Os cuidados para manter longe o coronavírus permanecem. Mas, graças à vacinação contra a Covid, muitos idosos já se sentiram mais seguros para retomar ao menos parte das atividades físicas, de lazer e de socialização, tão importantes para a manutenção da saúde de corpo e mente.

A melhor forma de conciliar isolamento e retomada não é consenso entre os especialistas. A presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – Regional Minas Gerais, Juliana Elias Duarte, explica que a entidade não tem uma orientação específica para a população idosa neste momento de ampla imunização da faixa etária. Mas ela recomenda aos seus pacientes uma postura de equilíbrio.

A médica lembra que, no início da pandemia, não havia muito conhecimento sobre o vírus e as ações foram 100% protetivas em relação aos grupos mais vulneráveis. Mas, após um ano e meio de isolamento e com mais informações sobre a transmissão do coronavírus, é possível ter um equilíbrio entre os cuidados e a socialização.

“Temos dados robustos, uma população com boa cobertura vacinal e um grande número de pessoas fragilizadas pelo isolamento social do ponto de vista físico e psíquico. Pessoas que postergaram rotinas de exames, início de tratamentos, atividades físicas”, afirma a geriatra, reforçando que os cuidados permanecem. “Se a pessoa for a um espaço aberto, usando máscara, mantendo o distanciamento, os riscos serão menores”.

Quase 40% dos idosos têm uma doença crônica, e 29,8% apresentam duas ou mais, como diabetes, hipertensão ou artrite, segundo o Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (Elsi-Brasil), realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Ou seja, 70% das pessoas com mais de 60 anos devem ter o cuidado com a saúde como prioridade de forma cotidiana.

Segundo a geriatra, a interação social é um dos elementos determinantes para o desenvolvimento cognitivo das pessoas com mais de 60 anos. “A cognição é determinada por diversos fatores, como humor, atividade física, controle de doenças e interação. Sem isso, as pessoas adoecem muito. Hoje muitos idosos estão com dificuldade em fazer atividades que antes pareciam mais simples para eles”, argumenta.

Sesc Minas retoma as atividades presenciais para o público 60+

No Sesc Minas, as atividades presenciais do programa +60 foram retomadas em três unidades de Belo Horizonte em agosto. Desde junho de 2020, as ações para os participantes vinham sendo realizadas de maneira virtual, mas agora puderam retornar ao espaço físico – com turmas reduzidas, uso de máscara, distanciamento, entre outros protocolos.

Para a professora aposentada Maria Luiza Brandi, 70, foi uma oportunidade de voltar a ter o dia movimentado. Ela está matriculada em seis atividades da programação do Sesc Santa Quitéria, como oficinas de vozes e ritmos, costura e artes. “Sou muito ativa. Durante a pandemia, tive que me reinventar, estava pintando um quadro por dia, fazendo crochê e bordados. Fazia todas as atividades virtuais do Sesc, mas ao vivo e a cores é muito melhor. Estamos nos prevenindo, sempre afastados e de máscara, mas ainda assim podemos voltar a nos relacionar”, relata.

Rafaella Max, analista técnica do Sesc em Minas, explica que, durante a pandemia, foi criada uma plataforma com atividades diárias de oficinas, atividades de memória, lives e playlists com trilhas musicais. Os próprios participantes podiam contribuir, enviando vídeos. “Construir essa comunidade virtual diminuiu o espaço da solidão”, diz.

Mas, conforme a vacinação foi avançando, os idosos pediam para que as atividades presenciais fossem retomadas. “Ficamos quase três meses estudando e planejando esse retorno. Todos os analistas das 15 unidades onde existe o programa se debruçaram sobre a regulamentação municipal, e cada unidade acabou voltando de uma forma diferente”, explica Rafaella, acrescentando que 2.000 idosos são atendidos pelas atividades, realizadas em 13 cidades.

Os idosos devem ter em mente que a volta não é somente para as atividades de lazer. A geriatra Juliana Elias Duarte afirma que este é um momento crucial para que todas as pessoas com mais de 60 anos procurem seus médicos de referência, façam check-up e, em alguns casos, verifiquem se é possível realizar uma cirurgia eletiva. “Tenho visto que muitos idosos estão mais deprimidos, mais ansiosos, com dificuldade maior em se socializar. Alguns tiveram piora na memória e cognição. Este é um momento em que temos de recuperar parte do que foi perdido”.

Missas e cultos também são momentos de interação social

A religião tem papel importante na vida de muitos idosos, não somente pelo exercício da fé, mas também pela socialização que uma igreja pode oferecer. Mesmo com distanciamento e uso de máscara obrigatório, poder voltar a estabelecer esse vínculo tem sido motivo de alegria para muitas pessoas.

Marília Zuppo, 78, é ministra da Eucaristia na igreja Santa Clara da Piedade, no bairro Caiçara. Ao longo da pandemia, ela acompanhou as missas pela internet, mas sentia falta de exercer seu papel na comunidade católica do bairro. Após as duas doses da vacina, ela voltou a frequentar as missas, mas ainda sem poder levar a hóstia aos acamados, como fazia antes.

“É muito bom sair de casa sem estar tão preocupada, como era antes. Ainda tomo todos os cuidados e não tiro a máscara, mas é muito bom estar presente na missa, fazer a leitura da Bíblia. Isso nos ajuda muito a não ficar para baixo”, relata Marília, acrescentando que perdeu um irmão e muitos amigos para a Covid.

Atualmente, a Arquidiocese de Belo Horizonte conta com site, aplicativo e redes sociais, para que a comunidade possa vivenciar as experiências religiosas a distância. Neste mês, também será lançada uma plataforma que promete oferecer orações e leituras bíblicas diárias.

Serviço: Interessados no programa do Sesc devem entrar em contato com as unidades que oferecem o serviço. A lista está neste link