Com o intuito de minimizar compostos associados ao gosto e ao odor da água em Belo Horizonte, a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) iniciou, no dia 14 de agosto, a aplicação de carvão ativado em pó na Estação de Tratamento (ET) do Sistema Rio das Velhas, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). A iniciativa, que foi confirmada pela Agência Reguladora de Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário do Estado de Minas Gerais (Arsae-MG), ocorre em meio a 328 atendimentos relacionados a reclamações sobre alteração no sabor da água distribuída em BH, em que moradores relataram à Copasa ‘gosto de barro e mofo’ no líquido. Os atendimentos, conforme a Arsae/MG, foram feitos entre os dias 4 e 18 de agosto, em diferentes bairros da capital mineira. 

O diretor-geral interino da Arsae-MG e mestre em gestão e regulação dos serviços de saneamento básico, Samuel Barbi, explicou o porquê da aplicação de carvão para tratamento da água. “O carvão utilizado possui microporos, que atuam na remoção das cianobactérias presentes na água, mesmo em um sistema de tratamento de água potável. O mecanismo de ação consiste na adsorção das cianobactérias pelo carvão ativado. Elas aderem à superfície porosa do carvão, formando uma espécie de camada. Essa ação resulta na redução da concentração de cianobactérias na água”, explica.

Barbi ressalta que a água, antes de entrar em contato com o carvão, passa por etapas de tratamento avançado. “O carvão atua como filtro adicional, retendo cianobactérias remanescentes e sendo substituído conforme sua capacidade de adsorção é atingida”, complementa Samuel. 

‘Informações detalhadas’ sobre o estado da água

Em nota enviada à reportagem na semana passada, a agência informou que pediu para a Copasa apresentar "informações detalhadas" sobre os sistemas de abastecimento, os resultados de monitoramento e as medidas que seriam adotadas para amenizar o problema. Conforme a documentação enviada pela Copasa à Arsae/MG, as análises realizadas durante as vistorias não apontaram anomalias de potabilidade, mantendo os parâmetros físico-químicos e bacteriológicos dentro dos limites estabelecidos pela Portaria GM/MS nº 888/2021. 

A companhia também apresentou dados de monitoramento da água bruta do Rio das Velhas referentes a junho e julho, com concentrações de cianobactérias abaixo de 10.000 células por mililitro. "Nessa faixa, a norma vigente não exige análises adicionais de cianotoxinas nem aumento da frequência de monitoramento. Ensaios de gosto e odor realizados em julho, na saída do Sistema de Produção de Água Tratada do Rio das Velhas, não indicaram alterações", enfatiza a agência. 

Para a Arsae/MG, o acompanhamento de cianobactérias é relevante, pois esses microrganismos, mesmo em baixas concentrações, podem liberar substâncias que alteram características sensoriais. Os resultados apresentados compõem um conjunto de elementos para avaliação contínua da qualidade do abastecimento. Sobre a manutenção dos grandes reservatórios, a Copasa relatou à agência que faz inspeções trimestrais para avaliação estrutural, hidráulica e sanitária, incluindo cloro residual, turbidez, pH e coliformes. 

Segundo uma informação enviada pela Copasa à Arsae/MG, os reservatórios da capital funcionam como “caixas de passagem”, com tempo de detenção inferior a 24 horas, o que reduz o risco de estagnação. Os relatórios referentes aos reservatórios São Lucas Norte, Menezes, Carangola, Morro dos Pintos, Penha e São Lucas indicaram conformidade com a Portaria vigente.

Fiscalização persistirá

A agência reforça que manterá o acompanhamento das providências até a elucidação das causas e a verificação da efetividade das ações implementadas, ação que visa garantir abastecimento em conformidade com os padrões de potabilidade e adequado ao consumo.

O que diz a Copasa?

Em nota, a Copasa reafirma que todas as análises realizadas pelas equipes de controle de qualidade da empresa confirmaram a potabilidade da água distribuída na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), sem que fosse constatada qualquer inconformidade ou alteração que represente risco à saúde. 

A Companhia, de forma preventiva e proativa, reforça que desde o dia 14 de agosto, data em que começaram os primeiros relatos de clientes, vem fazendo a aplicação de carvão ativado — produto de estrutura porosa que age como um filtro adicional, com capacidade de remover eventuais ocorrências de gosto e odor — em suas estações de tratamento de água. A Copasa ainda ressalta que a medida técnica é comum e não traz risco à qualidade da água oferecida. 

"É importante destacar que as solicitações de análises de qualidade da água na RMBH, registrados nos canais de relacionamento da empresa, representam 0,02% do total de clientes atendidos pela Companhia na região, cerca de 5,4 milhões. A Copasa reforça a importância da manutenção e limpeza periódica das caixas d’água pelos clientes, como medida preventiva contra contaminações internas e efeitos relacionados ao fenômeno da inversão térmica. Em caso de alterações no abastecimento, os clientes devem acionar imediatamente os canais oficiais de atendimento, com a indicação do endereço completo, para que uma equipe técnica possa avaliar a ocorrência", pontuou a companhia.