A Rua Guaicurus, no centro de Belo Horizonte, ficou tomada por curiosos na manhã deste domingo (24) para assistir a um inusitado campeonato de queimada. Achou diferente? Pois é exatamente isso - e vale a pena entender.
A brincadeira, que já virou tradição nas dez edições da Virada Cultural, foi criada pela Cia. de Teatro Toda Deseo, um grupo da comunidade LGBTQIAPN+ que decidiu unir tradição, esporte e arte para transmitir uma mensagem poderosa: a de união, igualdade e resistência por meio da diversão.
O campeonato, que começou às 9h, entregou exatamente o que prometia. Primeiro, uma apresentação de dança com bandeiras LGBTQIAPN+ abriu os trabalhos. Depois veio o aquecimento dos jogadores e a formação dos quatro times. As partidas aconteceram ao som de muito funk, pop e música eletrônica - e, entre uma dança e outra, os jogadores suavam a camisa enquanto o público aplaudia e se emocionava.
A proposta do grupo é clara: quebrar estereótipos e reunir todos - homossexuais, travestis, heterossexuais - em torno de uma brincadeira que remete à infância, ao tempo dos nossos avós.
Thales Brener, 35 anos, produtor, ator e um dos criadores do evento, explicou: "É uma forma de dizer à sociedade que estamos aqui com o intuito de sair do espaço noturno e vir para a luz do dia. Onde podemos ser vistos com leveza e alegria".
Moradores de BH e turistas lotaram a Guaicurus para ver e participar dos jogos. Ana Clara Mendes, 26 anos, servidora pública, adorou as apresentações: "Acho importante mostrar o lado divertido da união entre todos".
Guilherme Neves, 29 anos, economista, se emocionou ao se ver representado: "Na infância, eu não gostava de futebol e sempre acabava na queimada. Esse evento representa muito para a comunidade. É um espaço seguro para brincar e se unir. Se hoje posso andar de mãos dadas com meu namorado na rua, é graças a iniciativas como essa".
Rômulo Marinho, pedagogo de 59 anos, participou do evento ao lado da mãe, dona Nedito Marinho, de 80 anos. Fã da Virada Cultural desde as primeiras edições, ele destacou: "É muito divertido e aproxima as pessoas de forma leve, independentemente de defender uma causa ou não. Na brincadeira, não existe gênero".