Em meio a críticas sobre a flexibilização no licenciamento ambiental que pode expor ao risco vegetações importantes, Minas Gerais registrou uma queda de 34% nos alertas de desmatamento do Cerrado. O dado, que faz parte do Sistema Deter, foi divulgado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e comemorado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). Apesar da redução, Minas ainda ocupa o sexto lugar entre os estados que mais destruíram o bioma no último ano.
Segundo dados de satélite divulgados na última quinta-feira (7/8), de agosto de 2024 a julho de 2025, os 853 municípios mineiros tiveram 284 km² de área sob alerta. No mesmo período do ano anterior, foram 428 km². O índice também apresentou queda nacionalmente, com uma média de 20,8% de redução.
O resultado foi comemorado pelo governo estadual. Para a secretária de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Marília Melo, ele é fruto do combate ao desmatamento ilegal pelo governo de Minas. "Mostra a efetividade da política ambiental no Estado que envolve, não só a fiscalização ambiental, mas um entendimento com outros setores de que não pode haver desmatamento ilegal em nosso estado”, disse.
Segundo a pasta, a queda é atribuída ao avanço no monitoramento e à intensificação das ações fiscalizatórias, com cerca de 800 operações de fiscalização no Cerrado mineiro em 2025, abrangendo uma área de 6 mil hectares.
"Desde 2009, o Instituto Estadual de Florestas (IEF) realiza o acompanhamento da cobertura vegetal em Minas Gerais, trabalho que ganhou reforço em 2023 com a integração à Plataforma Brasil MAIS — projeto do Ministério da Justiça e da Polícia Federal que utiliza imagens de alta resolução para gerar alertas diários de desmatamento".
O coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia e demais biomas do Inpe, Cláudio Almeida, reforça que a redução observada no Cerrado é significativa. "Especialmente porque esse bioma tem sido o mais pressionado nos últimos anos. Isso mostra que as políticas públicas e a fiscalização têm surtido efeito, mas o desafio permanece”, afirma.
Apesar das quedas significativas nos alertas de desmatamento, o Cerrado segue como o bioma com maior área sob pressão, totalizando 5.555 km² alvo de alertas entre agosto de 2024 e julho de 2025. Além de Minas, o Maranhão, Tocantins, Bahia e o Mato Grosso também apresentaram redução nos índices. Por outro lado, o avanço de 33% no Piauí acende um alerta e demanda ações "direcionadas".
Ambientalistas pedem cautela
Apesar da redução, ambientalistas pedem cautela na interpretação dos números. Para Jeanine Oliveira, do Projeto Manuelzão, a análise de apenas um ano pode dar uma visão distorcida, já que, normalmente, a análise do avanço do desmatamento deve considerar intervalos maiores, de 5 ou 10 anos.
“Quem desmatou no ano passado, criou uma reserva de área para serem transformadas em produtivas e, com isso, não está desmatando atualmente. Isso porque, na verdade, ele já desmatou o suficiente para os 5 anos que vai atuar ali”, pondera.
Para Júlio Grillo, vice-presidente do Fórum Permanente São Francisco e ex-superintendente do Ibama, a situação ambiental de Minas vai além dos números do desmatamento e envolve principalmente falhas no processo de licenciamento ambiental. “Nós temos hoje um processo de licenciamento que é um teatro completo. Ele está ali para inglês ver”, critica.
Segundo ele, o modelo atual é baseado em autodeclarações de empreendedores, sem checagem efetiva das informações prestadas. “Os desastres de Mariana e de Brumadinho não teriam ocorrido se não fossem as autodeclarações. E estes empreendimentos consideram que podem correr o risco de falar uma mentira pois a punição para ele nunca será grande. Ninguém foi preso por causa de Brumadinho ou por causa de Mariana, que foram crimes ambientais enormes", completa Grillo.
O ambientalista também critica a fragmentação de grandes empreendimentos em partes menores para facilitar suas aprovações sem a avaliação de impactos cumulativos. “Nós corremos o risco de daqui a uns 30, 50 anos, não termos mais águas superficiais e subterrâneas disponíveis na região metropolitana de Belo Horizonte devido à mineração predatória, que está causando rebaixamento do lençol freático e não sabemos qual será o impacto cumulativo disso”, alerta.
Confira a lista dos municípios com maior desmatamento do Cerrado em MG:
- Chapada Gaúcha: 18.83 km²
- Grão Mogol: 12.12 km²
- Santa Fé De Minas: 10.51 km²
- Arinos: 10.45 km²
- Buritizeiro: 10.27 km²
- Januária: 9.85 km²
- São Romão: 9.82 km²
- João Pinheiro: 9.01 km²
- Montalvânia: 8.80 km²
- Lassance: 7.44 km²