A vacina Calixcoca, contra dependência de cocaína e crack, desenvolvida pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apresentou eficácia nos testes em camundongos e deve começar a ser testada em humanos em até quatro anos. O anúncio foi feito nesta quinta-feira (28/8) pelo governador Romeu Zema (Novo) e pela reitora da instituição Sandra Goulart durante a celebração dos 40 anos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), que é cotitular da patente e financiará, junto ao Executivo, os testes clínicos. 

“É a primeira vacina vinculada ao consumo de crack e cocaína. Uma vacina sintética que já mostrou eficácia grande em camundongos, diminuindo os efeitos, a dependência e os abortos em ratos que estavam grávidas. O plano de trabalho é que em até quatro anos finalize essa fase”, afirmou o secretário de Estado de Saúde (SES-MG), Fábio Baccheretti. 

O pró-reitor de Pesquisa da UFMG, professor Fernando Reis, explica que, com a aprovação dos testes em camundongos, o estudo entra em uma nova fase, com previsão de duração de até quatro anos, anterior aos testes em humanos. A primeira etapa do processo é a pré-clínica, onde serão feitos os trâmites burocráticos que buscam a aprovação do início dos testes em pessoas. “Apenas uma pequena parte das vacinas progridem para os testes clínicos. Nós temos a esperança que ela vença essa etapa e vá para a fase clínica (testes em humanos)”, avaliou. 

A expectativa é que, se aprovada, o início dos testes em humanos ocorra no terceiro e quarto ano do período, segundo o pró-reitor. “Esse prazo pode ser prorrogado, caso necessário”, pontua. 

Tratamento de dependentes 

Após a fase de testes e aprovação da Anvisa, a Calixcoca será usada como auxílio para o tratamento de dependentes. “Ela será usada em dependentes porque ajuda a diminuir ou bloquear os efeitos de entrada da droga. Então mesmo se uma pessoa tenha o desejo de usar, a vacina atuará bloqueando seus efeitos no sistema nervoso central”, explica Reis. 

O secretário de Saúde pontua que, se aprovada, a tecnologia usada para a produção da vacina pode inovar o desenvolvimento de imunizante no mundo, possibilitando a criação através de moléculas sintéticas. “Diferentemente das vacinas já testadas em outros países, a Calixcoca é não proteica, baseada na molécula sintética V4N2 (calixareno), e induz o organismo a produzir anticorpos que se ligam à cocaína no sangue, o que impede que a droga alcance o cérebro e bloqueia seus efeitos”, disse. 

Para Baccheretti, a vacina também será aliada no tratamento de doenças respiratórias desenvolvidas muitas vezes por dependentes. “Assim que aprovada pela Anvisa ela deve ser incorporada pelo Governo de Minas e, sem dúvidas, pelo Ministério da Saúde ao SUS. Isso vai desafogar o sistema de saúde, tendo em vista que geralmente dependentes desenvolvem turbeculose e outras doenças devido a baixa imunidade, além da prematuridade de bebês que foram gerados por mães dependentes”, estima. 

Patente internacional 

O avanço para a fase que pode levar aos testes em humanos acontece após a concessão da carta patente nacional, pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), e internacional, nos Estados Unidos, da vacina considerada inovação terapêutica contra a dependência de cocaína e crack. 

Os testes serão subsidiados através de aporte de R$ 18,8 milhões feito pelo Governo de Minas. Deste total, R$ 10 milhões são oriundos da Secretaria de Estado da Saúde (SES-MG) e R$ 8,8 milhões da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede-MG), por meio da Fapemig.

Segundo o Governo de Minas, em 2024, foram repassados R$ 14,6 milhões, e mais R$ 1,69 milhão será pago ainda em 2025. O restante do valor — R$ 2,6 milhões — será repassado entre 2026 e 2027. Além disso, por meio de chamadas públicas da Fapemig, outros R$ 500 mil já foram investidos para o desenvolvimento da pesquisa.