Serão transferidos, em breve, os dois bebês diagnosticados com bronquiolite, internados há dias na UPA Justinópolis, em Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte, que aguardavam a liberação de leitos em CTI's pediátricos. Segundo a prefeitura do município, as duas crianças seguem na tarde desta quinta-feira (8 de maio), em ambulâncias, para o Hospital Infantil João Paulo II, referência neste tipo de atendimento na capital mineira. 

Procurada desde o início da manhã desta quinta, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) ainda não se manifestou sobre a transferência das crianças. Mais cedo, o pai da pequena Alice, de 2 meses, que estava há oito dias na unidade de saúde da Grande BH, afirmou que, apesar do governo de Minas ter anunciado ainda na quarta-feira (7) a liberação de uma vaga em Patos de Minas, no Alto Paranaíba, até a manhã desta quinta a menina seguia aguardando um transporte médico para ser levada ao hospital.

Segundo Rafael Souza Figueira, de 23 anos, ele e a esposa chegaram cedo ao hospital após, na noite anterior, o Estado ter garantido que a transferência aconteceria às 7h. "Primeiro disseram que não estavam achando o helicóptero, depois que tem outras duas crianças que estão na frente da minha filha. Toda hora aumenta uma coisa, parece que cada vez mais sai do controle. Está tudo pronto para a transferência, a papelada", completou, mais cedo, o pai da criança. 

Sem esconder a frustração, Figueira disse que ele e a esposa estavam "no limite". "Não aguentamos mais, a gente está há dias no hospital. Você não consegue trabalhar, não consegue comer direito. Não é fácil ver sua filha assim, dentro daqueles tubos. A sensação é que a gente não consegue fazer nada por ela", diz, emocionado, o pai. 

Uma internação a cada 6 minutos

Em 2025, os hospitais de Minas Gerais registraram cerca de 241 internações por dia pela chamada Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) — total de 29.723. O número equivale a cerca de 10 pessoas — em especial crianças pequenas e idosos — ocupando um leito por hora ou uma a cada seis minutos. Diante do aumento expressivo dos casos, o governo de Minas decretou, na última sexta-feira (2 de maio), situação de emergência. Porém, passados cinco dias desde a medida adotada, nesta quarta-feira (7) pelo menos dois bebês lutavam por suas vidas enquanto aguardavam a liberação de vagas em leitos no Estado. 

Conforme o "Painel de Internações por Síndromes Respiratórias", atualizado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), até agora em 2025 foram registradas 29.723 internações, contra 28.409 no mesmo período do ano passado, um aumento de 4,6%.

Até agora, Minas já registrou 438 mortes pela doença, sendo uma delas a de uma menina de apenas 1 ano, que, após três dias internada em um hospital de Pedro Leopoldo, não resistiu e acabou morrendo enquanto aguardava uma vaga em um hospital. O infectologista Leandro Curi explica que a SRAG é caracterizada pelo sintoma de falta de ar, que é desencadeado por uma série de infecções, principalmente por vírus respiratórios, como a própria Influenza (gripe) e o Covid. 

"Nas crianças pequenas, até mesmo o vírus do resfriado pode desencadear a infecção nos brônquios, que é conhecida como bronquiolite e que é muito grave. A SRAG surge principalmente nesta época do ano, quando esfria um pouco. A temperatura cai e, principalmente os pequenos e os mais velhos, que têm a imunidade mais baixa, são os que mais sofrem", detalha. 

Para o infectologista Leandro Curi, a falta de leitos hospitalares para casos de SRAG (síndrome respiratória aguda grave) é um problema crônico no Brasil, que se intensifica em períodos de alta de infecções respiratórias. "Em alguns anos, esse aumento ocorre de forma mais brusca, pelo excesso de contaminação. É o irmãozinho que contamina o outro, o coleguinha de escola, às vezes os próprios pais. Então, os vírus circulam entre nós e a gente tende a espalhar mais rápido, virando um surto", completa Curi.

Como prevenir a SRAG?

Pessoas que convivem com crianças, idosos ou indivíduos com imunidade comprometida devem adotar medidas para reduzir o risco de infecção por vírus respiratórios. Curi destaca que a vacinação contra a gripe e a Covid é essencial, já que esses vírus estão entre os principais causadores da SRAG. "Às vezes, a descrença dos pais, geralmente infundada, deixa a criança desprotegida e podendo sofrer um caso mais grave", alerta.

Além das vacinas, práticas de higiene respiratória são fundamentais para prevenir a disseminação dos vírus. "Higienizar as mãos com regularidade, manter o ambiente ventilado, por exemplo, são medidas muito eficientes. Se alguém em casa estiver com sintomas gripais, é bom evitar ficar perto dela sem máscara. Sempre falo também para as pessoas evitarem visitar crianças recém-nascidas sem máscara nessa época, pois, um simples resfriado, pode ser muito grave para ela", orienta o infectologista.

Curi também reforça os cuidados que ganharam notoriedade durante a pandemia de Covid-19, como o uso de álcool em gel, o hábito de cobrir o rosto com o antebraço ao tossir ou espirrar, e o uso de máscaras ao apresentar sintomas gripais.