Minas Gerais registrou aumento de mortes violentas em 2024, quando comparado a 2023. Segundo o 19º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta quinta-feira (24/7), houve alta de 5% em um ano. O índice vai na contramão da tendência observada no país, que registrou queda de 5,4% no período. O contraste está relacionado ao avanço das facções criminosas nacionais em território mineiro, segundo especialista em segurança pública consultado por O TEMPO.

Ao todo, 3.214 pessoas foram vítimas de mortes violentas intencionais no ano passado em Minas. O número é maior do que o registrado em 2023, quando 3.050 perderam a vida em ações violentas e intencionais. Esse é o segundo ano consecutivo que o Estado registra alta no índice. Em 2023, Minas já havia anotado alta de 3,7% em relação a 2022. 

Os dados fazem parte da 19ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O índice de mortes violentas intencionais (MVI) inclui vítimas de homicídio doloso, latrocínio, lesão corporal seguida de morte e mortes decorrentes de intervenções policiais, tanto em serviço quanto fora dele. 

Na contramão dos dados de Minas, o Brasil registrou, em 2024, uma redução de 5,4% nas mortes violentas intencionais, na comparação com o ano anterior. Ao todo, foram 44.127 casos, com uma taxa de 20,8 por 100 mil habitantes. Considerando o período entre 2012 e 2024, a redução acumulada chega a 25%, com quedas registradas em todas as regiões do país.

Avanço do PCC e CV em Minas Gerais pode explicar aumento das mortes violentas 

Na avaliação do especialista em segurança pública Jorge Tassi, Minas Gerais enfrentou, no último ano, a expansão do tráfico apadrinhado por grandes organizações criminosas de atuação nacional, com nomes como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV). Segundo ele, a disputa por território com facções locais tem como consequência imediata o aumento das mortes. “Esse movimento ocorreu principalmente na Grande BH e na região do Triângulo Mineiro, especialmente em Uberlândia, onde os indicadores mais cresceram. Quando o crime organizado entra nas comunidades e uma nova estrutura de poder assume o controle, o grupo anterior é eliminado. O resultado são mais mortes violentas”, explica.

Tassi relaciona o indicador ao aumento de 46% no número de mortes por intervenções policiais em Minas Gerais, dado também revelado pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Em 2024, foram 200 pessoas mortas em operações, contra 137 no ano anterior. “Está diretamente relacionado. Uma coisa é certa: quando há uma comunidade em conflito, o enfrentamento policial na região tende a ser mais intenso. Além disso, os níveis de armamento aumentam. As forças de segurança são reforçadas, e os confrontos diretos, com troca de tiros, terminam em mortes”, afirma.

Apesar de o especialista destacar que é necessário um período de análise mais longo para saber se o aumento das mortes violentas no Estado configura uma tendência, neste ano, novos confrontos continuam sendo noticiados. No dia 19 de julho, por exemplo, quatro supostos integrantes do Comando Vermelho (CV) morreram em confronto com a polícia em Araguari, no Triângulo Mineiro. Três dias depois, mais dois suspeitos de liderar o CV no Morro das Pedras, na região Oeste de Belo Horizonte, foram mortos na capital

Enfrentamento da violência só evolui com integração das forças de segurança, diz análise 

Para o especialista em segurança pública Jorge Tassi, para que Minas Gerais consiga responder ao crescimento da violência promovida por grandes organizações criminosas, as forças de segurança precisam atuar de forma integrada e em alinhamento com os serviços de inteligência. “Nesses casos, para enfrentar as mortes, é preciso antevê-las, porque são homicídios planejados. Por isso, a importância dos serviços de inteligência e da conexão dessas informações com todas as frentes da segurança — desde a guarda municipal até a Polícia Federal. O crime organizado, na maioria das vezes, tem mandantes dentro de presídios e, para se ter ideia, a Polícia Penal não costuma ser incluída nas operações de enfrentamento. Logo, não funciona”, analisa.

A reportagem demandou a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp) e aguarda retorno.