O afastamento de 11.459 trabalhadores do sistema de transporte público da região metropolitana de Belo Horizonte por problemas de saúde durante oito anos representa um impacto não só nas condições físicas e psicológicas de motoristas e cobradores. Estudo do Ministério Público do Trabalho e do Cefet contabiliza um gasto anual que pode chegar ao valor médio de R$ 1,1 milhão do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para custear auxílios previdenciários após episódios desencadeados por más condições de trabalho.
Entre 2011 e 2016, o total gasto com afastamentos da categoria chegou a R$ 7 milhões. O valor mais significativo foi empenhado nos casos de motoristas e cobradores diagnosticados com dorsalgia – síndrome acompanhada de dor na região torácica.
Estresse grave e transtornos de adaptação aparecem como a segunda causa de maior empenho do INSS com auxílios previdenciários somando R$ 729 mil em seis anos. Transtornos ansiosos e episódios depressivos, juntos, contabilizaram pouco mais de R$ 1 milhão.
“Qualquer valor referente a um acidente, a uma doença do trabalho, deve assustar. Porque significa que uma pessoa, geralmente por falha do empregador, sofreu algum mal e está afastada com todo um transtorno em torno disso”, alerta o professor e advogado mestre em direito das relações sociais e trabalhistas Washington Barbosa.
Para o professor do Cefet responsável pelo estudo que quantificou o rombo que os afastamentos geraram nos cofres públicos, Renato Guimarães Ribeiro, o montante gasto pelo INSS acaba encarecendo ainda mais a conta do sistema de transporte público que, somente em Belo Horizonte, recebeu R$ 237,5 milhões em subsídio da prefeitura no ano passado. “Isso (gastando com os afastamentos) não é uma forma de subsidiar? Porque você acaba pegando o dinheiro do trabalhador que contribuiu para o INSS para bancar esses benefícios”, diz.
Segundo o presidente da Associação Mineira de Medicina do Trabalho (Amimt), Filipe Pacheco, entre os motoristas de ônibus atendidos por ele, é comum a apresentação de quadros cardiovasculares e gastrointestinais. Os diagnósticos são desenvolvidos a partir da imposição de passar o dia estático à frente do volante. Problemas na coluna e estresse também são rotineiros no consultório.
“As empresas precisam investir em ações de promoção de saúde. As características do trabalho não há como serem alteradas, o motorista passa quase toda a jornada sentado. É preciso que haja estímulo para que os trabalhadores busquem uma qualidade de vida melhor, pensando na posição durante o trabalho e na alimentação”, diz.
Falta fiscalização
Apesar de as condições de trabalho dos motoristas e cobradores serem complexas em várias partes do país, a fiscalização esbarra em falta de estrutura, conforme revelaram, sob condição de anonimato, fontes do Ministério do Trabalho e Emprego. Um cálculo do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait) aponta para um déficit de 1.600 profissionais para as inspeções no país, número confirmado por servidores do ministério.
A média é de 130 aposentadorias por ano, sem reposição nem previsão de novo concurso nos próximos anos. “As fiscalizações deixam a desejar porque a quantidade de empresas é enorme e a de agentes disponíveis para esse tipo de função é pequena”, diz o advogado Washington Barbosa. Em nota, o ministério disse não ter posição sobre o assunto “devido aos poucos dias do novo governo”.
Confira quais são as principais causas de afastamentos de motoristas
- Outros transtornos ansiosos (manifestações ansiosas que não têm como causa uma única situação determinada. Podem vir acompanhadas de sintomas depressivos e fobias)
- Episódios depressivos
- Dorsalgia (dores musculares que podem vir acompanhadas de formigamento nas pernas)
- Fratura ao nível do punho e da mão
- Reações ao estresse grave e transtornos de adaptação
- Fratura no antebraço
- Fratura no pé
- Transtornos internos no joelho
- Hérnia Inguinal
- Lesões do ombro
Confira quais são as principais causas de afastamentos de cobradores
- Episódios depressivos
- Fratura da perna
- Outros transtornos ansiosos (manifestações ansiosas que não têm como causa uma única situação determinada. Podem vir acompanhadas de sintomas depressivos e fobias)
- Dorsalgia (dores musculares que podem vir acompanhadas de formigamento nas pernas)
- Fratura ao nível do punho e da mão
- Fratura do antebraço
- Fratura do pé
- Reações ao estresse grave e transtornos de adaptação
- Transtornos internos dos joelhos
- Varizes dos membros inferiores
Fontes: MPT e Cefet