Os barcos para Iemanjá já estão quase prontos. Por volta de 19h deste sábado (16/8), dezenas de oferendas, adornadas com flores, conchas e perfumadas com alfazema, vão levar os pedidos à rainha das águas. Em Belo Horizonte, a 70ª Festa de Iemanjá reúne na orla da Lagoa da Pampulha milhares de umbandistas, além de adeptos e curiosos das religiões de matrizes africanas para o celebração religiosa.
"Odoyá, Iemanjá. Saudação, minha mãe", saúda a mãe de santo Adriana, do Centro Espírita Pai Guiné de Aruanda. O terreiro dela é um dos 40 que participam da celebração neste final de semana em homenagem à rainha dos orixás. "Por muitos anos, não podíamos fazer nossas manifestações, tocar nossos tambores, mas, hoje, já estamos livres das nossas correntes e podemos louvar a nossa mãe", disse.
"Nossa festa é uma manifestação de carinho e um pedido de tolerância não só às manifestações religiosas. Vemos todos os dias exemplos de maldade, principalmente contra as mulheres. O feminicidio e outros crimes de violência de gênero. Então, estamos aqui também para espalhar uma mensagem de paz", acrescentou mãe Adriana.
O evento religioso, que é reconhecido desde 2019 como Patrimônio Cultural de Belo Horizonte, começou por volta de 14h na Praça da Estação, no Centro de Belo Horizonte, com uma ritualística, que é a abertura do evento, com saudação a Exu.
"É uma tradição nas nossas celebrações, uma forma de pedir proteção aos orixás", conta Rian Negro, da Casa de Caridade Pai Jacob do Oriente.
Vários carros seguiram em carreata do Centro à Pampulha. Na lagoa, no portal de Iemanjá, dezenas de terreiros já ocupavam a calçada. "Depois de fazermos as oferendas, cada terreiro começa seus atendimentos. Por volta de 22h, começamos a dispersão", explicou Pai Ricardo, o atual organizador da festa.
Intolerância
Faixas com pedidos de respeito e mensagens que reafirmam o direito à liberdade religiosa também enfeitam a Praça de Iemanjá. Segundo alguns presentes, não é incomum sofrerem algum tipo de violência por parte de intolerantes.
"Essa festa é uma forma de dizer não à intolerância religiosa. É muito gratificante fazer essa homenagem a nossa rainha", afirmou mãe Adriana de Iemanjá.
O reconhecimento da Prefeitura de Belo Horizonte é uma forma de garantir a liberdade religiosa independente da crença, como afirma a Secretária Municipal de Cultura, Eliane Parreiras.
"Essa celebração está protegida e é reconhecida como um patrimônio cultural da cidade exatamente pela importância de estar intimamente ligada à identidade cultural da cidade, dos povos que construíram essa cidade, dos que chegaram aqui depois. É uma festa muito importante, totalmente conduzida pelas próprias entidades e instituições que promovem a questão da fé relacionada à Umbanda", disse.
O evento conta com apoio da Guarda Municipal e da Polícia Militar de Minas Gerais.