A suposta 'Lista do Massacre", que circulou no fim de semana nas redes sociais e trazia 35 cidades mineiras que poderiam ser alvo de atentados nesta segunda-feira (10 de abril), levou à falta em massa de estudantes em escolas de Belo Horizonte e região metropolitana, que, segundo a publicação, somam 23 escolas supostamente sob ameaça. A reportagem de O TEMPO conversou com pais de estudantes que, assustados, preferiram deixar os filhos em casa e, em pelo menos uma escola, uma prova chegou a ser remarcada pela ausência de um grande número de alunos.
Na Escola Estadual Pandiá Calógeras, no bairro Santo Agostinho, região Centro-Sul de Belo Horizonte, após pais procurarem a Polícia Militar (PM) e a direção da instituição, o local amanheceu com reforço policial. Em conversa com a reportagem, uma funcionária que preferiu não ser identificada, contou que os chefes de turma (alunos da escola) receberam a mensagem sobre um suposto atentado que aconteceria nesta segunda e, por precaução, avisaram aos pais.
"Os policiais já disseram que a escola está protegida, que seria uma fake news que os alunos receberam. Mas, é claro, que muitos pais ficaram com receio de mandar o filho hoje. O problema é que era semana de provas. Por isso, a prova que seria aplicada hoje foi remarcada para sexta-feira. Mas já atendi pais que disseram que, apesar de garantirmos que não tem nada acontecendo, insistiram em deixar os filhos em casa inclusive amanhã (terça-feira)", detalhou a mulher que trabalha na instituição.
Em uma postagem nas redes sociais, a escola pública afirmou que entende a situação das "ameaças" como preocupante e pediu que qualquer informação sobre a autoria das mensagens seja repassada à polícia, por meio do telefone 181, o Disque-Denúncia da Polícia Civil, que recebe denúncias anônimas.
No bairro Serrano, na região Noroeste de BH, a mãe de uma menina de 17 anos e um garoto de 10, contou que preferiu deixar os dois filhos em casa nesta segunda. "A minha irmã fez a mesma coisa, deixou os filhos todos em casa por garantia. A 'meninada' está pirando, e os pais também. O pânico é geral. Na escola dos meus filhos, vários estudantes faltaram", detalhou a mulher.
A reportagem procurou a instituição particular de ensino, que garantiu que as aulas aconteceram normalmente e negou que tenha ocorrido problema de frequência de estudantes nesta segunda. Ainda segundo a escola, apesar disso, foi reforçado o cuidado com a segurança na portaria, inclusive com conversa da direção para tranquilizar os pais que chegavam para deixar seus filhos.
Uma moradora vizinha da Escola Estadual Joaquim José Pereira, em Igarapé, ao ver a equipe de reportagem disse, ainda de dentro de casa, que, por lá, "ninguém foi à aula hoje (segunda)". A mulher, que preferiu não se identificar, disse que é avó de três crianças e que teme pela segurança delas.
Tanto a Secretaria de Estado de Educação (SEE) como a Secretaria Municipal de Educação de BH foram procuradas, mas, até a publicação desta matéria, não haviam se posicionado. As pastas também foram questionadas se seria possível calcular uma média de frequência dos estudantes nesta segunda, mas, até o momento, nenhum dado foi repassado.
Medo também afeta trabalhadores da educação
Durante conversa com a reportagem, a funcionária da Escola Estadual Pandiá Calógeras, que preferiu não se identificar, lembrou que não apenas os pais e alunos que sentem medo nessas situações, mas, também, os professores e outros trabalhadores das instituições. "Eu mesma fiquei com receio, avisei meus filhos que estava acontecendo isso. Só agora, que eu recebi da escola a informação de que está tudo em segurança, eu fico um pouco mais tranquila", disse a trabalhadora.
A presidente do Sindicato dos Professores de Minas Gerais (Sinpro-MG), Valéria Morato, disse que tem acompanhado com "indignação e tristeza" a onda de violência e a tentativa de gerar o caos por meio de fake news que está afetando as escolas do Estado.
"Queremos dizer aos professores e professoras que o sindicato está à disposição caso algum deles se sinta prejudicado, se sinta ameaçado. Estamos aqui para discutir uma escola em que caibam todos e todas: professores, estudantes e famílias. Queremos que possamos voltar a ter na escola a confiança que sempre depositamos nesse lugar de acolhimento, de solidariedade, de sociabilidde, de ensinamento e troca de conhecimento", completou a presidente da entidade.
O Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino de Minas Gerais (Sinep) foi procurado, mas informou que só poderá se manifestar ao fim da tarde desta segunda-feira.
Policiamento reforçado
Em Igarapé, na região metropolitana da capital, pelo menos 20% dos alunos faltaram à aula nesta segunda-feira e a Polícia Militar (PM) do município intensificou o patrulhamento na entrada dos estudantes depois que circularam mensagens indicando que um massacre aconteceria na instituição.
"A gente fica com medo, né, mas como impedi-la de estudar? Não posso deixar minha filha em casa, a gente espera que essa situação se resolva logo", afirma a cabeleireira Evanice Rodrigues Lima, mãe de uma aluna do 8° ano da Escola Estadual Joelma Alves de Oliveira.
A mulher conta que a filha também está com medo, mas que as duas já conversaram sobre esses ataques. "Eu acho que poderia colocar mais policiais, vigias e aumentar a segurança de um modo geral", diz. Na porta da escola, alunas disseram que "escola está vazia" e que no dia seguinte "não vai vir ninguém". Fontes da reportagem de O TEMPO disseram que, na tarde desta segunda-feira, uma reunião entre a PMMG e a prefeitura de Igarapé foi agendada com urgência sobre a situação da cidade, que, segundo os relatos, "está em alerta".
A diretora da instituição de ensino, Aparecida Raimunda Machado Silva, disse que desde o fim de semana as famílias preocupadas estão procurando a escola para saber se a ameaça é real. Segundo a diretora, os portões da escola sempre ficam trancados e só são abertos com identificação. "Além disso, os profissionais estão orientados a prestarem atenção nos sinais sobre esse assunto, seja em conversas de alunos ou outros indícios", conta a diretora.
Escolas do Barreiro, em BH, também tiveram o policiamento reforçado após a circulação de mensagens falando sobre um possível massacre. Além disso, a PMMG anunciou a Operação de Proteção Escolar. Os trabalhos consistem na criação de um conselho comunitário de segurança escolar, que reúne professores, pais, alunos e a polícia.
O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), por meio do seu Grupo de Atuação Especial de Combate aos Crimes Cibernéticos (Gaeciber), instaurou um procedimento preliminar para investigar a origem e a veracidade da chamada "Lista do Massacre", que começou a circular nas redes sociais no último final de semana e causou pânico em estudantes de 35 cidades mineiras.
Governo de Minas monitora e pede tranquilidade
O governo de Minas, por meio da Secretaria de Estado de Educação (SEE-MG), afirma que "as mensagens de supostas ameaças em redes sociais, envolvendo escolas da rede estadual, estão sendo monitoradas e investigadas pelos órgãos competentes". Conforme a pasta, "até o momento, não foram detectadas quaisquer anormalidades nas escolas da rede estadual".
O governo também pediu "tranquilidade" aos professores, alunos, pais e responsáveis. "A SEE-MG informa que as aulas estão ocorrendo normalmente em toda a rede estadual e pede aos servidores, estudantes, pais ou responsáveis e à comunidade escolar que mantenham a tranquilidade. Caso alguma atividade pedagógica tenha sido eventualmente prejudicada em alguma unidade de ensino estadual, elas serão repostas, sem prejuízo aos alunos", prosseguiu.
"Ciente dos recentes casos de violência registrados em outros estados, o governo tem se empenhado em prevenir e enfrentar as situações desta natureza nas escolas estaduais mineiras, por meio de ações educativas junto aos estudantes e às comunidades escolares, além do mapeamento e das ações policiais em áreas sensíveis, sempre com o objetivo de promover e defender direitos", afirmou.
PBH garante reforço na segurança
Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) disse que tem adotado "medidas preventivas para assegurar a segurança nas escolas municipais". "Parceria entre as secretarias de Educação Segurança e Prevenção tem garantido a presença de agentes da Guarda Municipal nas 323 unidades de ensino da rede municipal", informou.
Segundo o município, foi criado um grupo de trabalho "para discutir ações de prevenção e encaminhamento em casos de ameaça e situações de violência nas escolas municipais, com representantes da Diretoria de Políticas Intersetoriais da SMED, da Diretoria de Prevenção da SMSP e do Comando da Guarda Municipal".
"As escolas municipais já são acompanhadas por equipes da Patrulha Escolar da Guarda Municipal, que ampliam a ronda a todo o entorno dos estabelecimentos de ensino. Como ação de prevenção, a Secretaria de Educação desenvolve em todas as escolas municipais projetos pedagógicos com alunos e professores para a melhoria da convivência e a segurança nas unidades. Todos os diretores possuem um documento que aborda a temática de combate ao bullying", afirmou.
"Há também a Gerência do Clima Escolar que orienta as escolas na elaboração do Plano de Convivência Escolar, além de ações de abordagem preventiva e o tratamento das situações de violência. O município conta com o documento: 'Escola, Lugar de Proteção - Guia de Orientações e Encaminhamentos', que faz os devidos direcionamentos para tratar situações de violência, ato infracional, crimes, violações de direitos e outras ocorrências no ambiente escolar ou que acontecem fora da instituição e acabam interferindo no clima escolar", completou.
Posicionamento completo do Governo de Minas
A Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE/MG), com o apoio das Forças de Segurança do Estado, informa que a atual gestão do Governo de Minas desenvolve diferentes iniciativas, ações e projetos no combate à violência no ambiente escolar das unidades estaduais. Ciente dos recentes casos de violência registrados em outros estados, o governo tem se empenhado em prevenir e enfrentar as situações desta natureza nas escolas estaduais mineiras, por meio de ações educativas junto aos estudantes e às comunidades escolares, além do mapeamento e das ações policiais em áreas sensíveis, sempre com o objetivo de promover e defender direitos.
Reforçamos que as mensagens de supostas ameaças em redes sociais, envolvendo escolas da rede estadual, estão sendo monitoradas e investigadas pelos órgãos competentes. Até o momento, não foram detectadas quaisquer anormalidades nas escolas da rede estadual. Ressaltamos a importância de que todos colaborem no enfrentamento às fake news no ambiente escolar e não compartilhem conteúdos de violência relacionados às escolas — principalmente as informações de cunho duvidoso, sem confirmações de fontes oficiais.
A SEE-MG informa ainda que as aulas estão ocorrendo normalmente em toda a rede estadual e pede aos servidores, estudantes, pais ou responsáveis e à comunidade escolar que mantenham a tranquilidade. Caso alguma atividade pedagógica tenha sido eventualmente prejudicada em alguma unidade de ensino estadual, elas serão repostas, sem prejuízo aos alunos.
Em relação às ações desenvolvidas na atual gestão para o enfrentamento à violência nas escolas estaduais, destacamos o trabalho dos Núcleos de Acolhimento Educacional (NAEs), formados por psicólogos e assistentes sociais, que atuam nas escolas estaduais de todo o Estado. Os especialistas realizam um trabalho itinerante por meio de palestras e oficinas, em diálogo constante com a comunidade escolar, auxiliando a gestão escolar e os profissionais da educação na resolução de conflitos, na identificação de situações de vulnerabilidade em relação aos estudantes e na promoção de ações que cooperem para a saúde do ambiente escolar.
Outra iniciativa de prevenção e combate à violência é o Programa de Convivência Democrática, com foco na promoção da paz no ambiente escolar, que está em consonância com a Lei 23.366, de 2019, que institui a Política Estadual de Paz nas Escolas. O programa é constituído por documentos e protocolos que orientam sobre as intervenções e encaminhamentos em situações de violências e violações de direitos nas escolas, estando disponível para as escolas estaduais de todo o estado.
A Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) também atua rotineiramente no ambiente escolar para prevenir e reduzir casos de delitos, agressões e ameaças. Em atenção aos registros de violência em outros estados, nesta segunda-feira (10/04) a PMMG lançou a Operação de Proteção Escolar, com o objetivo de fortalecer a rede de proteção das unidades de ensino públicas e privadas nos 853 municípios mineiros. Na prática, a articulação envolverá o reforço e aprimoramento de programas de prevenção já desenvolvidos pela PMMG nas escolas, como o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd) e o Programa de Educação Ambiental (Progea), que serão intensificados.
Outra ação importante, a Patrulha Escolar, responsável pela identificação de pontos sensíveis de segurança e a consequente realização de rondas preventivas no entorno das escolas, também ganhou reforço na atual gestão. Nesta segunda-feira (10/04), a PMMG anunciou a entrega de 127 novas viaturas para fortalecimento da rede de proteção às unidades de ensino — serão 83 veículos para a Patrulha Escolar, 28 para o programa Proerd e 16 para o programa Progea.
No âmbito das investigações, o setor de Inteligência da Polícia Civil de Minas Gerais atua continuamente para identificação de suspeitos de ameaças e/ou casos de violência relacionados ao ambiente escolar, contando com o apoio da Divisão Especializada de Investigação a Crimes Cibernéticos, para apuração relacionada aos crimes praticados com auxílio da internet. Em casos de ameaças direcionadas a pessoas específicas ou a instituições públicas e/ou privadas, como as unidades de ensino, a PCMG orienta que as vítimas ameaçadas compareçam à unidade policial mais próxima de sua residência para o devido registro dos fatos e demais orientações de segurança.
Sobre a publicização de dados relacionados a casos de violência em escolas, as Forças de Segurança de Minas Gerais, representadas pela PMMG, PCMG e Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp), informam que não são divulgados números atrelados à possíveis casos de ameaças de massacres em escolas estaduais para preservar as investigações policiais e a consequente identificação e punição de eventuais autores, visando sempre a proteção prioritária da comunidade escolar e da população em geral.
Reforçamos que a escola é um ambiente democrático, pautado pelo exercício pleno do respeito e da cidadania, sem tolerância para atos e discursos que estimulem e promovam a violência.
Atualizada às 11h59 do dia 12 de abril de 2023