Após denúncias e a visita da vereadora Marcela Trópia (Novo), a situação de um albergue localizado na avenida Coronel José Dias Bicalho, no bairro São Luís, na região da Pampulha, será tema de uma reunião entre a Associação dos Moradores dos Bairros São Luís e São José (Pró-Pampulha), vereadores e o secretário municipal de Governo, Guilherme Saltro. O encontro acontece nesta terça-feira (20), na Prefeitura de Belo Horizonte, conforme informação da Pro-Pampulha.
A discussão veio à tona depois que Marcela Trópia publicou um vídeo relatando supostos riscos para as crianças albergadas, como ausência de proteção nas janelas "As crianças ficam dependuradas", disse. A vereadora também denunciou possível exposição dos menores a situações de abuso. “Há crianças com erotização precoce, submetidas às brigas de adultos, e sabe-se lá mais o que está acontecendo aqui”, publicou a vereadora. No local, a reportagem visualizou a falta de redes ou grades nas janelas do imóvel, mas não flagrou nenhuma situação semelhante a relatada pela vereadora.
Por meio de nota, a vereadora avaliou a situação da unidade como “muito grave” e disse que “colocar pessoas sem supervisão, sem tratamento e sem organização dentro de um imóvel não resolve o problema e gera um impacto enorme nas imediações.” Marcela afirmou ainda que fez um pedido de informação à Prefeitura de Belo Horizonte “para ter acesso aos dados do contrato com a organização social responsável pelo espaço”.
O objetivo, segundo ela, é entender se as crianças que vivem lá estão em segurança. Ela completou que “a Prefeitura precisa cobrar isso dos responsáveis pela unidade e, se for o caso, rever o contrato”, disse a nota.
A reportagem cobrou um posicionamento da PBH sobre a quantidade de pessoas que vivem na casa e como é feita a gestão do local. O retorno poder ser conferido na nota enviada pelo Executivo municipal ao término da matéria. O Conselho Tutelar também foi procurado, mas ainda não respondeu à solicitação.
A população do entorno também considera que há necessidade de ampliar a supervisão no albergue, com o objetivo de assegurar o amparo às crianças e o auxílio às pessoas em situação de vulnerabilidade. Um comerciante da região, que pediu anonimato, disse que há registros de violência perto do albergue.
“Antes, essa casa era um hotel, mas, com a pandemia, acho que, buscando uma alternativa para o local, o dono fez uma parceria com o poder público e transformou o imóvel em albergue. Sempre tem briga, gritaria, já teve uma vez que quebraram a fachada de vidro com pedras, tem gente que fica usando drogas e, quando há despejo, colocam as coisas da pessoa na calçada. Aí é uma confusão só”, reclamou.
“Infelizmente, alguns (albergados) que usam o abrigo, muitas vezes, têm sido agressivos com moradores ou clientes do comércio local. Passou a haver pequenos delitos, como furtos de fios das edificações, quebras de vidros dos veículos e retirada de pertences. Houve várias conversas entre vizinhos e aqueles que deveriam zelar pelo espaço, porém sem resultados satisfatórios”, disse o Diretor de Segurança e Ambiente da Pro-Pampulha, Matuzail Martins da Cruz.
A Polícia Militar de Minas Gerais e a Guarda Municipal de Belo Horizonte foram questionadas sobre o número de chamados que as duas corporações têm recebido desde o ano passado em relação às ocorrências no local, mas ainda não responderam.
Capital mineira é a quarta no ranking de população de rua
Em Belo Horizonte, a cada mil habitantes, seis vivem nas ruas. O município aparece como a quarta capital do Brasil com mais cidadãos vivendo nessa condição, quando se analisa a estatística por mil habitantes. Em Minas Gerais, o número de pessoas vivendo nas ruas tem aumentado. Em dezembro de 2013, eram 3.862, e, em dezembro de 2024, subiu para 30.244. O crescimento foi de 700%.
Posicionamento
Confira o que disse a PBH sobre o local:
"A unidade é um equipamento de acolhimento institucional transitório/emergencial para famílias atendidas pela Prefeitura de Belo Horizonte. Acolhe temporariamente até 50 pessoas em situação de rua ou em outras situações de emergência, até que possam retornar para suas casas, casas de familiares ou para suas cidades de origem. Além do acolhimento e do trabalho social realizado com base nas diretrizes do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), são servidas seis refeições diárias às pessoas acolhidas.
A prioridade da unidade é o atendimento de famílias com crianças e parte do compromisso firmado pela PBH em não admitir crianças permanecendo na rua, além de preservar os vínculos familiares. Cada família é acomodada em um quarto individual.
A segurança do espaço conta com o apoio da Guarda Civil Municipal, que inclui a unidade em sua rota de rondas.
O serviço é público municipal e executado em parceria com uma Organização da Sociedade Civil, sob acompanhamento da Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos. A execução é feita por meio da locação total das diárias de um local onde funcionava uma pousada privada. A equipe é composta por assistentes sociais, psicólogos, monitores, profissionais de serviços gerais e porteiro.
A unidade foi criada inicialmente para efetivar o isolamento social de pessoas em situação de rua durante a pandemia pela COVID 19. Com o agravamento de vulnerabilidades sociais e o aumento de famílias em situação de rua, bem como de outros tipos de emergência, passou a atender também famílias desabrigadas.
A Guarda Civil Municipal informa que nos quatro primeiros meses deste ano, foram registradas 3 ocorrências na Casa de Acolhimento Emergencial e Provisório, no Bairro São Luiz. Já no ano passado, em igual período, foram 6."