A entrega de uma nova maternidade pública em Belo Horizonte, com capacidade para até 6.000 atendimentos mensais, está atrasada. As obras da estrutura pertencente ao Hospital Metropolitano Odilon Behrens (HOB) tiveram início em 2022, com previsão para serem concluídas no primeiro semestre de 2024, segundo a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Contudo, a reportagem de O Tempo, em visita na última sexta-feira (25) ao local, identificou apenas um prédio, ainda em fase de estruturação, sem indicativos de que será concluído em breve. Os impactos da demora na entrega da obra milionária vão além de uma promessa não cumprida e resultam em sobrecarga no sistema público de saúde, além de superlotação das maternidades públicas na cidade.
“Hoje, temos maternidade com altas demandas de atendimento. Essa alta procura influencia na qualidade dos atendimentos e na prestação de serviço. Uma gestante que chega ao hospital para dar à luz e encontra uma superlotação, por exemplo, pode ficar receosa. O mesmo ocorre ao profissional, que vai ter uma sobrecarga no trabalho tendo que lidar com a pressão do momento”, avaliou a coordenadora de comunicação do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Belo Horizonte (Sindebel), Aline Lara.
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Para a gestora, a conclusão das obras da maternidade, que é da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), pode garantir melhores condições para pacientes de Belo Horizonte e da região metropolitana, já que muitas vêm à capital em busca de atendimento médico.
“Ter mais uma maternidade no município é super importante para prestarmos um atendimento de excelência às gestantes e para que possamos desafogar o sistema, já que nossas maternidades são referência e atendem não só à população da cidade, mas também as pacientes que moram em cidades da região metropolitana”, completou.
A PBH foi questionada sobre o andamento da obra, mas até o fechamento desta edição, não retornou aos questionamentos.
Uma superestrutura prometida
O projeto da nova maternidade municipal prevê pronto-atendimento para urgências, emergências e casos de violência sexual, bloco obstétrico, Centro de Parto Normal (CPN), alojamento conjunto e setor de neonatologia. A estrutura também vai incluir a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para neonatos, Unidade de Cuidados Intermediários Convencionais e Unidade de Cuidados Intermediários Canguru. Entretanto, até o momento, só é possível contemplar seis andares de tijolos sem janelas e portas, além de amontoados de britas e areia da obra que custa R$ 27 milhões aos cofres da PBH junto ao CAF - Banco de Desenvolvimento da América Latina.
Atualmente, existem sete maternidades públicas de Belo Horizonte, sendo uma de responsabilidade da União (Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais), duas de esfera estadual (Hospital Júlia Kubitschek e Maternidade Odete Valadares) e quatro vinculadas ao município ou a entidades filantrópicas (Odilon Behrens, Risoleta Neves, Sofia Feldman e Santa Casa de Misericórdia). Quem está na ponta da linha, ou seja, atuando diretamente com esse público alvo, garante que a estrutura não é suficiente.
A diretora executiva do SindSaúde, Neuza Freita, responsável pelos servidores estaduais da saúde, disse que nas duas unidades médicas estaduais, que realizam cerca de 400 atendimentos aos mês, a demanda sempre é alta..
“No Júlia (Hospital Júlia Kubitschek), os atendimentos são voltados à população do Barreiro, que é a maior regional de Belo Horizonte, e à população da região metropolitana. O Odete Valadares também, sempre com taxa de ocupação altíssima, tem demanda alta, até porque é um hospital referência para todo o Estado”, disse.
Apesar de afirmar que, por uma questão geográfica, a maternidade Odilon Behrens não aliviaria a alta demanda do Júlia, a diretora garante que mais uma opção de atendimento seria essencial para a cidade. “A gente sempre fala que investimento em saúde nunca é demais, que quanto mais aumentar, melhor. Ainda que muitas mães não vão até o centro da cidade atrás de atendimento, ter mais uma opção ajuda sim a desafogar o sistema”, pontua.