Pacientes dos hospitais de pronto-atendimento Risoleta Tolentino Neves, no bairro Vila Clóris, na região Norte de Belo Horizonte, e Infantil João Paulo II, no bairro Santa Efigênia, na região Leste da capital, reclamaram da demora para atendimento neste domingo (4). Em alguns casos, a espera ultrapassou quatro horas.
A reportagem de O TEMPO percorreu as unidades citadas na manhã e na tarde desta data. Apesar de não ter encontrado lotação nesses ambientes, houve registro de reclamações de pacientes diante do alongado tempo necessário para receber assistência.
É o caso da aposentada Maria Aparecida de Oliveira, de 82 anos, moradora do bairro São João Batista, na região Norte. A idosa sofreu uma queda em casa na madrugada e, com muita dor e suspeita de fratura na clavícula, procurou ajuda no Risoleta, às 9h. "Chegamos, passamos pela triagem, e pediram para aguardar. As pessoas que chegam no Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), na polícia, vão passando na nossa frente", contou a filha de Maria, a desempregada Rosimeire de Oliveira, de 39 anos, por volta de 13h30 - ou seja, espera de mais de quatro horas.
Na mesma sala de espera, Enilda Machado Nascimento, de 63 anos, também reclamava de dor enquanto aguardava socorro desde 10h deste domingo. A idosa bateu a cabeça após cair de uma escada na residência onde vive, no bairro Santa Cruz, na região Nordeste de BH. "Estou sem comer desde cedo e com dor. Não me deram nenhum remédio", declarou. A filha dela, a autônoma Juliana Nascimento, de 41 anos, explicou que a família está ansiosa e preocupada, aguardando por um raio-X para ver a gravidade do tombo. "A triagem foi rápida, mas até agora só isso", completou.
Casos respiratórios
No Hospital Infantil João Paulo II, localizado na área hospitalar de Belo Horizonte, famílias aguardaram por volta de 2h por atendimento de suas crianças - a grande maioria delas com sintomas de incômodos respiratórios, como relatou a dona de casa Gleiciane Gomes Ribeiro, de 43 anos, moradora do bairro Nova Granada, na região Oeste da cidade. O filho dela, Miguel, de dois anos, teve pneumonia recentemente, e apresentou febre nos últimos dias. "Suspeito que é um quadro respiratório. Precisamos olhar isso", afirmou a mãe, que já aguardava por volta de 2h15 desde que chegou na unidade.
O instalador de ar condicionado Luiz Felipe Gomes, de 27 anos, saiu de Santa Luzia, na região metropolitana da capital, para buscar ajuda para o filho, Estevão, no João Paulo Eles chegaram ao local por volta de 10h30 e não tinham sido atendidos até 12h. "Lá (em Santa Luzia) é ainda pior. Por isso, vim pra cá. Estevão está tossindo muito e teve muita febre nessa noite. Estou preocupado. Esperava um fluxo menor por ser domingo, mas está demorando", disse o homem.
A cabeleireira Gilselene Cordeiro, de 48 anos, moradora de Contagem, na Grande BH, levou a filha, Laura, de nove anos, para receber atendimento devido à febre e dor de cabeça que apresenta há três dias. "Demora muito para ser chamado. Mas é um bom atendimento. Eu acho que nós, adultos, conseguimos esperar, mas criança sofre muito mais que nós. Deveria ser mais rápido", sugeriu.
Outro lado
Em nota, a Fundação de Apoio da UFMG (Fundep), que gerencia o Risoleta Tolentino Neves, admitiu que o hospital tem operado acima da sua capacidade. Mas ressaltou que a unidade é "referência para 1,5 milhão de habitantes do Eixo Norte de BH e dos municípios vizinhos". Além disso, frisou que estuda novas medidas para diminuir o tempo de espera, como remanejamento de equipes conforme a demanda do dia.
Confira abaixo a íntegra da nota:
O Hospital Risoleta Tolentino Neves é uma unidade porta aberta, destinado a casos de urgência e emergência de média e alta complexidade.
O Hospital segue o Protocolo de Manchester para a classificação de atendimento dos pacientes. A ordem de priorização leva em consideração o quadro clínico.
Fichas vermelhas, laranjas e amarelas - urgentes e mais graves, relacionadas ao perfil do Hospital.
Fichas verdes e azuis - casos de menor gravidade ou urgência que aguardam mais tempo ou que podem ser atendidos em outros serviços de saúde pública, como as UPAS e Unidades Básicas de Saúde (UBS).
Nas últimas semanas, o Risoleta tem operado acima da sua capacidade, devido ao aumento da demanda por atendimento, impactando no tempo de espera dos pacientes não-críticos.
Cabe ressaltar que o Risoleta é reconhecido pela assistência ao trauma, às doenças clínicas, cirúrgicas, neurológicas e vasculares e atendimento às gestantes de alto, médio e risco habitual.
É o único Hospital Geral da região, referência para 1,5 milhão de habitantes do Eixo Norte de BH e dos municípios vizinhos.
A Direção do Hospital avalia de forma recorrente novas medidas para diminuir o tempo de espera, como remanejamento de equipes conforme a demanda do dia.
Além disso, já foram realizadas contratações de médicos emergencistas para atendimentos de pacientes mais complexos e graves.
As equipes têm se esforçado para prestar uma assistência segura e qualificada com os recursos disponíveis.
Já a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), responsável pelo Hospital Infantil João Paulo II, enviou a seguinte nota:
Em virtude do período sazonal de doenças respiratórias, a procura por atendimento para esses casos específicos, em abril e início de maio, está cerca de 50% maior em relação aos outros meses, aumentando, também, a gravidade dos sintomas. Neste cenário, o Hospital Infantil João Paulo II, do Complexo Hospitalar de Urgência da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), tem atendido mais de 260 crianças diariamente.
Nas últimas semanas, como parte do plano de contingência da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) para ampliar a capacidade assistencial que tradicionalmente sobrecarrega o sistema de saúde no outono e inverno, a unidade abriu 15 leitos semi-intensivos e contratou mais médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e fisioterapeutas. Atualmente, a escala foi reforçada, com seis a oito pediatras no pronto atendimento.
Com o decreto estadual de emergência em saúde em função das doenças respiratórias, a Fhemig abriu inscrições para profissionais que queiram se candidatar às vagas do chamamento emergencial, oferecidas em unidades da capital, incluindo o Hospital João Paulo II, para reforçar ainda mais o atendimento.
Vale ressaltar que o HIJPII é referência para casos graves e para a região Centro-Sul de Belo Horizonte. Diante dessa situação de urgência, o tempo na espera por atendimento para os casos de menor gravidade no HIJPII está maior.
Por isso, a orientação é que pacientes com sintomas leves, incluindo coriza, tosse, febre e dor no corpo, busquem atendimento primeiramente em outros serviços da rede municipal do SUS, como as Unidades Básicas de Saúde (UBS) ou, em casos de urgência, nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA).
Para reduzir os casos graves e óbitos por doenças respiratórias, a SES-MG reforça a importância da vacinação contra influenza, covid-19 e coqueluche. Os imunizantes estão disponíveis nas Unidades Básicas de Saúde. Também é importante intensificar medidas de higiene, como assepsia das mãos, e evitar locais fechados ou de grandes aglomerações.