seguia os passos da minha avó. E a gente sempre vem à procissão penitencial. É a Sexta-feira Santa. É muito importante para a gente que é católico. E é realmente uma penitência. A gente refaz os passos de Jesus e tenta um pouco se aproximar da dor, do flagelo, de todo o sofrimento que ele teve por nós.”
As palavras emocionadas são de Arthur Augusto, de 37 anos, projetista mecânico, que participou da tradicional Procissão da Penitência na madrugada desta sexta-feira (18/04), em Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Caminhando descalço pelas ladeiras de pedra do centro histórico até o alto do Morro da Cruz, Arthur viveu intensamente cada passo dos três quilômetros de trajeto.
Este ano, a experiência teve um significado ainda mais profundo para ele. “Agora de manhã, meio que instintivamente, comecei a cantar uma música que minha mãe sempre cantava. Minha mãe hoje é falecida. E eu senti uma presença muito forte dela hoje. Todo ano eu venho, mas hoje tem esse ‘quê’ a mais: a presença dela espiritualmente ao nosso lado.”
A Procissão da Penitência é uma das mais marcantes manifestações de fé popular em Minas Gerais. A caminhada começa às 4h da manhã, quando os fiéis são acordados pelo som grave e cadenciado das matracas — instrumentos que substituem os sinos durante o luto da Semana Santa. Em silêncio, os participantes percorrem o trajeto em oração, em agradecimento ou em busca de consolo espiritual.
Em Sabará, a dor da cruz é lembrada não apenas com orações, mas com passos firmes — descalços, silenciosos e cheios de devoção.