O chefe de cozinha vítima de injúria racial na tarde desta sexta-feira, em um restaurante da rua Tupis, no centro de Belo Horizonte, disse que essa foi a sensação mais “horrível” que já passou na vida. “Me chamou de macaco, gorila, que eu tinha que ficar numa jaula”, disse  Leonardo de Paula da Silva dos Santos, de 47 anos. 

O suspeito, um presidiário de 29 anos, cumpre pena por tráfico de drogas, associação para o tráfico, furto e roubo, e está em liberdade beneficiado pelo indulto de Natal. Ele foi preso e levado para Central de Flagrantes 2 (Ceflan), do bairro Floresta.

“A gente dessa cor é muito discriminado no Brasil. A gente não pode deixar acontecer”, disse a vítima.

O chefe de cozinha conta que o versão de que o suspeito foi impedido de entrar no restaurante por estar sem camisa não procede. Segundo ele, o homem pediu um prato de comida e ele não negou. “A gente falou para ele não entrar, que aguardasse. Ele me chamou de macaco e disse que eu tinha que viver numa jaula”, conta a vítima. 

Ainda de acordo com a vítima, o suspeito queria intimidar clientes do restaurante e chamou mulheres de vagabundas e raparigas. “A gente de cor é ser humano. Eu também não gostaria que fosse com outra pessoa. A vítima poderia ser filho de qualquer um”, disse.

O chefe de cozinha conta que é a primeira vez que sofre esse tipo de ofensa. “Estou chateado demais. Triste, triste demais. É horrível. Não pretendo passar por isso de novo”, desabafou a vítima, que ficou feliz com a reação dos colegas de trabalho, que tomaram as dores dele e correram atrás do suspeito e acionaram a polícia. O suspeito é moreno, quase preto, segundo a vítima.

“Ele me ameaçou. Disse que quando cumprisse a pena dele, que quando saísse da prisão iria sentar bala em mim, encher a minha cara de bala”, conta.

O chefe de cozinha conta que em momento algum reagiu às ofensas. “Fiquei tranquilo, fiquei na minha. Se eu batesse nele, eu perderia a razão. Tenho uma filha de 3 anos, que é da minha cor. Imagina o pai dela preso por causa de um cara sem consciência?”, questionou. “Se eu brigar, vai acontecer o que sempre acontece hoje: vai gerar briga, morte. É isso que está acontecendo no nosso Brasil. A gente tem que trazer a paz para o nosso lado. Graças a Deus, eu rezo muito para manter a paz e proteção para todos os seres humanos”, disse o chefe de cozinha, emocionado.

Para o chefe de cozinha, os casos de injúria estão cada vez mais frequentes pois os autores do crime não ficam presos e acreditam na impunidade.

Investigação

O sargento Marcelo Fernandes, do Batalhão Metrópole e do Centro de Jornalismo Policial da Polícia Militar (PM) conta que foi abordado na rua Tupis por uma das vítimas do restaurante que relatou a injúria racial contra o colega.

O suspeito foi preso dois quarteirões adiante. “Ao fazer a abordagem desse autor, ele ficou muito nervoso, agressivo e partiu para cima da guarnição. Por isso que houve a necessidade de utilizar a força moderada para que a guarnição não fosse atingida pelos golpes dele. 

O preso danificou a viatura, segundo o militar. “Assim que foi feita a prisão dele, nós o algemamos. Ele nos ameaçou de morte dizendo que assim que a gente retirasse a algema dele, ele iria matar a gente, partir para cima da gente. Nós o colocamos dentro do compartimento de segurança da viatura, dentro do cofre. Nesse momento, ele começou a disparar cusparadas em cima da gente. Ele tinha um corte na gengiva e, infelizmente, um cuspe veio com um pouco de muco e de sangue e atingiu a minha  boca”, conta o PM, que precisou receber atendimento no Hospital Militar.

O preso foi levado para a Central de Flagrantes 2, do  bairro Floresta, e vai responder pelos crimes de injúria racial, ameaça, desobediência, resistência e também por colocar em risco a saúde dos militares.