A Linha 2 do Metrô de Belo Horizonte está mais próxima de se tornar realidade. Em visita técnica à obra da estação Nova Suíça, representantes da concessionária Metrô BH e do governo de Minas anunciaram que a operação parcial da nova linha — estações Nova Suíça e Amazonas —, antes prevista para 2028, foi antecipada para 2026. Durante a visita, moradores entraram no canteiro de obras solicitando indenização e um posicionamento. Uma das moradoas é Natalice Gomes, de 49 anos, que perdeu a perna após ser atropelada por um trem em 20 de junho.
Jéssica Gomes, de 33 anos, filha de Natalice, explica que o local do acidente é a única passagem para a casa de sua mãe e de outras 16 famílias. Ela relata que a mãe escorregou nos entulhos ao tentar atravessar o local e colidiu com um vagão. “Ela escorregou no meio dos entulhos. O trem veio, arrastou a perna dela. Ela ainda bateu a cabeça. No local não tinha ninguém. Minha mãe se arrastou até conseguir pedir socorro, e foram os próprios moradores que ajudaram. O pessoal do Metrô BH não fez nada. Negaram ajuda”, denuncia.
Segundo Jéssica, as empresas responsáveis ofereceram R$ 15 mil como indenização. O valor, no entanto, veio condicionado à confissão de culpa por parte da vítima. “Queriam que ela aceitasse os R$ 15 mil assumindo que tentou suicídio. Mas não foi suicídio. Foi acidente. Sempre passamos por ali. Aquela é a única passagem para os moradores. A casa da minha mãe está lá há mais de 30 anos”, critica Jéssica.
Jéssica conta que, após o acidente, a vida da família mudou completamente. “Minha mãe está acamada, e as costas dela estão ficando feridas. Essa semana mesmo foi um sufoco para conseguir uma ambulância. Ninguém queria buscá-la. Eu e minha irmã não damos conta de carregá-la. Ela está pedindo ajuda porque tinha uma vida inteira pela frente. Agora, depende de mim e das minhas irmãs para tudo”, explica.
Nesta terça-feira (15/7), uma audiência será realizada às 14h30, com a presença da Defensoria Pública, das empresas responsáveis e da família de Natalice. A expectativa é que o caso avance. “Eu quero que eles vejam a situação em que a gente está. Quem está sofrendo é a minha mãe. A solução ideal seria que ela fosse indenizada pelo acidente e pela moradia. A casa dela está lá há 30 anos. Não é de hoje”, disse.
A líder comunitária do bairro Nova Gameleira, Poliane Cristina, afirma que outras 16 famílias da região também seguem sem indenização, mesmo tendo entregado toda a documentação exigida. “A Metrô BH diz que os moradores não estavam lá quando o acordo foi selado (fechado). Mas isso não é verdade. As 16 famílias que restaram apresentaram tudo: documentos, CadÚnico, posto de saúde... Elas moram lá. Mesmo assim, a Metrô BH está negando o direito à indenização”, explicou Jéssica.
O presidente da Metrô BH, Cláudio Andrade, declarou que a empresa está apurando o ocorrido. Sobre a situação de Natalice ele deu a seguinte declaração: “Somos solidários, sentimos muito pelo ocorrido. Mas não verificamos nenhuma relação entre as nossas atividades de remoção de entulho e o acidente em si. A remoção dos materiais ocorre com armazenamento e descarte correto. Não havia linha em operação naquele ponto, e o caso está sendo apurado pelas empresas envolvidas”, afirmou Cláudio Andrade, presidente da concessionária Metrô BH.
Linha 2: parte estará pronta em 2026
De acordo com a concessionária, a Linha 2 terá 10,5 km de extensão, sete estações e capacidade prevista para atender até 50 mil passageiros por dia. A primeira fase operacional, que incluirá as estações Nova Suíça e Amazonas, deve entrar em funcionamento em meados de 2026. Já as demais estações devem ser concluídas em 2027, e toda a linha entrar em operação plena em 2028.
Cláudio ressaltou que a nova linha representa o início de um novo ciclo de mobilidade urbana na capital mineira. “Essa obra não é só mais uma estação em construção. É um marco para a cidade de Belo Horizonte, para o município e para toda a região metropolitana”, afirmou o presidente da concessionária.
Segundo Aaron Dalla, subsecretário da Secretaria de Estado de Infraestrutura, Mobilidade e Parcerias de Minas Gerais (Seinfra), “a Linha 2 vai se integrar à Linha 1 na estação Nova Suíça e deve atrair uma demanda significativa, oferecendo melhorias concretas na mobilidade para cerca de 300 mil pessoas que vivem no entorno”.
Nova frota e antecipação das obras
Durante a coletiva, Cláudio Andrade anunciou que os novos trens estão sendo produzidos na China e que o primeiro já está pronto. “Do início do projeto até a conclusão, foram apenas 13 meses. O trem já passou por testes em fábrica e deve ser embarcado para o Brasil entre setembro e outubro deste ano”, afirmou.
A chegada ao país está prevista para dezembro, via Porto de Santos, e o equipamento seguirá por rodovia até Belo Horizonte. Ao todo, serão 24 novos trens adquiridos. Eles substituirão os atuais, alguns em operação desde 1980. A nova frota contará com quatro vagões por composição, ar-condicionado, comunicação digital entre os carros e sistemas modernos de controle e segurança. “São trens mais silenciosos, eficientes e confortáveis, com capacidade para mil passageiros cada”, garantiu Andrade.
A expectativa é de que, a partir de dezembro de 2025, Belo Horizonte receba dois trens por mês, com todos entregues até 2026.
A Estação Nova Suíça deve ficar pronta no início de 2026. “O cronograma original previa entrega total da Linha só em 2028. Com os ajustes, conseguimos iniciar a operação com duas estações já em 2026”, explicou Cláudio. A Estação Novo Eldorado, que faz parte da expansão da Linha 1, também teve sua inauguração adiantada para janeiro de 2026.
De acordo com Cláudio, os investimentos nas obras das Linhas 1 e 2 devem ultrapassar R$ 4 bilhões, com a geração de cerca de 2 mil empregos diretos e indiretos. Após a conclusão, a operação plena das novas estações deve gerar mais de 250 postos de trabalho permanentes.
Transtornos temporários
Questionado sobre os transtornos causados pelas obras à população, o presidente da concessionária destacou que os intervalos entre os trens podem ser temporariamente ampliados durante algumas etapas, como ocorrerá na região do Horto, onde haverá interdição programada na próxima semana. “Interromper o serviço não é uma opção. Todas as intervenções estão sendo feitas com a Linha 1 em operação. Agradecemos a paciência da população”, afirmou.
Veja a nota do Metrô BH na íntegra
O Metrô BH afirma que as demolições realizadas ao longo da Linha 2 não afetaram qualquer rede de água ou luz existente no local e que a empresa sequer foi notificada pelas concessionárias responsáveis por estes serviços.
Sobre os entulhos remanescentes das demolições, esclarecemos que os materiais são contidos nos locais e descartados de forma adequada, posteriormente.
Já sobre as casas construídas irregularmente na faixa de domínio e não indenizadas, informamos que todas as famílias identificadas como aptas à indenização nos termos do Acordo mediado pelo Compor no Ministério Público de Minas Gerais já foram contactadas pelo Metrô BH. Mais de 200 famílias, das 341 já ocupadas já foram indenizadas e desocuparam o local.
Sobre as alegações da senhora Natalice da Silva, o Metrô BH desconhece a declaração e a ação citada por ela. O Metrô BH lamenta profundamente o ocorrido e se solidariza com a senhora envolvida no acidente. Entendemos a gravidade da situação e o impacto que eventos como esse causam. Contudo, esclarecemos que o acidente ocorreu na ferrovia de cargas, com uma locomotiva de cargas, fora da área de atuação da nossa empresa. As remoções de famílias realizadas em função do projeto metroferroviário não têm relação com as circunstâncias do acidente mencionado.