Caso de petiscos

Anvisa reconhece risco de intoxicação de alimento humano por monoetilenoglicol

Empresas que identificarem o uso dos dois lotes contaminados devem, de imediato, adotar medidas, conforme orientou a agência

Por Vitor Fórneas
Publicado em 13 de setembro de 2022 | 20:31
 
 
 
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A  Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que a substância que supostamente causou a intoxicação e morte de ao menos 54 cães pode ter sido distribuída para indústrias de alimentos para consumo humano. O órgão publicou uma resolução, nessa segunda-feira (12), que proíbe a comercialização, distribuição, manipulação e uso de dois lotes de propilenoglicol, da TecnoClean Industrial Ltda.

A resolução também determinou o recolhimento dos lotes  (AD5035C22 e AD4055C21) da substância. A TecnoClean informou, anteriormente, que é uma redistribuidora e que adiquiriu os lotes da A&D. As duas empresas não responderam à reportagem.

Os lotes foram analisados preliminarmente pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que detectou a contaminação por etilenoglicol, substância extremamente tóxica, quando ingerida, semelhante àquela encontrada na cerveja Belorizontina, da Backer. Na época, a intoxicação matou 10 pessoas.

Durante a apuração de mortes de diversos cães, conduzida pelo Mapa, as ocorrências foram associadas ao consumo de petisco para cães fabricado com propilenoglicol, com evidências de contaminação por etilenoglicol, segundo a Anvisa.

Alimento para pessoas 

No decorrer da apuração, ao identificar a possibilidade de distribuição da substância contaminada para fábricas de alimentos de uso humano, o Mapa compartilhou as informações para que a Anvisa pudesse adotar ações relacionadas aos produtos sujeitos à vigilância sanitária.

O propilenoglicol é um aditivo alimentar permitido para alimentos de consumo humano. A Anvisa decidiu publicar uma medida preventiva, proibindo a utilização e determinando o recolhimento dos dois lotes do produto contaminado com etilenoglicol, para evitar que os produtos sejam utilizados na fabricação de alimentos.

O que é? 

O etilenoglicol é um solvente orgânico altamente tóxico que causa insuficiência renal e hepática, podendo inclusive levar à morte, quando ingerido.

O que fazer? 

Empresas que tenham adquirido os lotes de propilenoglicol da TecnoClean (lotes AD5035C22 e AD4055C21) não devem utilizá-los, em nenhuma hipótese, nem os comercializar. A orientação é entrar em contato com a própria TecnoClean, para a devolução dos produtos.

Adicionalmente, caso identifiquem que o uso dos lotes contaminados tenha ocorrido, as empresas devem de imediato adotar medidas, incluindo a investigação imediata de potencial contaminação e todas as outras ações necessárias para evitar o consumo do produto.

Indústria alimentícia 

Em 8 de setembro, O TEMPO entrevistou especialistas que alertaram que o propilenoglicol é uma substância muito usada pela indústria alimentícia e que possivelmente poderia acontecer o recolhimento de produtos usados na dieta cotidiana humana.

Professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec BH), Paulo Henrique Tavares afirmou que o propilenoglicol é amplamente usado na alimentação humana. Segundo ele, a intenção é deixar as comidas “mais fresquinhas”.

“Ele evita que o alimento perca água ou a umidade que tem naturalmente. Um exemplo disso é o coco ralado. Quando se abre e usa metade do saquinho, o propilenoglicol ajuda a mantê-lo fresquinho por mais tempo. Outros produtos que também o utilizam muito são o panetone, massa para bolo e sucos com corantes”, diz ele.

O professor Ildefonso Binatti, do Departamento de Química do Cefet-MG, diz que “o propilenoglicol é usado na indústria de alimentos, mas para isso tem uma condição. A substância precisa ter elevado grau de pureza. O composto tem várias funções. Ele é anticongelante, que pode ser usado em bebidas e na panificação”.  No caso das bebidas, o propilenoglicol pode ser usado, por exemplo, “para manter a cerveja bem gelada sem congelar”. 

Sobre o risco de contaminação do propilenoglicol com monoetilenoglicol, o especialista diz que “são substâncias que partem de matérias-primas distintas, então não há como haver essa contaminação”, afirma. Com isso, a contaminação pode ter ocorrido após falha durante o processo de produção. 

Paulo Henrique Tavares explicou que não é de praxe que as empresas que compram matérias-primas as testem ou façam algum teste no produto final antes de comercializá-lo. Ele citou como exemplo as padarias. “Uma padaria, por exemplo, compra farinha, açúcar, entre outros ingredientes para fazer pães, bolos. Imagina se tivesse que testar todas essas matérias-primas”, destacou.

Com Juliana Siqueira, Gabriel Rezende e Anvisa

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