O que você faria se ganhasse 103 horas a mais para desfrutar no decorrer de um ano? Usaria esse tempo extra (quatro dias e sete horas) para organizar a rotina e passar mais tempo com os filhos, por exemplo? Ou optaria por ler mais ou descansar? Pois, em Belo Horizonte, este foi o tempo que o motorista ficou preso em congestionamentos nos horários de pico no ano passado, aponta a pesquisa internacional “TomTom Traffic Index 2022”, que colocou a capital mineira em 39° lugar no ranking das cidades com o trânsito mais lento entre 390 de todo o mundo. 

O estudo mostra que em 2022 o motorista de BH dirigiu por 214 horas em horários de pico – 48% desse tempo (103 horas) parado em engarrafamentos. Sem conseguir tirar o pé do freio em quase metade do trajeto, o condutor belo-horizontino gastou a mais R$ 548 em gasolina por causa dos congestionamentos. 

A pesquisa – que analisa dados de 390 cidades, incluindo outras oito brasileiras – revela que o motorista da capital demora, em média, 22 minutos para percorrer um trajeto de 10 km. Para se ter uma ideia, em Den Bosh (Holanda), a cidade melhor posicionada no ranking, o condutor leva 8 minutos e 40 segundos para percorrer a mesma distância. Por outro lado, Londres tem o trânsito mais lento: são necessários 36 minutos e 20 segundos para cruzar 10 km.

Transtorno

Em alguns casos, porém, a “perda de tempo” no trânsito de BH é maior do que a apontada na pesquisa. É o que ocorre com o profissional de relações públicas Thales Cecilio, de 35 anos. Ele fica cerca de uma hora e meia no trânsito praticamente todo dia, entre a moradia, no bairro Ouro Preto, na Pampulha, e o bairro Cidade Jardim, na região Centro-Sul, onde trabalha. Isso sem contar o tempo de volante até o local onde cursa pós-graduação. 

"Fico bastante cansado, estressado e também ansioso. Muitas vezes, eu sinto que, no trânsito, estou perdendo tempo útil.", observa. “A estrutura viária de BH não acompanhou o crescimento da cidade, e, além disso, temos um transporte público precário, o que contribui ainda mais para um trânsito que beira o caos”, critica. 

Entenda a pesquisa

A “TomTom Traffic Index 2022” foi realizada pelo grupo TomTom, especializado em monitoramento do trânsito e softwares de navegação para veículos. Publicado no mês passado, o estudo já tinha sido feito em outros anos. No entanto, como a metodologia da análise de dados mudou, a comparação com outras edições ficou inviável.

O levantamento usou dados de GPS para mensurar o trânsito nas cidades. O estudo simula um motorista considerado “típico” que percorre 10 km por dia.

É preciso calma pra enfrentar o caos e o tempo de trânsito

“Gera estresse, ansiedade, é caótico (o trânsito), com pessoas querendo chegar ao destino. Exige atenção redobrada pra evitar acidentes, então procuro manter a calma”, relata o administrador Silas Rocha, de 50 anos, que em dias de semana dirige por até 1 hora e 30 minutos para percorrer os 17 km de casa, no bairro Planalto, na região da Pampulha, até o trabalho, na Vila Paris, na Centro-Sul. Ele gasta 5,2 minutos para vencer cada quilômetro, mais que o dobro da média em BH, de 2,2 minutos, segundo o estudo. 

“Mesmo sendo pesado, ainda sou privilegiado. De transporte público, eu gastaria muito mais tempo e precisaria de três conduções só para ir e mais três para voltar”, diz.