Maior maternidade de Minas Gerais, o hospital filantrópico Sofia Feldman enfrenta grave dificuldade financeira, com déficit mensal de R$ 3 milhões. A situação pode gerar um colapso de atendimentos no segundo semestre de 2025, alerta a direção da unidade, que precisou recorrer, no início deste ano, a um financiamento para honrar a folha de pagamentos. A esperança é conseguir repasses junto ao poder público.
“Podemos ter fechamento de leitos, essenciais para assistência dos pacientes”, declara a diretora-executiva do Sofia Feldman, Tatiana Coelho. O hospital, 100% SUS, conta com 290 leitos distribuídos nas unidades Tupi e Carlos Prates, ambas em Belo Horizonte, e assiste uma média mensal de 800 partos. Além disso, é referência no atendimento materno-infantil (pré-natal de alto risco, parto e nascimento) e atende mais de 600 cidades.
Segundo a gestora, no início deste ano, o hospital precisou recorrer a um financiamento de R$ 12 milhões para honrar o “fluxo de caixa”. Essa, no entanto, não é a primeira vez que a unidade precisou adotar a medida. “Nosso medo é de não conseguir outro financiamento. Vamos ver se conseguimos recursos”, destaca.
Conforme a advogada Katia Rocha, representante da Federassantas, que defende o interesse dos hospitais filantrópicos de Minas Gerais, o Sofia Feldman aguarda o pagamento de um repasse junto ao Ministério da Saúde, anunciado em dezembro do ano passado. Trata-se de um aumento de 3,5% sobre o valor anual da produção assistencial, que ainda não teria sido pago por causa do atraso para aprovação do orçamento federal de 2025.
No entanto, esse pagamento é insuficiente para arcar com os custos de operação do hospital e zerar o défict mensal de R$ 3 milhões. Entre os problemas, estão a defasagem da tabela SUS e de outros repasses. "As coisas ficam paradas no tempo. Os custos aumentam com a inflação, mas não há reajuste. Por isso que o dinheiro nunca é satisfatório", explica.
A judicialização do tema não é um desejo da Federassantas. “Entendemos que é a última alternativa, porque só atrasaria mais. Estamos buscando o diálogo, administrativamente, com a União, o Estado e o município para que haja incorporação de recursos”, destaca Katia.
A reportagem solicitou um posicionamento ao Ministério da Saúde sobre a defasagem nos valores dos repasses e o atraso para o pagamento da recomposição sobre o valor anual da produção assistencial. Contudo, até a última edição, não obteve retorno. O texto será atualizado em caso de retorno.
O que diz a Prefeitura de BH?
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Belo Horizonte destacou que faz repasse de recursos para o Hospital Sofia Feldman “de acordo com a produção de serviços (internação hospitalar e atendimentos ambulatoriais)”. Segundo o município, “esses dados são apurados e aprovados, seguindo os termos de cooperação do convênio”.
“Como o repasse é feito de acordo com a produção do hospital, os valores têm aumentado significativamente. No âmbito ambulatorial, a média mensal, por exemplo, de R$ 95.206,31, em 2020, saltou para R$ 345.455,73, em 2024. Já no âmbito hospitalar, a média do mês saiu de R$ 7.600.507,85, em 2020, para mais de R$ 11.547.466,11, em 2024”, acrescentou.
“Cabe esclarecer que a Secretaria Municipal de Saúde mantém um contrato com o Hospital Sofia Feldman, que prevê a oferta e a prestação de serviços de saúde em regime hospitalar, ambulatorial, apoio diagnóstico e terapêutico, em caráter eletivo e de urgência/emergência. As especialidades atendidas pelo hospital incluem, principalmente, serviços materno-infantis e cuidados neonatais”, completou.