Estudante do terceiro ano do ensino médio, com bom desempenho e nenhuma reprovação, Lucas Gomes da Silva, 17, ficou um mês seguido sem ir para a Escola Estadual Ari da Franca, na região de Venda Nova, em Belo Horizonte. Em início de depressão, o adolescente não tinha vontade de sair da cama e só voltou à sala de aula na última segunda-feira, depois de intervenção da direção do colégio. Ele é um dos 14,5 mil alunos que retomaram os estudos depois que a Secretaria de Estado de Educação passou a adotar a busca ativa como uma medida que freasse o alto índice de evasão escolar no Estado. 

Em 2018, 565 mil estudantes do sexto ano em diante abandonaram as escolas públicas de todo o país. E Minas foi o único Estado brasileiro que registrou aumento na taxa de abandono escolar entre 2014 e 2018. Nesse período, a evasão nas salas de ensino médio das escolas públicas mineiras cresceu 3,5%, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). No restante do país, por outro lado, o indicador está em queda.

Para resgatar a vontade de estudar tanto dos que já abandonaram o sistema de ensino como também daqueles que têm dificuldade de aprendizagem, o Estado vai lançar, nos próximos dias, um programa de reforço escolar que prevê até capacitação de professores. Nesse primeiro momento, serão abertas 4.000 turmas, em 1.637 escolas.

“Uma coisa que nos surpreendeu quando chegamos a Minas Gerais é que o Estado ainda amarga os piores indicadores de reprovação e abandono escolar do país. Entendemos que temos que agir para acabar com essa rejeição do estudante com a sala de aula”, afirma a secretária de Estado de Educação, Julia Sant’Anna. Ela explica que os focos das turmas de reforço são as escolas com maior número de alunos infrequentes resgatados e as com maior proporção de estudantes em vias de reprovação por nota.

Segundo a secretária, esse trabalho se tornou possível graças à criação de um novo sistema de acompanhamento de notas e faltas, que gerou estatísticas capazes de avaliar a presença e o desempenho dos alunos. Os que apresentaram, no primeiro bimestre deste ano, uma ausência igual ou maior a 50% das aulas entraram na lista de abandono da escola.

Essa planilha foi encaminhada para as direções de cada instituição de ensino para que o trabalho de resgate dos alunos fosse iniciado. Foram detectados 74,5 mil estudantes infrequentes no Estado. Com uma busca ativa, que incluiu telefonemas, idas às casas dos alunos e até carro de som nas ruas em algumas cidades no interior mineiro, 14,5 mil estudantes voltaram para as salas de aula no último mês. 

Entre eles está Lucas, que quase desistiu no último ano da formação básica. “Eu não sentia vontade de sair da cama, não conseguia reagir. Até que o pessoal da escola me procurou lá em casa, e, hoje, graças a Deus estou aqui. Eles me mostraram que eu não estava sozinho”, conta. 

Além dele, outros 53 alunos da mesma instituição de ensino voltaram a frequentar as aulas. “Nós recebemos uma planilha da Secretaria de Educação mostrando que 107 alunos estavam ausentes. A gente já até acompanhava uns casos, mas com a planilha em mãos pudemos direcionar nosso foco”, conta o diretor da escola, Igor de Alvarenga Oliveira. 

Detalhamento. Os estudantes terão quatro horas aulas de reforço, divididas em duas vezes por semana. Já os professores vão passar por uma qualificação antes de ministrar as aulas e receber um adicional por elas. 

Minientrevista

Julia Sant'Anna, secretária de Estado de Educação

Como surgiu a ideia de levantar dados sobre os alunos que estavam prestes a abandonar as escolas em Minas?

Não tínhamos acompanhamento da rede. Apesar de Minas Gerais ter uma das maiores do Brasil, perdendo apenas para a de São Paulo, não havia acompanhamento do fechamento de cada bimestre, de como estavam sendo trabalhadas as avaliações dos professores nem dos indicadores de frequência dos alunos. 

Quais foram as etapas?

Primeiro, fizemos a harmonização do calendário das escolas. E, depois, começamos a avaliar, a cada bimestre, se o estudante estava em vias de abandonar a escola ou com dificuldade em alguma disciplina específica. 

Quais são as outras ações previstas?

O resgate dos alunos está sendo feito, e ficamos satisfeitos com isso. No processo, temos que trabalhar com o que chamamos de “salas superlotadas”. Conseguimos medir as dezenas de milhares de classes e identificar quais temos que desmembrar para melhorar o atendimento. Identificamos que será necessário realizar um trabalho mais próximo em mais de 600 escolas. Em alguns casos, há necessidade de fusão (onde há salas com poucos alunos).