Uma nova espécie de árvore foi descoberta em uma área de Mata Atlântica na região de Coronel Fabriciano, no Vale do Rio Doce, em Minas Gerais. Pesquisadores do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa (UFV) identificaram a espécie, que pertence à família Myrtaceae, a mesma das jabuticabas, pitangas, goiabas, araçás e gabirobas. A árvore pode atingir até seis metros de altura, e ainda não se sabe se há outras espécies dela em diferentes regiões do país.

“Elas se assemelham muito com Myrcia espiritosantensis e Myrcia megaphylla, plantas também recentemente descritas. Agora, o próximo passo é estudar a ecologia reprodutiva e a população para melhor embasar práticas de conservação da espécie”, afirmou o pesquisador Otávio Verly, um dos responsáveis pela descoberta. Ele encontrou a árvore, até então desconhecida, durante um inventário florestal realizado para sua tese de doutorado em uma área de preservação da empresa Cenibra. O mapeamento é feito a cada cinco anos para acompanhar os processos demográficos dos fragmentos florestais.

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De acordo com a UFV, após a análise em campo, o estudante retornou ao campus com o material recolhido, onde foi feita a análise. Ao examinar as imagens, o grupo de estudos identificou que a planta parecia pertencer ao gênero Myrcia, que reúne mais de 400 espécies, sendo mais de cem delas registradas em Minas Gerais. Ao compará-la com as espécies já descritas, os pesquisadores do Grupo de Estudo em Economia e Manejo Florestal (GEEA) perceberam que poderia se tratar de uma planta ainda não documentada.

Diante da possibilidade de se tratar de uma nova espécie, os pesquisadores retornaram ao campo para realizar novas coletas, desta vez com o objetivo de obter exemplares com frutos. A intenção era reunir amostras completas — chamadas de exsicatas — com todos os órgãos reprodutivos, fundamentais para a descrição botânica. Após a secagem do material, ele foi comparado com imagens e descrições de espécies conhecidas, disponíveis em plataformas científicas e publicações especializadas. As amostras foram então depositadas no Herbário da UFV.

Nova espécie de árvore foi descoberta em área de Mata Atlântica na região do Rio Doce - Foto: Divulgação / UFV

A confirmação de que se tratava de uma nova espécie contou com o apoio do botânico Marcos Sobral, professor da Universidade Federal de São João del-Rei e especialista em Myrtaceae, que colaborou na análise e na descrição detalhada da planta. Segundo os pesquisadores, até o momento, foram localizadas apenas 11 árvores da espécie na mesma região — entre exemplares jovens e adultos. “Hoje nos resta muito pouco da Mata Atlântica, e muita gente acredita que, por ser o bioma mais povoado, tudo já foi visto e descoberto. Mas trabalhos como este mostram que não: a Mata Atlântica ainda resiste, e temos muito a descobrir sobre ela”, destacou o professor da UFV Carlos Eleto Torres.

Características da nova espécie

As plantas variam entre três e seis metros de altura, possuem folhas longas e caule fino, e se destacam pela grande quantidade de pelos, especialmente no caule e na parte inferior das folhas, conferindo-lhes um tom marrom-avermelhado. Um detalhe marcante é a presença de pontuações translúcidas visíveis na superfície das folhas, característica que inspirou o nome "magnipunctata", que em latim significa “com grandes pontuações”.