Moradores da ocupação Monte Azul, em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, denunciam uma ação violenta ocorrida na noite de terça-feira (22/7), quando dezenas de homens encapuzados e armados com fuzis invadiram o local, ameaçaram famílias e destruíram as casas com tratores. A operação, segundo relatos, contou com a presença de policiais militares e teria sido coordenada por uma empresa de segurança privada contratada por um homem que se apresenta como proprietário do terreno.

Veja o vídeo:

“Foi uma sensação de pânico. Eu não sabia se estava no Brasil ou em outro lugar. Cortaram a luz, vieram com revólver na cara da gente, ameaçando o tempo todo. Não deixaram a gente pegar nada, só os documentos”, contou a moradora Regiane Alves Gomes, que vive na área há anos e cuida de oito cães. Ela afirma que um dos animais foi soterrado e outros foram mortos durante a destruição. Galinhas também teriam sido executadas.

Segundo Regiane, cerca de 40 homens com balaclavas tomaram o terreno e passaram com tratores por cima dos barracos. Ela relata agressões físicas e humilhações. “Me puxaram pelo colarinho da blusa e me tiraram pra fora do barracão. Foi uma agressividade surreal”, disse. A moradora também acusa os supostos proprietários de apresentarem documentos com indícios de fraudes, incluindo a declaração de uma metragem muito superior à real. “Tem mais de 800 mil metros de terreno a mais no documento. Já teve gente presa por falsificação ideológica e constataram o selo falso”, afirma.

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Wellington Morais, outro morador, também questiona a legalidade da ação. “Foi uma maneira muito cruel. Nós só queremos paz. Fomos tratados como bandidos, humilhados. E os policiais, que deveriam proteger, estavam contra a gente", disse. Segundo ele, sua residência só não foi destruída porque não deixou o espaço. “Juntei com as crianças e entrei pra dentro. Falei que, se eles quisessem destruir minha casa, tinham que passar com o trator em cima de mim”, relatou.

A reportagem de O TEMPO esteve no local na manhã desta terça-feira (23/7). A equipe encontrou tijolos e telhas espalhados pelo terreno, além de móveis e pertences dos moradores que residem no espaço. Segundo eles, essa não foi a primeira vez em que foram ameaçados por pessoas ligadas ao suposto dono do terreno. Os moradores afirmam que, mesmo diante de denúncias, ainda não receberam nenhum tipo de apoio ou explicação do poder público. “A gente tá com medo, mas não vamos sair. Vamos resistir”, afirmou Wellington.

Por meio de nota, a Prefeitura de Belo Horizonte informou que "a área citada é privada e não pertence ao município". A Prefeitura de Santa Luzia acrescentou que o local tem sido alvo de ações e acompanhamento contínuo por parte da Gerência de Fiscalização de Obras e Posturas há mais de três anos. "Ainda que se trate de uma área particular, o ente municipal tem adotado todas as medidas cabíveis para coibir ocupações irregulares no local, respeitando os limites legais de sua atuação", destacou. (As notas podem ser lidas na íntegra abaixo).

A reportagem de O TEMPO também procurou as polícias Militar e Civil, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e a empresa citada pelos moradores. A matéria será atualizada com os posicionamentos.

Veja o posicionamento

  • Prefeitura de Santa Luzia
"A área citada é privada, não pertence ao município de Belo Horizonte".
  • Prefeitura de Santa Luzia

"A Prefeitura de Santa Luzia, por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano, informa que o local mencionado vem sendo alvo de ações e acompanhamento contínuo por parte da Gerência de Fiscalização de Obras e Posturas há mais de três anos. Ainda que se trate de uma área particular, o ente municipal tem adotado todas as medidas cabíveis para coibir ocupações irregulares no local, respeitando os limites legais de sua atuação.

Somente no ano de 2025, foram realizadas diversas diligências no local, com embargo das construções irregulares, conforme demonstram os registros administrativos e protocolos de fiscalização, a exemplo dos números: 2025.026-0377, 2025.026-0378, 2025.026-0379, 2025.026-0380, 2025.026-0381, 2025.026-0382, 2025.026-0484, 2025.026-0485, 2025.026-0486, 2025.026-0487, 2025.026-0489, 025.026-0490, 2025.026-0491, 2025.026-0492, 2025.026-0493, 2025.026-0494, 2025.026-0495, 2025.026-0496, 2025.026-0497, 2025.026-0498, 2025.026-0499, 2025.026-0520, 025.026-0722, 2025.026-0723, 2025.026-0724, 2025.026-0725, 2025.026-0726, 2025.026-0727, 2025.026-0728, 2025.026-0729, 2025.026-0730, além dos protocolos 2023.026-0172, 2023.026-0177, 2025.026-0235, 2025.026-0757.

É importante esclarecer, ainda, que a maior parte da área em questão encontra-se localizada no território do município de Belo Horizonte, o que impõe limites à atuação direta da Prefeitura de Santa Luzia, embora as autoridades locais e regionais mantenham diálogo e articulação com os órgãos competentes para tratar da situação de forma integrada e responsável.

Por fim, cumpre ressaltar que a Administração Pública Municipal de Santa Luzia reafirma seu compromisso com a ordem urbana, o respeito às normas e a atuação permanente na defesa do interesse público, por essa razão que mantém diligências constantes na área afetada pelas ocupações irregulares".