Pandemia

Após completar 20 anos, Matriz pode fechar as portas em Belo Horizonte

Proprietários promovem uma vaquinha para tentar manter o local em funcionamento e, em 12 horas, conseguiram mais de R$ 10 mil em doações

Por Lucas Negrisoli
Publicado em 10 de julho de 2020 | 16:59
 
 
 
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A paisagem sonora de Belo Horizonte não seria a mesma sem a Matriz Casa Cultural. O espaço, que completou 20 anos em maio de  2020 desde a inauguração na virada do século, funciona no Centro da capital como um altar hierático para jovens músicos e artistas da cidade.

Contudo, fechado há 116 dias, desde o último 16 de março - dois dias antes de o decreto do prefeito Alexandre Kalil começar a valer - a casa sofre com falta de verba e os donos mal conseguem pagar os custos básicos de manutenção do local. 

Casados, Edmundo Correa e Andrea Alves, que são sócios e proprietários do espaço, fazem parte da cena cultural da cidade há décadas. Correa, inclusive, conta que, neste ano, completa mais de 40 anos trabalhando com arte em Belo Horizonte.

Depois de diversas alçadas no universo de cultura, ele e a mulher abriram a Matriz no subsolo do Edifício JK com um objetivo certeiro: ser a “mãe” da música autoral belohorizontina. Posto que é chama, nada é imortal: “no início pensamos que não iríamos conseguir, mesmo. Achávamos que a Matriz não iria voltar após o fim da pandemia”, relata Correa.

Contudo, uma campanha de financiamento coletivo lançada na noite dessa quinta-feira (9) trouxe esperança para a casa de show. Em pouco menos de 12 horas, mais de R$ 10 mil foram arrecadados - o que representa um quarto da meta.

O dinheiro será usado, dentre outras coisas, para promover o evento de comemoração aos 20 anos da Matriz em Belo Horizonte, que aconteceria no início do ano e foi cancelado devido à quarentena na cidade. Agora, ele deve ser realizado em setembro, com transmissão on-line da programação. 

“Acho que conseguimos aguentar, ao menos, cinco meses se alcançarmos a meta de arrecadação. Agora, com esse dinheiro, acho que vamos conseguir manter a Matriz”, comemora o dono do local.

Correa afirma que ao menos 30 bandas participarão da festividade e que promoverá uma “Virada Cultural” de 36 horas de programação no evento. Em parceria, a Casa do Jornalista irá unir esforços. Por lá, haverá performance, poesia e artes visuais, enquanto a Matriz abrigará música e todo o legado histórico dos artistas que se formaram na casa. 

“A gente como quase todo mundo foi pego de surpresa. Estávamos com a agenda cheia até outubro, havia várias exposições, lançamento de CDs, tudo foi interrompido”, conta Correa. A situação financeira da Matriz foi piorando com o avanço da pandemia no Brasil e o fechamento da cidade.

Para tentar se manterem, ele e a esposa criaram um serviço de delivery de comida vegana, chamado “Casa Mãe”. “Estamos sobrevivendo, pagando nossas despesas pessoas, mas esse dinheiro não cobre 5% do que precisamos para manter a Matriz”, explica. 

O carinho pelo local - que formou grupos de amigos e, inclusive, foi palco para cinco casamentos de pessoas que se conheceram por lá - é o que sustenta a esperança de que a casa continue funcionando, apesar das dificuldades financeiras.

Pessoas de todo o Brasil contribuíram com a campanha de arrecadação, que está disponível neste link. “Acho que (esse carinho) vem da história e do respeito que as pessoas têm com a gente. Trabalhamos direto com o público desde sempre. O nome Matriz vem de ‘mãe’, e a ideia sempre foi essa: acolher todo mundo, da forma mais democrática possível”, conclui Correa.

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