Depois de ficar oito dias internada com bronquiolite na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de Justinópolis, em Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte, a pequena Alice, de apenas dois meses, foi transferida para a capital mineira nesta quinta-feira (8 de maio). Um vídeo enviado à reportagem de O TEMPO pelo pai da pequena, Rafael Souza Filgueira, mostra o momento em que uma ambulância deixa a unidade de Saúde em Neves e se desloca para o Hospital Infantil João Paulo II, no bairro Santa Efigênia, região Leste de BH. 

Nessa quarta-feira (7 de maio), a reportagem conversou com Rafael, que disse que a garotinha foi levada até a unidade por estar com uma tosse com catarro. Porém, logo após passar pela triagem, a filha acabou sendo internada na unidade. "De cara informaram que era uma bronquiolite, e a situação dela foi ficando cada vez pior, está respirando só no oxigênio. E está se agravando cada dia mais. Eles (funcionários da UPA) tentam a transferência, e não conseguem. Ela chegou a desmaiar, ficou roxa", contou o pai sem esconder o desespero.

Outra criança que esperava vaga também foi transferida

Uma outra criança que estaria na mesma situação na UPA foi transferida. A informação foi confirmada por meio de nota divulgada Prefeitura de Ribeirão das Neves. Confira na íntegra:

A Prefeitura de Ribeirão das Neves confirmou, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, que na manhã desta quarta-feira (8), foram confirmadas, via SUSFácil, as transferências das duas crianças internadas na UPA Acrizio Menezes, em Justinópolis, que aguardavam vaga em unidade de terapia intensiva. "Os pacientes foram encaminhados para o Hospital Infantil João Paulo II, em Belo Horizonte, com transporte por ambulância e acompanhamento de equipe especializada com médico, enfermeiro, técnico de enfermagem e fisioterapeuta respiratório.

A administração municipal reforçou que segue mobilizada para garantir toda a assistência necessária às crianças de Ribeirão das Neves. "Enaltecemos também o empenho dos profissionais de saúde envolvidos em cada etapa do atendimento".

Menina morreu aguardando vaga

Na última sexta-feira (2 de maio), a pequena Evelyn Marques Bambirra, de 1 ano e 4 meses, morreu após três dias de espera por um leito de CTI. A criança estava internada no hospital municipal de Pedro Leopoldo, na região metropolitana de Belo Horizonte, com uma Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), morrendo após sofrer uma parada cardiorrespiratória. Conforme o relato da mãe da criança, a cabeleireira Amanda Marques, de 26 anos, houve negligência por parte da equipe médica e demora por parte do Estado, que não teria garantido a vaga em uma UTI.

Uma internação a cada 6 minutos

Em 2025, os hospitais de Minas Gerais registraram cerca de 241 internações por dia pela chamada Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) — total de 29.723. O número equivale a cerca de 10 pessoas — em especial crianças pequenas e idosos — ocupando um leito por hora ou uma a cada seis minutos. Diante do aumento expressivo dos casos, o governo de Minas decretou, na última sexta-feira (2 de maio), situação de emergência. Porém, passados cinco dias desde a medida adotada, nesta quarta-feira (7) pelo menos dois bebês lutavam por suas vidas enquanto aguardavam a liberação de vagas em leitos no Estado. 

Conforme o "Painel de Internações por Síndromes Respiratórias", atualizado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), até agora em 2025 foram registradas 29.723 internações, contra 28.409 no mesmo período do ano passado, um aumento de 4,6%.

Até agora, Minas já registrou 438 mortes pela doença, sendo uma delas a de uma menina de apenas 1 ano, que, após três dias internada em um hospital de Pedro Leopoldo, não resistiu e acabou morrendo enquanto aguardava uma vaga em um hospital. O infectologista Leandro Curi explica que a SRAG é caracterizada pelo sintoma de falta de ar, que é desencadeado por uma série de infecções, principalmente por vírus respiratórios, como a própria Influenza (gripe) e o Covid. 

"Nas crianças pequenas, até mesmo o vírus do resfriado pode desencadear a infecção nos brônquios, que é conhecida como bronquiolite e que é muito grave. A SRAG surge principalmente nesta época do ano, quando esfria um pouco. A temperatura cai e, principalmente os pequenos e os mais velhos, que têm a imunidade mais baixa, são os que mais sofrem", detalha. 

Para o infectologista Leandro Curi, a falta de leitos hospitalares para casos de SRAG (síndrome respiratória aguda grave) é um problema crônico no Brasil, que se intensifica em períodos de alta de infecções respiratórias. "Em alguns anos, esse aumento ocorre de forma mais brusca, pelo excesso de contaminação. É o irmãozinho que contamina o outro, o coleguinha de escola, às vezes os próprios pais. Então, os vírus circulam entre nós e a gente tende a espalhar mais rápido, virando um surto", completa Curi.

Como prevenir a SRAG?

Pessoas que convivem com crianças, idosos ou indivíduos com imunidade comprometida devem adotar medidas para reduzir o risco de infecção por vírus respiratórios. Curi destaca que a vacinação contra a gripe e a Covid é essencial, já que esses vírus estão entre os principais causadores da SRAG. "Às vezes, a descrença dos pais, geralmente infundada, deixa a criança desprotegida e podendo sofrer um caso mais grave", alerta.

Além das vacinas, práticas de higiene respiratória são fundamentais para prevenir a disseminação dos vírus. "Higienizar as mãos com regularidade, manter o ambiente ventilado, por exemplo, são medidas muito eficientes. Se alguém em casa estiver com sintomas gripais, é bom evitar ficar perto dela sem máscara. Sempre falo também para as pessoas evitarem visitar crianças recém-nascidas sem máscara nessa época, pois, um simples resfriado, pode ser muito grave para ela", orienta o infectologista.

Curi também reforça os cuidados que ganharam notoriedade durante a pandemia de Covid-19, como o uso de álcool em gel, o hábito de cobrir o rosto com o antebraço ao tossir ou espirrar, e o uso de máscaras ao apresentar sintomas gripais.