O aparecimento dos primeiros casos de coronavírus em Minas Gerais, no começo do mês de março, e as primeiras medidas de isolamento social podem ser responsáveis por um dado interessante do trânsito: a diminuição no número de acidentes, tanto no Estado quanto em Belo Horizonte de lá para cá. O fato das pessoas permanecerem por mais tempo em casa, como estratégia de combate à pandemia, pode explicar a redução.

Um levantamento da Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) aponta que houve uma queda de praticamente 20% no número de acidentes de trânsito ocorridos em BH, se comparados os meses de março de 2019 e de 2020. Neste ano aconteceram 5.454 acidentes dessa natureza em março, na capital mineira. No mesmo período de 2019, o órgão estadual contabilizou 6.793; 1.339 a mais.

A tendência de queda é apenas um pouco menor em Minas Gerais, uma vez que a redução no número de acidentes comparado os meses de março de um ano para o outro aconteceu na ordem de 17%. Conforme aponta o levantamento, no terceiro mês do ano passado ocorreram 21.896 acidentes de trânsito na região. Em contrapartida, são 17.994 em março de 2020, um total de 3.902 a menos.

Com a redução dos acidentes, houve também queda no número de vítimas. Em BH, o número de feridos caiu 11%, de 1.216 para 1.073. Enquanto isso, em Minas Gerais a diminuição é ainda maior, cerca de 25%. Isso, pois, em março do ano passado 8.039 pessoas acabaram machucadas após acidentes de trânsito, enquanto em março de 2020, 6.033 ficaram feridas.

Os números de mortes, no entanto, permaneceram semelhantes. Cento e trinta e oito pessoas morreram em acidentes de trânsito, em Minas, em março de 2019. Em 2020, foram 137. Já em BH, a quantidade de vítimas fatais nesse período é a mesma do ano passado, 11. 

Queda também é sentida no HPS João XXIII

Referência no atendimento a pessoas com traumas sérios e linha de frente para tratamentos de queimados, o Hospital de Pronto Socorro (HPS) João XXIII sentiu primeiro os efeitos da drástica redução no número de acidentes de trânsito em Belo Horizonte e também em Minas Gerais. Enquanto em março do ano passado, a equipe de saúde da unidade precisou atender 534 pacientes que haviam se envolvido em acidentes de carro, moto e ônibus, em março deste ano o número de feridos recebidos no HPS caiu para 461.

A médica da urgência do João XXIII, Patrícia Cabral, acredita que a redução no número de atendimentos a vítimas de acidentes de trânsito seja realmente fruto do começo do período de isolamento social. “Tem 15 anos que trabalho tanto no João quanto no SAMU, e o que nós vimos é uma redução importante no atendimento a pacientes que sofreram esses acidentes. Como a pessoa está restrita dentro de casa, diminui o acidente de trânsito”, esclarece ela, que também é atendente com ambulâncias do SAMU.

Os acidentes com pedestres e ciclistas também caiu consideravelmente no mesmo período, se considerados os dados de atendimento do João XXIII. No terceiro mês do ano passado, 56 ciclistas acabaram se envolvendo em acidentes de trânsito, e o mesmo aconteceu com 138 pedestres. Já em 2020, o número caiu para 24 ciclistas atendidos no HPS – cerca de 57% de redução – e para 81 pedestres. Isso significa uma queda de 41% nessas ocorrências.

Se por um lado houve redução no número de acidentes de trânsito mediante o fato das pessoas estarem confinadas em suas casas, por outro, o aumento no número de atendimentos a pacientes que sofreram acidentes domésticos é facilmente perceptível nesse momento de isolamento. “Os casos de traumas graves continuam chegando. O número de queimados aumentou muito justamente pelo fato das pessoas estarem mais restritas em suas casas. Temos casos de pessoas que caem da laje, crianças que se machucam correndo…”, esclarece a médica.

De acordo com ela, acidentes com fogo em casa são muito comuns, assim como quedas envolvendo crianças. “Ontem mesmo atendemos uma paciente que sentou em um muro, e o muro desmoronou. Os acidentes mais comuns dentro de casa envolvem queimaduras. As crianças também estão restritas e, com isso, aumenta a tendência de elas subirem em móveis, pias… Muitas sobem até em cima do vaso por curiosidade, e esse é um dos acidentes mais graves dado o elevado potencial de corte da louça. Esses acidentes domésticos são alguns dos que mais temos atendido, justamente por conta da necessidade dessas pessoas ficarem em casa”, alerta.