O pastor, de 51 anos, acusado de abusar sexualmente de pelo menos sete mulheres por mais de 20 anos dentro da igreja onde era o líder religioso, no bairro Jardim Vitória, na região Nordeste de Belo Horizonte, vai passar pela primeira audiência de instrução no dia 14 de outubro. O suspeito foi indiciado pela Polícia Civil de Minas Gerais por três crimes: seis vezes por estupro, cinco vezes por violação sexual mediante fraude e duas por importunação sexual. Em maio deste ano, quando o caso veio à tona, a polícia pediu pela prisão preventiva dele, mas o pedido foi negado pela Justiça. 

A primeira vítima a procurar a polícia após anos de exploração foi a responsável por fazer com que outras mulheres se encorajassem a quebrar o silêncio e denunciar o abusador. Os crimes estariam acontecendo há pelo menos 20 anos dentro da igreja e na casa do pastor.

“Ele sempre dizia que todas as ações dele eram conduzidas pelo Espírito Santo, que ele era ungido por Deus e que sabia o que estava fazendo. Falava que eu não precisava ter medo, nem vergonha. Um dia, ele pediu para me ver sem roupa, eu neguei, mas ele insistiu, e, sem perceber, acabei me despindo. Ele me deitou na cama e penetrou em mim. Eu chorei, pedi para parar, mas ele não parou. Depois, me levou à farmácia e me fez tomar uma pílula do dia seguinte. Eu perdi minha virgindade ali, mas eu era uma criança, tinha 16 anos. Graças a Deus, depois de um tempo, ele não conseguia mais ter ereção, e aí as conjunções pararam”, contou a primeira vítima, hoje com 35 anos. 

Segundo as investigações da polícia, que começaram tão logo a primeira denúncia foi feita, no início deste ano, a forma de agir do suspeito era sempre a mesma. “Ele usava desse poder de liderança para persuadir e abusar das vítimas fazia citações religiosas. As que negavam ou, após o abuso, indicavam que fariam uma queixa contra ele, ele iniciava as ameaças”, disse a delegada Larissa Mascotte, responsável pelas investigações. 

Uma das vítimas seria uma menina de 12 anos, que teria tido os seios acariciados pelo pastor. "A mãe também era uma das vítimas, e a criança contou para o pais, e a família deixou de frequentar a igreja", completou.

Ao mesmo tempo em que estaria cometendo os abusos, o homem supostamente iniciava uma série de difamações contra as vítimas para os outros membros da igreja. “A ideia era que, caso alguma contasse o que estava acontecendo, ele já havia espalhado algo negativo sobre elas, dizendo que se tratava de uma pessoa louca, que havia se perdido no mundo, se afastado de Deus, e assim, conseguia ficar impune”, completou a delegada.

De acordo com a vítima, o suspeito teria parado de estuprá-la por volta de 2018. “Ele não conseguia mais ter ereção, acho que foi Deus cobrando dele todo o mal que cometeu", afirmou. Contudo, segundo ela, as ameaças psicológicas só terminaram em 2023, há dois anos.