Pedro I

Alça norte de viaduto também tem risco de desabar

Por conta do problema, o trânsito na região deve continuar fechado e a demolição da construção é recomendada

Por JOSÉ VÍTOR CAMILO
Publicado em 22 de julho de 2014 | 18:05
 
 
 
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O parecer dos técnicos contratados pela empresa Cowan, responsável pela obra do viaduto Batalha dos Guararapes, que desabou no início do mês, recomenda o isolamento total da avenida Pedro I, na altura do bairro São João Batista, em Venda Nova, por conta da alça norte da estrutura, que está escorada atualmente, que foi feita com base no mesmo projeto executivo que apresentou falhas. Durante a coletiva de imprensa realizada na tarde desta terça-feira (22), a empresa afirmou que o bloco do viaduto tinha um décimo do aço necessário para suportar o peso da estrutura. A Consol, empresa autora do projeto, ainda não se posicionou.

Segundo as informações entregues durante a coletiva, o calculista Catão Francisco Ribeiro, que é responsável por mais de 2.200 projetos de pontes e viadutos, concluiu que o projeto executivo estrutural do bloco e da fundação P3, fornecido pela Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), possui falhas de concepção que provocaram o afundamento. A Cowan ainda afirmou que os órgãos competentes já foram informados sobre o parecer e, como a alça norte foi projetada igualmente à sul, que desabou, o isolamento total é recomendado.

Ainda conforme a empresa, foi protocolado junto à prefeitura uma recomendação de que a outra alça também deve ser demolida por explosão para reduzir o risco. Além disso, foi dito que não se sabe quanto tempo as escoras que estão na alça norte suportarão o peso.

Segundo o parecer dos técnicos, não está claro no projeto executivo a concepção adotada no dimensionamento do bloco, que deveria ter sido considerado flexível e dimensionado como viga, considerando os esforços à flexão, ao cisalhamento e à torção. "O bloco foi dimensionado com um décimo do aço que deveria ter para equilibrar o peso do pilar e do viaduto sobre as estacas. Como não tinha esse aço, o peso ficou todo em cima de duas estacas que ficavam bem nas laterais do pilar", disse Ribeiro durante a coletiva.

Ainda conforme o calculista, o engenheiro responsável por aprovar o projeto é da Sudecap. "O problema é que ele não refaz os cálculos, apenas dá uma olha mais ou menos. Com isso, deixou passar este erro", afirmou.

A Consol, empresa responsável por fazer o projeto executivo, informou que ainda avaliará os resultados apresentados na coletiva e somente depois se posicionará sobre o assunto.

Erros

No projeto entregue pela Sudecap, o aço projetado para os esforços à flexão do bloco foi de 50,3 cm², enquanto o necessário seria 685 cm². O projeto ainda não considerava o aço para esforços ao cisalhamento e à torção, que deveriam ser, respectivamente, 184,1 cm² e 10,2 cm². Outro erro apontado pelos estudos feitos foi na carga de trabalho adotada na estaca (de 80 cm de diâmetro e 20 metros de profundidade). O projeto apontava uma carga de trabalho de 250 toneladas, enquanto o necessário deveria ser 467 toneladas, ou seja, as estacas deveriam ser mais profundas, ou ter um diâmetro maior. Um aumento no número de estacas também resolveria o problema, conforme o parecer técnico.

Com estes erros as estas estacas estavam suportando um peso maior do que aguentariam e, consequentemente, foram ruindo embaixo do solo sem que ninguém visse. "Quando tiraram as escoras, 18 dias depois o viaduto caiu. Não sei como não caiu antes e matou mais gente, pois já era para ter caído", finalizou Ribeiro. 

Atualizada às 18h28

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