A Praça João Pessoa, na área hospitalar de Belo Horizonte, amanheceu diferente nesta segunda-feira (21 de julho). Moradores e trabalhadores da região logo notaram a ausência de dezenas de catadores de resíduos, bem como das toneladas de papelão e materiais recicláveis que costumavam ocupar o local. O grupo, formado por cerca de 17 catadores, foi realocado para um galpão no bairro Floresta, na região Leste, a aproximadamente 3 km dali. A categoria explicou que o novo espaço já está sendo utilizado para a triagem dos materiais coletados nas ruas da capital. Os moradores do entorno aprovaram a mudança, considerando-a uma conquista para a segurança e a limpeza da praça.
A presidente da Cooperativa Solidária dos Trabalhadores e Grupos Produtivos da Região Leste (Coopesol), Vilma Estevão, comemorou o aluguel do galpão pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), classificando a medida como uma conquista após longa mobilização da categoria. “Há quatro anos, os catadores vinham sendo pressionados aqui na praça, sofrendo agressões físicas e psicológicas. Eles formam um grupo organizado, mas o uso da praça pública gerava desconforto. Tudo começou com o interesse deles em ter um espaço de trabalho”, relatou.
Os catadores que atuavam na Praça João Pessoa recolhem, juntos, cerca de 11 toneladas de resíduos por mês, segundo a Coopesol. Para o morador da região Cláudio Candiane, ver o espaço limpo pela primeira vez em anos representa um alívio. “Nos últimos três anos, a situação piorou. Era muito lixo espalhado. A praça se tornou foco de doenças, como a dengue. E, à noite, era insegura, com brigas frequentes. Então, tenho que manifestar minha satisfação em vê-la limpa”, comentou.
Nesta segunda-feira, o engenheiro civil Henrique Silveira, de 39 anos, sentou-se na praça para aproveitar o horário de almoço e percebeu a maior tranquilidade no local. "Eu trabalho aqui na região e venho à praça com frequência. Ela estava insustentável. Suja, com recicláveis, mas também com muito lixo. Em alguns dias, a pilha de resíduos chegava a uns dois metros de altura. Agora, deu um outro aspecto visual, sem os sacos empilhados. É um ambiente arborizado, agradável, então espero que continue sendo bem cuidado", disse.
Já a técnica em análises clínicas Ana Carolina Menezes, de 34 anos, tem esperança de que a mudança dos catadores também ajude a reduzir os problemas com as pessoas em situação de rua que passaram a se alojar na praça, ao redor dos resíduos. "O laboratório onde eu trabalho fica em frente à praça, e era muito difícil a convivência com essas pessoas. Alguns tinham problemas com vícios. Quando pedíamos para que saíssem da porta do laboratório, eles não gostavam. Agora, poder sentar na praça e aproveitar um descanso com tranquilidade, finalmente, é ótimo", falou.
A representante dos catadores Vilma Estevão esclarece que, embora o espaço de triagem dos resíduos tenha mudado, a atuação nas ruas continua. "O trabalho deles é a coleta. Com os carrinhos, vão de porta em porta recolhendo material. Isso permanece, e precisamos que a sociedade se conscientize disso. A diferença é que a triagem, que antes ocupava a praça com toneladas de resíduos, agora será feita no galpão", explicou. A reportagem apurou que, já nesta segunda, um dos catadores foi multado por estar com o carrinho na praça.
Galpão
Foto: Flávio Tavares / O TEMPO
O galpão alugado no bairro Floresta ainda passa por ajustes para se adequar ao processo de trabalho dos catadores. O espaço contará com banheiro, geladeira, bebedouro, materiais de limpeza e de higiene pessoal. Além disso, a administração municipal vai disponibilizar equipes para a limpeza e a vigilância do local.
A vereadora Marcela Trópia (Novo), que acompanha a solicitação para mudança do local de trabalho dos catadores desde 2023, comemorou, enfim, a solução do problema. "É evidente que a prefeitura havia autorizado que a praça funcionasse como ponto de reciclagem. Os caminhões da SLU passavam ali três vezes por semana. Mas a praça não é um local para triagem de material. Agora, estamos devolvendo o espaço público para todos. A avenida Bernardo Monteiro foi revitalizada, há o monumento em memória da Covid ali perto, e poderemos ter outros tipos de ocupação da praça — desta vez, para lazer", afirmou.
Segundo a PBH, os trabalhadores foram encaminhados para serviços sociais como emissão de documentos, alimentação via restaurante popular, além de acesso a programas como Bolsa Família e Bolsa Moradia. O grupo é acompanhado desde 2021 pelo Serviço Especializado em Abordagem Social (Seas) e por profissionais da saúde do Consultório na Rua.