Uma tempestade típica de verão na região metropolitana da capital voltou a evidenciar velhos problemas de infraestrutura e o drama dos alagamentos, inundações e deslizamentos de terra em Belo Horizonte. Até o fim da tarde desta quinta-feira (2), a Defesa Civil havia registrado 66 ocorrências relacionadas à chuva na capital. Entre a noite de quarta-feira (1°) e a madrugada de hoje, a cidade recebeu 100 mm de chuva em um intervalo de quatro horas, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e a Defesa Civil municipal.
E a previsão é que a chuva continue a atingir não só BH, mas todas as regiões de Minas pelo menos até o próximo domingo (5). Segundo meteorologistas do Inmet, há risco de encharcamento do solo, o que eleva a possibilidade de quedas de muros, deslizamentos de terra e erosões em todo o Estado.
Na capital, a ameaça de novos temporais põe em alerta moradores de ao menos 1.100 edificações construídas em áreas de risco geológico na capital. Segundo a prefeitura, os imóveis ficam em vilas e favelas e são monitorados pela Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel).
Diante do aumento da possibilidade de encharcamento do solo, a Defesa Civil emitiu alerta, orientando que a população fique atenta ao surgimento de fendas, depressões no terreno, rachaduras em paredes e surgimento de minas d’água. BH também tem 98 pontos com alto risco de alagamento, espalhados por todas as regiões da cidade, segundo a prefeitura.
Mortes em MG. Pelo menos onze pessoas morreram por causa das chuvas, desde outubro. Os óbitos foram registrados em oito cidades do Estado, segundo balanço divulgado ontem pela Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec).
Ano novo, velhos problemas. Mais uma vez, a região de Venda Nova foi uma das mais afetadas. Como tem ocorrido durante praticamente todos os temporais que atingem a área nos últimos anos, a avenida Vilarinho alagou, e amanheceu encoberta de lama. Algumas pessoas ficaram ilhadas, apesar de a Defesa Civil ter acionado o protocolo de interdição da via.
As estações de ônibus e do metrô Vilarinho também foram tomadas pela água e a circulação dos trens foi afetada por causa dos danos causados pela chuva forte. Duas composições foram atingidas e passageiros precisavam fazer baldeação para seguir viagem.
Outro local invadido pela água em Venda Nova foi a Escola Municipal Francisco Magalhães Gomes, onde vários equipamentos foram danificados pela lama. No meio da água suja e do barro, Carlos Roberto de Jesus, 57, dono de uma loja na avenida Vilarinho, decidiu que vai fechar o estabelecimento comercial depois de enfrentar mais uma inundação. “Perdi uns R$ 40 mil. Não posso ficar aqui”, lamentou.
Susto. Os transtornos provocados pelo temporal se espalharam por outras regiões. Na Pampulha, um trecho de aproximadamente 1 km da avenida Otacílio Negrão de Lima, foi fechado após alagamento. Já no bairro Jardim Montanhês, na região Noroeste, por pouco, o empresário Pedro Contrucci, 30, e outras três pessoas que estavam com ele não perderam a vida depois que o carro em que eles estavam foi atingido por um barranco, à margem do Anel Rodoviário.
O bloco de terra ficava nos fundos da Escola Estadual Professora Benvinda de Carvalho, que teve a quadra de esportes interditada. As vítimas que estavam no carro foram retiradas através da janela do automóvel. “Quando vi, já estava dentro do barro. A gente nunca espera que isso aconteça. Graças a Deus todo mundo saiu com vida, sem nenhum arranhão. O carro é bem material e isso aí é o de menos”, disse Contrucci, aliviado.
Obras são promessa antiga
Apresentadas como solução para resolver o problema das inundações na região de Venda Nova, as obras prometidas pela Prefeitura de BH não têm data certa para sair do papel.
Segundo a administração municipal, a previsão é que a licitação ocorra ainda neste ano. No entanto, não foi informado prazo para que as intervenções sejam finalizadas.
O projeto prevê novos reservatórios e ampliação da capacidades de outros quatro que já existem na região do Córrego Vilarinho.