Em maio deste ano, Belo Horizonte registrou três episódios graves de violência em centros de saúde. Agora, em agosto, um novo caso reacendeu o alerta sobre a vulnerabilidade de profissionais e pacientes dentro das unidades de atendimento. A reincidência levanta questionamentos sobre falhas na segurança e condições de trabalho. Conforme dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), foram registradas cerca de 1.518 ocorrências de violência entre janeiro e junho de 2025 — uma média de oito casos por dia na capital, ou 253 por mês. 

A especialista em segurança pública do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da UFMG (Crisp), Ludmila Ribeiro, aponta que o estresse dos usuários diante da demora no atendimento, somado à falta de estrutura, cria um ambiente propício para conflitos. “É muito comum a pessoa se sentir mal atendida e xingar o funcionário; a pessoa achar que o médico não prescreveu o remédio que ela esperava e ameaçá-lo. Isso, milhares de pesquisas já mostraram”, avalia. 

Ludmila também destaca que, apesar de o brasileiro ser conhecido por sua cordialidade, a sociedade é extremamente violenta e tende a resolver conflitos pela força. “Nós somos uma sociedade extremamente violenta e acostumada a resolver tudo pelo uso da força. No serviço público, sobretudo na saúde, isso aparece muito”, afirma. 

A especialista observa ainda que muitos daqueles que cometem violência em unidades de saúde acreditam que terão atendimento privilegiado. “A grande questão é essa tendência de achar que, se eu lançar mão da violência, vou conseguir atendimento prioritário ou que a minha causa será tomada como prioridade. É uma estratégia que aparece em diferentes serviços públicos”, disse. 

Ela acrescenta que a mesma situação pode ser vista em outros setores. “Isso acontece também quando a gente vai registrar um crime na delegacia ou pedir algum tipo de auxílio no CadÚnico. Esse comportamento está presente em outros contextos”, explica.  

Sindicato faz alerta 

De acordo com a diretora executiva do Sind-Saúde/MG, Neuza Freitas, a repetição desses episódios evidencia a ausência de medidas efetivas para conter a violência. “Na verdade, a gente está discutindo a violência não só nos centros de saúde, mas como um todo. Posso falar até mesmo pelos hospitais do Estado, porque essa questão nós discutimos há anos, sem nenhuma solução efetiva”, disse. 

Ela explica que já foram registrados casos graves de agressão nas unidades. “Já tivemos casos gravíssimos de agressões, de fratura de membros, de tentativa até mesmo de arrancar orelhas de trabalhadores”, relata. “Com esse aumento das agressões, vimos uma situação que está só se agravando. Além de não ter nenhuma solução, percebemos que piora a cada dia”, completa Neuza. 

A diretora também alerta para o impacto na saúde mental dos trabalhadores, já que muitos estão afastados de suas funções por não terem condições psicológicas de atender. “Hoje nós temos um número muito grande de trabalhadores afastados da assistência direta ao paciente e remanejados para outros setores, porque não têm condições psicológicas de atender. Muitos fazem uso de medicações controladas, com acompanhamento psiquiátrico e psicológico”, explica. 

O que dizem as autoridades 

A Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte informou, em nota, que as unidades de saúde contam com um fluxo de abordagem em situações de violência, que orienta trabalhadores e usuários. Esse protocolo define quais providências devem ser tomadas e quais órgãos acionar em cada tipo de ocorrência. 

Ainda segundo o município, é disponibilizado o acompanhamento sociofuncional, destinado aos trabalhadores da rede SUS-BH que apresentem instabilidade no trabalho em razão de intercorrências diversas, como conflitos, problemas de adaptação, adoecimentos físicos e/ou psíquicos adquiridos ou agravados no contexto laboral, além de outras situações que interfiram no pleno desempenho profissional. 

A Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) informou que, nos hospitais da rede em Belo Horizonte, são adotadas medidas permanentes de segurança, como a presença de vigilantes e o treinamento das equipes assistenciais para atuação em situações de risco. A Fundação também aciona a Polícia Militar quando necessário e oferece acompanhamento da área de Saúde e Segurança do Trabalhador para os servidores. A Fhemig reiterou o compromisso com a proteção de profissionais e pacientes e afirmou que avalia constantemente novas ações de prevenção e enfrentamento da violência nas unidades.

Relembre casos 

Em maio deste ano, Belo Horizonte registrou três episódios graves de violência em centros de saúde, evidenciando a vulnerabilidade de profissionais e pacientes dentro das unidades de atendimento. Nos dias 15 e 16 daquele mês, ocorreram três ocorrências em um intervalo de 24 horas, envolvendo agressão a um médico, ameaça com arma de fogo e vandalismo com cadeiras. 

Já em agosto, um novo episódio foi registrado. No dia 10, um homem de 24 anos e uma mulher de 26 foram presos após causar danos ao patrimônio público, agredir pessoas e ameaçar funcionários dentro da UPA Venda Nova, no bairro São João Batista, em Belo Horizonte. 

Como denunciar problemas em centros de saúde de BH 

A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), informou que em casos de reclamações e críticas sobre os atendimentos, deve ser realizado o contato com a Ouvidoria da PBH pelos seguintes canais de atendimento: 

Pelo aplicativo: 

Utilize o PBH APP, disponível nas lojas: 

  • Play Store 
  • App Store 

Por telefone: 

Central de Atendimento Telefônico – 156 

Atendimento de segunda a sexta, das 7h às 19h (exceto feriados) 

Presencialmente: 

BH Resolve – Central de Relacionamento Presencial da Prefeitura de Belo Horizonte 

Endereço: Rua dos Caetés, 342 – Centro, Belo Horizonte/MG 
Atendimento: de segunda a sexta, das 8h às 17h 

Agendamento obrigatório clicando aqui
 
Já em caso de agressões ou discussões, o contato deve ser imediato com a Guarda Civil Municipal de Belo Horizonte, através do telefone 153.